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Mangue de lixo: ES terá ações para recuperar áreas e evitar poluição

Mangue de lixo: ES terá ações para recuperar áreas e evitar poluição

Anúncio foi feito após publicação de reportagem de A Gazeta que denunciou abandono de manguezal no Parque da Manteigueira, em Vila Velha, tomado pelo lixo na mata e no mar

Publicado em 17 de novembro de 2023 às 12:20

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Especial Mangue - Lixo em manguezal do Parque da Manteigueira em Vila Velha
Lixo em manguezal do Parque da Manteigueira em Vila Velha . (Fernando Madeira )

Investimentos de R$ 3 milhões vão ser utilizados a partir do próximo ano para a recuperação dos manguezais capixabas. E ainda este ano será lançado um programa de logística reversa, para estimular a reciclagem. As duas ações foram anunciadas pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Seama) após reportagem de A Gazeta denunciar a situação de abandono do manguezal do Parque da Manteigueira, em Vila Velha.

O anúncio foi feito pelo titular da pasta, Felipe Rigoni, em suas redes sociais, onde compartilha imagens da reportagem. "No início do ano que vem vamos lançar um edital de R$ 3 milhões para ONGs, empresas e organizações fazerem a restauração de mangues, para limpar e restaurar os mangues capixabas, porque eles recebem algo muito deletério, que é o lixo que vocês viram no vídeo, e prestam serviço ambiental muito importante, por isto nós vamos protegê-los”, informou.

Em paralelo, informou Rigoni, a secretaria pretende lançar ainda este ano o programa de logística reversa. "É um programa que vai estimular e muito a reciclagem de materiais em todo o Estado, o que vai diminuir a quantidade de lixo que chega aos mangues", explicou.

O secretário destacou ainda, em seu post, que os manguezais capixabas vivenciam uma realidade complicada. "De fato é uma situação séria que tem acontecido com os mangues capixabas. Temos no Espírito Santo o maior mangue urbano da América Latina, que fica em Vitória, e ele presta um serviço ambiental importante, tanto para a cidade quanto para o mar, e por isso precisamos protegê-lo”, assinalou.

Como será o processo

O secretário informou que até o final deste ano será lançado o decreto com a regulamentação que vai permitir viabilizar a chamada logística reversa. De acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, “trata-se de um instrumento de desenvolvimento econômico e social, caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, onde podem ser reaproveitados em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos”.

As medidas a serem adotadas, acrescenta Rigoni, também vão contemplar o segmento de embalagens. A aposta, segundo ele, é na geração dos Créditos de Logística Reversa e que eles vão ajudar a alavancar o mercado de reciclagem.

Os créditos são certificados que comprovam um serviço de logística reversa e a destinação adequada de uma certa quantidade de resíduos. Podem ser emitidos e vendidos por cooperativas de catadores e comprados por empresas.

Em paralelo, explica o secretário, haverá ainda no primeiro semestre de 2024, o lançamento de edital de R$ 12 milhões para investimentos em diversas ações ambientais, dos quais R$ 3 milhões serão destinados à recuperação dos mangues. “Empresas e associações vão poder inscrever seus projetos para fazer a ações de recuperação deste bioma”, explica.

Cenário de destruição

Reportagem de A Gazeta publicada no último dia 9 revela a situação do manguezal do Parque Municipal da Manteigueira, em Vila Velha. A área está tomada pelo lixo. São garrafas pets, brinquedos, sacolas plásticas, restos de equipamentos eletrônicos, entre outros objetos.

São restos do consumo humano que viajam pelos canais e rio, sendo arrastados pela força das marés e que vêm se acumulando nas raízes da vegetação. “Eu fiquei abismado com a quantidade de lixo que vi ali”, relata o biólogo Marco Bravo.

Ele avalia que a camada de lixo enterrada no local, sob a lama do manguezal, é expressiva. “Provavelmente, há uma grande camada ali de mais de metro de lixo enterrado.”

Lixo em manguezal do Parque da Manteigueira em Vila Velha(Fernando Madeira)

Lançado às margens dos canais em Vila Velha, como é o caso do Canal de Aribiri — como é conhecido o Rio Aribiri —, o lixo é levado para o mar nos momentos de elevação da maré ou de chuvas fortes. No caminho, ele encontra o manguezal do Parque Municipal da Manteigueira. E quando as águas baixam, com a redução da maré, o lixo fica por lá. Ao longo do tempo, vão sendo formadas camadas sucessivas de resíduos.

O lixo acumulado na área vai se decompondo e contaminando, com metais pesados e corantes, o solo e a água, matando as árvores e a fauna, pondera o biólogo. Ao ver as imagens, ele observa que uma das características do manguezal é ter uma vegetação densa, fechada e entrelaçada.

"O solo é lodoso, e uma árvore ajuda a proteger a outra contra o vento e, de certa forma, contra o solo, que é instável. Mas o que se vê ali são clareiras abertas, grande espaçamento entre a vegetação, o que indica que morreram muitas árvores do manguezal”, explica o biólogo.

Outra afetada pela poluição é a fauna, com os animais morrendo, não só pela contaminação, mas pela falta de oxigenação e de alimentos. "Praticamente não tem mais fauna ali. Os caranguejos acabam morrendo contaminados pelo lixo, os peixes acabam consumindo os fragmentos de plástico", observa Bravo.

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