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Treinando em espaço improvisado, capixaba mira o Mundial no arremesso de peso

Treinando em espaço improvisado, capixaba mira o Mundial no arremesso de peso

Edimara Alves, 16 anos, brilha na categoria, mas precisa enfrenta dificuldades por conta da falta de incentivo ao esporte. Ela treina num espaço improvisado numa praça, em Itaúnas

Vitor Antunes

Reporter / [email protected]

Publicado em 31 de maio de 2024 às 11:24

Edimara Alves é uma revelação do arremesso de peso
Edimara Alves é uma revelação do arremesso de peso Crédito: Arquivo Pessoal

Por quantos desafios uma atleta precisa passar para poder brilhar num esporte que não costuma ser visto com a generosidade que merece? Edimara Alves, 16 anos, moradora de Itaúnas, distrito de Conceição da Barra, sabe que o peso que arremessa e que gradativamente a leva para resultados muito satisfatórios nos campeonatos, se opõe a outros pesos também importantes: a falta de iniciativas públicas, de espaço adequado, de verbas diárias. Com esta idade, Edimara marcou um índice indicado para duas categorias acima da sua, a Sub-20. Segundo seu treinador, Gabriel Gagliardi, o índice da categoriaera 14,50 e Edimara fez 14,68. O que a deixa com a possibilidade de atingir a marca definitiva para se credenciar ao mundial de arremesso de peso. O resultado sai dia 04/08. Se mantiver o bom rendimento, ela segue na disputa. Gabriel ressalta. "Ainda que tenha corrigido algumas coisas pontuais nos treinamentos, não é fácil. Existe a possibilidade de algumas pessoas se classificarem. Porém a marca mínima ela já tem e é uma das poucas a ter"

Edimara e Gabriel também precisam enfrentar a dificuldade da falta de incentivo. Ele coordena o Projeto Atletismo Itaúnas, de maneira improvisada, dentro do que é possível. "Pelo projeto, eu recebo um total de zero reais. Inclusive, invisto dinheiro do próprio bolso. Os próprios meninos do projeto ajudaram nas obras no espaço. Recentemente foi doado a nós, madeiras e carrinhos de areia para fazer a pista de salto em distância". O transporte dos velocistas também é difícil, segundo Gagliardi relata. "A prefeitura dá o transporte até Vitória, mas não é sempre. Ou sai por nossa conta ou da SESPORT".

Gabriel é professor de Eduação Física e dá aulas num assentamento sem-terra entre as segundas e quartas. Apenas às quintas e sextas ele treina com Edimara. Entre as segundas e quartas, ela treina sozinha. Aos sábados, quando pode, tem professor. "Ele não tem como ficar direto treinando a mim por ter que trabalhar na escola. Quando ele não está, eu treino só", diz a atleta. Gagliardi começou dando aula em Itaúnas para quem se interessasse pelo esporte. Em 2015 participou pela primeira vez num campeonato regional e teve resultados muito positivos, com um dos seus atletas sendo campeão regional e outro brasileiro. Já teve alguns atletas convocados para a Sul-Americana de Atletismo, como o Angelo Miguel.

A entrada de Edimara no arremesso de peso deveu-se em muito ao olhar visionário de Gabriel. "Edimara sempre foi forte e vi nela um potencial. Além de tudo, ela é muito dedicada. Pode haver a minha contribuição em seu rendimento, mas há muito dela. Tenho que brigar com ela para ela não treinar excessivamente, para estar inteira, para evitar lesão". E a admiração que é mútua. Ela diz que "Ele é como se fosse meu pai, ele me impulsionou e me chamou. No começo foi bem difícil, mas fui me interessando pelo esporte. Quando competi pela primeira vez, fiquei em sexto lugar e fui me dando conta de que era isso o que eu gostava". Além dos treinos regulares, Edimara faz musculação, treinos funcionais, pilates e o arremesso.

Edimara Alves tem grandes chances de se credenciar ao Mundial
Edimara Alves tem grandes chances de se credenciar ao Mundial Crédito: Arquivo Pessoal

Desafios

Gabriel afirma que a manter o projeto ativo não é as tarefas mais fáceis. "Já houve ocasiões em que a gente conseguiu projetos e incentivos. Inscrevemos o projeto num edital para conseguirmos comprar material. Quando podemos, recebemos um peso, um disco, tudo por doação. Para as competições a prefeitura costuma nos ajudar com os transportes, já que elas acontecem em Vitória e na Serra, mas nem sempre é possível"

Espaço atual, improvisado, onde Edimara treina, no norte capixaba
Espaço atual, improvisado, num trecho abandonado de uma pracinha, onde Edimara treina, no norte capixaba Crédito: Arquivo Pessoal

Os problemas não param por aí, mas também pela infra-estrutura. "Desde que comecei a treinar era difícil ter uma área exata. Meu pai me ajudava e eu treinava na calçada, na parte mais reta, e arremessava paro barro, do meio da praça. Fizemos eu e meu treinador um espaço para o treinamento e era bem desgastante. Hoje já está melhor que antes. Com a ajuda do meu pai a gente fez uma cabaninha para não colocar os equipamentos no sol. Agora estou treinando numa estrutura improvisada. [Por não ter lugar], as coisas que uso diariamente ficam guardadas na casa de um vizinho e busco quando vou treinar. A praça tem um trecho da quadra que não está sendo usada próximo ao campo de areia. Usaremos até quando a Prefeitura não usar do espaço. Se eles embarreirarem, teremos que sair de lá e eu terei de tirar tudo e voltar a treinar na praça".

Porém, ainda assim, a atleta sonha com voos mais altos. Ela tem grandes expectativa para 2028, ainda que tenha os pés no chão. "Tenho muita coisa para passar, para aprender ainda. É uma conquista que pode acontecer. Eu me preparo, treino, estudo até às 10 da noite, levo meu material nas viagens e nunca deixo de estudar". Inclusive, mesmo dedicando-se ao atletismo, ela não quer abandonar os estudos. "Quero fazer Faculdade de Nutrição na Universidade Federal de Minas Gerais". Ainda que o curso daquela Faculdade seja de excelência, a escolha não foi por esta razão, mas por outra: "A pista é mais bonita", finaliza.

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