Publicado em 9 de outubro de 2019 às 18:00
Agência FolhaPress - Cinco civis e três combatentes morreram em ataques aéreos depois que a Turquia iniciou nesta quarta-feira (09) uma ofensiva contra a minoria curda no nordeste da Síria. A ação começou dois dias após o governo americano retirar os soldados da região.>
Depois do anúncio, o presidente Donald Trump recuou e disse que não estava abandonando o curdos. E agora, afirma em nota, que o ataque foi "uma má ideia" e que não tem apoio dos Estados Unidos.>
Segundo as SDF (Forças Democráticas Sírias, lideradas pelos curdos), há dezenas de civis feridos, e o clima é de "pânico generalizado".>
Representantes dos curdos relatam que 25 jatos bombardearam alvos militares e civis em cidades perto da fronteira, incluindo Qamishli, Ras al-Ayn e Tal Abyad, além de Ain Issa, que fica a 50 km da divisa.>
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Por volta das 22h30 locais (16h30 do Brasil), o Ministério da Defesa turco informou que as tropas terrestres também começaram a entrar no território do país vizinho. Especialistas temem que a ação cause uma crise humanitária, já que milhares de pessoas fugiram das cidades próximas à fronteira.>
O início dos ataques foi anunciado pelo presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que afirmou que o objetivo da ação é acabar com o que ele chamou de um "corredor do terror" na fronteira. A operação foi batizada de Fonte da Paz.>
Historicamente, a Turquia afirma que a região, ao sul do território, cria um espaço para a ação de grupos terroristas. Erdogan ameaçava havia meses invadir a região, onde vivem os curdos, mas os Estados Unidos eram contra.>
No domingo (06), o presidente turco conversou por telefone com Donald Trump e pediu que Washington não interferisse na ação. Na segunda-feira (07), Trump anunciou que as tropas americanas não iriam se envolver, abrindo espaço para a invasão. A decisão foi considerada uma traição aos curdos, aliados de Washington na guerra civil que assola a Síria desde 2011.>
Ainda na campanha presidencial, em 2018, Trump prometeu retirar os EUA de "guerras sem fim" no exterior. Mas esse abandono dos curdos gera temores de que Washington faça o mesmo com outros aliados militares no exterior.>
O conflito opõe as forças leais ao ditador Bashar al-Assad ao Estado Islâmico, aos curdos e a outros grupos rebeldes (que se dividem em diferentes facções, incluindo islâmicos e movimentos pró-democracia).>
Em uma rede social, o presidente turco afirmou também que a operação está sendo feita de maneira conjunta com o grupo rebelde Exército Livre da Síria e que os alvos são o PKK (uma organização política curda que Ancara classifica como terrorista), a YPG (a milícia curda na Síria) e o Estado Islâmico (adversário da Turquia e dos curdos).>
Erdogan diz que pretende criar uma zona de segurança no norte da Síria e alojar ali os milhões de refugiados sírios que fugiram do país durante a guerra civil e atualmente vivem em campos em território turco, perto da fronteira.>
O Exército Livre da Síria, aliado da Turquia, convocou seus membros a lutar com violência contra os curdos. "Ataque-os com um punho de aço. Faça eles sentirem o gosto do inferno de suas armas", disse um comunicado do grupo. O material também pedia que civis e desertores fossem poupados.>
A SDF pediu que a comunidade internacional feche o espaço aéreo da Síria para impedir o bombardeio turco. O comando do grupo afirmou que a região "está à beira de uma catástrofe humanitária".>
Os curdos são uma minoria étnica que soma entre 30 milhões e 40 milhões de pessoas, espalhadas por Turquia, Síria, Irã e Iraque.>
Há décadas eles lutam para criar um Estado próprio, o que os coloca em rota de colisão com Ancara, que classifica os grupos separatistas de terroristas. Os curdos na Turquia dizem que buscam autonomia, mas não necessariamente a independência.>
Na Síria, porém, os curdos são aliados dos americanos na luta contra o Estado Islâmico e o ditador Assad, que também é adversário de Ancara, mas que conta com apoio de Rússia e Irã.>
Os curdos são aliados americanos desde a invasão do Iraque para derrubar o regime de Saddam Hussein, em 2003. E desde 2011 eles recebem apoio dos EUA para combater o Estado Islâmico, que perdeu as regiões que controlava na Síria e no Iraque.>
Outra questão sensível nesse embate é que os curdos mantêm presos na Síria cerca de 60 mil ex-combatentes do Estado Islâmico que foram capturados, além de seus familiares.>
Washington espera que a Turquia assuma o controle sobre eles, mas há temores de que escapem, o que favoreceria o ressurgimento do grupo terrorista. Há ainda o risco de um massacre, caso esses prisioneiros sejam capturados pelas forças leais a Assad.>
A Rússia, principal aliada de Assad, adota um tom cauteloso e pediu um diálogo entre Damasco e os curdos para resolver a situação.>
Já o Irã, que também dá apoio ao ditador, pediu que a Turquia evitasse ações militares na região, apesar de afirmar que Ancara tem o direito de estar preocupada com a situação em sua fronteira.>
O Reino Unido e a França criticaram a operação e disseram que irão convocar uma reunião do Conselho de Segurança da ONU para tratar do tema, provavelmente nesta quinta (10).>
A União Europeia pediu que a Turquia pare a ação militar e questionou a criação da zona de segurança para os refugiados. "Se o plano envolve a criação dessa autonomeada zona de segurança, não espere que a UE pagará por isso", disse Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia.>
A Alemanha também pediu o fim da ação e disse temer que ela possa fortalecer o Estado Islâmico. A operação também foi criticada por Itália e Dinamarca.>
Nos EUA, o senador republicano Lindsey Graham, aliado de Trump, criticou o presidente pela decisão sobre os curdos. "O gesto do presidente vai completamente contra os conselhos de todo mundo. Ele terá 100% de crédito se ele sabe de algo que o resto de nós não sabe. E terá 100% da culpa", disse ele.>
O senador também defendeu que os EUA apliquem duras sanções à Turquia. Segundo ele, há maioria no Congresso para barrar vetos de Trump sobre essa questão.>
Segundo a rede de TV CNN, o embaixador americano em Ancara foi convocado pelo governo turco para receber informações sobre a ação.>
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