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Dirigente do Flamengo tem fala racista sobre atletas africanos, diz especialista

Dirigente do Flamengo tem fala racista sobre atletas africanos, diz especialista

Diretor do Observatório de Discriminação Racial no Futebol condenou a frase de Alfredo Almeida, que associou jogadores da África a apenas valências físicas

Publicado em 15 de julho de 2025 às 17:07

Alfredo Almeida, diretor da base do Flamengo
Alfredo Almeida, diretor da base do Flamengo Crédito: Gilvan de Souza/Flamengo

Alfredo Almeida, novo diretor das categorias de base do Flamengo, concedeu uma coletiva de imprensa de apresentação na tarde desta segunda-feira (14), no sede do clube. Porém, o que deveria ser uma entrevista protocolar, deu lugar a uma fala polêmica e despertou a atenção negativa de especialistas nos estudos raciais.

Ao ser questionado sobre a tentativa de promover uma volta às origens na formação do jogador brasileiro, priorizando a criatividade sobre a parte física, o português respondeu:

"Aquilo que o atleta brasileiro tem, provavelmente não há em mais nenhuma parte do mundo. Tem a ver com o dom, a magia, a irreverência, a bola fazer parte do corpo, a relação com a bola. Isso não existe em quase parte nenhuma do mundo. Depois, existem outras zonas do globo onde há outras valências. Como, por exemplo, a África tem valências físicas como quase nenhuma parte do mundo. Se quisermos ir para a parte mental, temos que ir a outras zonas da Europa, do globo", disse Almeida.

Em reportagem do grupo ge.globo, foi procurado o diretor do Observatório de Discriminação Racial no Futebol, Marcelo Carvalho, que condenou a declaração do dirigente do Rubro-Negro.

"É algo que muito se reproduziu, mas não existe estudo sobre as características específicas para jogadores europeus e africanos. Essa fala reforça estereótipos que se tinham e ainda se têm da população negra. A frase reproduz uma ideia de eugenia. Que ao europeu cabe a inteligência. E a força, aos africanos. Por mais que a gente tenha jogadores cerebrais, lideranças negras no futebol, as pessoas no futebol continuam reproduzindo essas ideias racistas", afirmou o diretor.

Alfredo Almeida chegou ao Brasil em janeiro de 2025 como braço direito de José Boto, diretor do futebol profissional, e atuava especialmente junto à comissão técnica e às categorias de base. Mas, na última semana, com a demissão de Carlos Noval do comando das categorias de base do Flamengo, o português recebeu a responsabilidade de cuidar da formação dos jovens rubro-negros.

Pedido de desculpas de Almeida

A assessoria de imprensa do Flamengo enviou um pedido de desculpas de Alfredo Almeida. Leia na íntegra:

"Durante a entrevista coletiva de minha apresentação como diretor da base do Flamengo, fiz uma explanação mais ampla sobre os diferentes perfis de atletas ao redor do mundo e as valências que costumam ser observadas por clubes no processo de formação e recrutamento. Um trecho específico da minha fala, isolado do contexto geral, acabou gerando interpretações que em nada refletem meu pensamento. Por isso, peço desculpas se a forma como me expressei causou qualquer desconforto. Não houve, em momento algum, a menor intenção de soar discriminatório. Tenho total consciência de que há atletas com grande capacidade tática no futebol africano, assim como existem jogadores europeus com enorme talento criativo e brasileiros com impressionante força física. As características dos jogadores não se limitam à sua origem geográfica. Reforço meu respeito a todas as culturas, povos e escolas do futebol. Sigo comprometido com o trabalho de formação no Flamengo, pautado por valores como inclusão, diversidade, ética e desenvolvimento integral dos nossos atletas."

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