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Como a garrafa pet vai reduzir poluição industrial em Vitória

Como a garrafa pet vai reduzir poluição industrial em Vitória

Resina feita a partir da transformação de pets é fruto de pesquisa da Ufes em parceria com a Vale; iniciativa tem potencial de retirar 1 milhão de garrafas do meio ambiente por mês

Publicado em 30 de outubro de 2023 às 16:45

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Supressor de poeira da Vale será feito de garrafa pet
Supressor de poeira da Vale será feito de garrafa pet. (Vale/Divulgação)

Resíduos plásticos, como as garrafas pet, estão entre as principais fontes de poluição dos oceanos. No Brasil, só no ano passado, um estudo apontou que cada pessoa gerou 64 quilos de resíduos plásticos por ano, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais.

E, para reduzir o descarte de lixo no meio ambiente, e também contribuir para a redução da emissão de poluição industrial em Vitória, a Vale desenvolveu, em parceria com a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), um produto feito de garrafa pet para ser usado como supressor de poeira, que vai substituir o produto usado hoje, feito à base de celulose ou glicerina.

A produção do supressor a partir da reciclagem do plástico é inédita e patenteada pela Vale e pela Ufes. Desde 2013 a universidade e a empresa realizaram testes e validações técnicas, em escalas de laboratório, e piloto que atestaram a eficiência do produto.

Para fazer o novo produto, o plástico passa por um processo de reciclagem química que o transforma em resina, para ser aplicada em pilhas de minério de ferro e carvão, formando uma película protetora que evita a emissão de poeira e o efeito dos ventos.

O produto também é aplicado sobre a pilha de minério que sai das minas e, no caminho da Estrada de Ferro Vitória a Minas, recebe uma nova recarga, em Resplendor (MG), explicou o diretor de pelotização da Vale, Rodrigo Ruggiero. 

A tecnologia tem a capacidade de retirar do meio ambiente mais de 1 milhão de garrafas pet para a produção do supressor sustentável, que deve chegar a 400 mil litros por mês do produto em 2024. O número de garrafas tiradas do meio ambiente pode chegar a 2 milhões por mês até 2026, com a expansão do uso do supressor para outras operações da empresa, o que vai demandar 780 mil litros do produto.

O novo produto será usado em escala industrial a partir de novembro e é fruto de 10 anos de pesquisa da Vale juntamente com a Ufes. Até a aplicação nas pilhas de minério e carvão, o produto foi testado em uma usina piloto dentro da universidade. Inicialmente, o supressor sustentável será fornecido pela empresa paulista ICX. A primeira remessa já chega na semana que vem à planta de Tubarão. 

Uma nova fábrica está sendo construída em Cariacica, com investimento de R$ 30 milhões, para transformar garrafa pet no supressor e atender à demanda das operações da Vale, em Tubarão, e também ao longo da ferrovia e nas operações em Minas Gerais. A previsão é que ela comece a funcionar em março e, a partir daí, será a única responsável por processar as garrafas pet até o produto final.

"O grande diferencial desse produto é resolver um problema ambiental e gerar renda. A beleza desse projeto é a economia circular. Resolve um problema que temos, que é a garrafa pet, transformando isso num supressor biodegradável e utilizando ele para evitar poeira", destacou Rodrigo Ruggiero.

O reitor da Ufes, Paulo Vargas, destacou que com o produto a universidade conquistou a primeira patente verde. "É uma solução importante para a empresa, que pode também ser exportada, e outras empresas que trabalham no mesmo setor. A conquista da patente verde tem um significado muito importante e é fruto deste trabalho que a universidade vem fazendo de buscar essa aproximação com o setor produtivo para estabelecer essas parcerias e colocar os talentos, a criatividade e capacidade de inovação dos nossos pesquisadores para gerar soluções importantes que tenham impacto social efetivo na produção e no meio ambiente", frisou.

O caminho do plástico

Como é a transformação da garrafa pet em supressor de poeira. (Leticia Orlandi)

  1. Garrafas pet (produto pode ser feito com outros materiais que normalmente são descartados como pet de bandejas e garrafas coloridas, incluindo as pretas de energético)
  2. O pet é triturado, formando-se pequenos flocos
  3. Em seguida, o pet é micronizado
  4. Depois disso, passa por reação química
  5. Então, se transforma em resina, virando supressor concentrado (material que forma a película que evita emissão de poeira)
  6. O supressor é diluído e pode ter uso industrial

Supressor de poeira da Vale será feito de garrafa pet
Supressor de poeira da Vale será feito de garrafa pet. (Vale/Divulgação)

Contribuição na renda

Além de ajudar a resolver um problema ambiental, o novo produto tem a capacidade de gerar renda para catadores de recicláveis do Espírito Santo. Cerca de 60% do plástico utilizado para fazer o supressor sustentável será fornecido pelas associações de catadores de material reciclável da Grande Vitória.

Para fortalecer as associações, a fim de garantir o fornecimento do pet a ser usado no novo produto, a mineradora desenvolveu um projeto nos últimos três anos em 12 associações de seis municípios para melhorar a estrutura física, a gestão e a comercialização do material, além de incentivar a coleta seletiva em condomínios e empresas, num total de 156 pontos. O investimento em equipamentos, obras e capacitações chegou a R$ 1,7 milhão.

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O projeto resultou num aumento de renda dos catadores em cerca de 45%, chegando à média de R$ 1.338, por pessoa. 

O supressor sustentável utiliza, além das garrafas pet, outros materiais considerados de baixa reciclabilidade que antes eram destinados ao aterro por não serem aproveitados para a indústria. O novo produto consegue utilizar o plástico pet usado em bandejas (de bolo, ovo ou uva) e garrafas de todas as cores, como as pretas de bebidas energéticas.

Para o presidente da Rede de Economia Solidária dos Catadores Unidos do Espírito Santo (Reunes), Lucio Heleno dos Santos, o contrato assinado vai aumentar a renda dos catadores e também ajuda a estruturar a rede que faz a logística da venda desses materiais, podendo ser estendido a outras indústrias.

Para ajudar nesse processo, as pessoas também precisam se comprometer com a seleção dos resíduos. "Precisamos do apoio da população para que o resíduo chegue de forma correta para a gente, sem estar contaminado e que não gere muito trabalho na hora de fazer a separação", lembrou.

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