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Antes de encontrar Bolsonaro, líder da Guiné-Bissau negou extraditar militar acusado de narcoterrorismo

Antes de encontrar Bolsonaro, líder da Guiné-Bissau negou extraditar militar acusado de narcoterrorismo

Embaló afirmou, em fala transmitida por uma TV local, que seu governo não pretende entregar Indjai aos americanos

Publicado em 24 de agosto de 2021 às 15:37

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Presidente Jair Bolsonaro
Presidente Jair Bolsonaro. (Jair Bolsonaro)

Antes de embarcar ao Brasil para um encontro com Jair Bolsonaro, o presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, negou a extradição de um militar de seu país acusado pelos EUA de narcoterrorismo.

Na semana passada, o Departamento de Estado dos EUA anunciou recompensa de US$ 5 milhões por informação que "leve à prisão e condenação de António Indjai", ex-chefe das Forças Armadas guineenses.

De acordo com o órgão responsável pela diplomacia americana, em nota, Indjai "liderou uma organização criminosa que teve papel de destaque no tráfico de drogas na Guiné-Bissau e na região por muitos anos, mesmo enquanto serviu como chefe das Forças Armadas". A Casa Branca diz, ainda, que o ex-chefe militar usava "recursos ilegais para corromper e desestabilizar outros governos estrangeiros".

Na segunda-feira (23), antes de sair de sair da capital Bissau em voo da FAB (Força Aérea Brasileira) para o Brasil, Embaló afirmou, em fala transmitida por uma TV local, que seu governo não pretende entregar Indjai aos americanos e que eventuais crimes devem ser analisados pela Justiça do país africano.

"Se António [Indjai] fez o que disseram que fez, se o provarem, podemos julgá-lo aqui. Ele é livre para se movimentar em todo o território nacional. O que os americanos disseram tem validade na América, mas não aqui", disse o líder africano, segundo a Deutsche Welle, empresa pública alemã de comunicação. "E não é só António Indjai. Nenhum cidadão será capturado aqui para ser julgado noutro país."

De acordo com o anúncio de recompensa do Departamento de Estado dos EUA, Indjai é alvo de duas acusações formais na Justiça americana. Em uma delas, agentes disfarçados da DEA (Drug Enforcement Administration, a agência norte-americana antidrogas) atuaram como representantes das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e iniciaram negociações com Indjai e auxiliares na Guiné-Bissau.

"Entre junho e novembro de 2012, Indjai concordou em receber e armazenar toneladas de cocaína supostamente de propriedade das Farc, quantidade que ele entendia que seria vendida para o benefício das Farc. Indjai e outros conspiradores concordaram em comprar armas, inclusive mísseis antiaéreos, para as Farc, usando para tanto recursos da venda de drogas e estabelecendo uma empresa de fachada na Guiné-Bissau para completar a transação ilícita de armas", afirmam as autoridades americanas.

O militar foi acusado nos EUA de conspiração para o narcoterrorismo; conspiração para importação de cocaína; conspiração para fornecer apoio material a organização terrorista estrangeira; e conspiração para compra de mísseis antiaéreos. No aeroporto na Guiné, Embaló afirmou ainda, segundo a agência Lusa, que os EUA "não têm o direito de colocar a cabeça de Indjai a prêmio porque ele não é terrorista".

O presidente africano deve permanecer uma semana no Brasil. Nesta terça (24), encontrou-se com Bolsonaro -de quem é admirador declarado- e participou de almoço no Itamaraty. Ele tenta também ser recebido pelos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).

Devido à admiração pelo presidente brasileiro, Embaló, que também é militar, foi apelidado de "Bolsonaro da África". O próprio Bolsonaro usou o apelido para anunciar a visita oficial de Embaló, em conversa com apoiadores no mês passado. Na ocasião, ele não se lembrou do nome do convidado nem de seu país.

Na Guiné-Bissau, Embaló, 48, é criticado devido à indicação de militares para postos-chave da estrutura do Estado, em detrimento de servidores civis, e por apoiar a repressão policial contra uma greve de professores e profissionais de saúde. O africano também defende uma reforma da Constituição do país, o que, segundo opositores, tem como objetivo a concentração de poderes nas mãos do presidente.

O autoritarismo do líder guineense faz com ele seja acusado de tentar implementar uma ditadura.

Embaló também deve passar por São Paulo e pelo Rio de Janeiro. Na capital paulista, ele tem encontro programado com o governador João Doria (PSDB) e uma visita ao Museu da Língua Portuguesa. No Rio, deve realizar reuniões com altos funcionários da Marinha.

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