
Na primeira fase da reforma eleitoral, a comissão especial da Câmara dos Deputados definiu na noite desta segunda-feira (9) a criação do distritão e a volta das coligações proporcionais. O plenário agora decide qual dos dois modelos será adotado nas próximas eleições.
A proposta de emenda à Constituição (PEC) prevê a adoção do "distritão", para a eleição de vereadores e deputados estaduais e federais, ou o modelo proporcional, com a volta da possibilidade de partidos se coligarem entre si. Esta última foi abolida na minirreforma eleitoral de 2017.
A Gazeta procurou os dez parlamentares do Espírito Santo na Câmara dos Deputados para saber como eles se posicionam sobre a reforma eleitoral. Sete deles, os deputados Felipe Rigoni (PSB), Helder Salomão (PT), Josias da Vitória (Cidadania), Soraya Manato (PSL), Amaro Neto (Republicanos), Neucimar Fraga (PSD) e Ted Conti (PSB) se posicionaram.
Evair de Melo (PP), Lauriete Rodrigues (PSC) e Norma Ayub (DEM) foram questionados sobre o assunto, mas não deram retorno até a publicação da reportagem.
PUNIÇÕES PREVISTAS PARA QUEM COMETE CRIME
A PEC da reforma eleitoral, que será votada separadamente do texto sobre o voto impresso, ainda poderá mudar as punições para crimes eleitorais, ampliar os tipos de gastos com o fundo eleitoral e censurar a divulgação de pesquisas de intenção de votos.
Para entrar em vigor, o texto precisa da aprovação na Câmara e no Senado, com o voto favorável de três quintos dos deputados (308 votos) e dos senadores (49). A proposta precisa passar em dois turnos em cada casa.
O que pensam os deputados do ES sobre o distritão
COMO SÃO AS PROPOSTAS PARA ELEIÇÃO NO LEGISLATIVO
Atualmente, os vereadores, deputados estaduais e deputados federais são eleitos por voto proporcional, em que a escolha é feita a partir do quociente eleitoral, que é um número mínimo que cada partido precisa atingir para ter direito a uma vaga. A partir desta divisão entre os partidos, são eleitos os candidatos mais votados de cada sigla.
A nova proposta é que sejam definidos distritos nos Estados e municípios, a critério do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em que os mais votados de cada distrito serão eleitos. Este sistema favorece candidatos já conhecidos pelo público, como jogadores de futebol, artistas e youtubers, e enfraquece os partidos. O modelo chamado de "distrital puro" é utilizado em quatro países: Ilhas Pitcairn, Vanuatu, Jordânia e Afeganistão.
Já a alternativa proposta na segunda-feira é para a manutenção do sistema proporcional com o retorno das coligações entre os partidos. Desta forma, há a possibilidade de se articular as chapas de deputados ou vereadores com diversos partidos. Este era o modelo utilizado até as eleições de 2018. Desde a eleição de 2020, as coligações foram proibidas, de modo que as chapas são montadas apenas com candidatos do mesmo partido.
O fim das coligações era elogiado por especialistas, que acreditam que desta maneira os partidos saem fortalecidos e o debate político se torna mais "programático", favorecendo agremiações que fazem a discussão de projetos políticos e ideologias. A crítica é que as coligações entre diferentes partidos têm finalidade apenas eleitoral, sem uma identificação entre programas de duas ou mais siglas diferentes.
O QUE ESTÁ EM DISCUSSÃO
Além da adoção do modelo do distrital puro ou do retorno do sistema proporcional com coligações, o relatório aprovado na comissão especial também inclui:
- Cláusula de habilitação: que exige que os partidos atinjam ao menos 25% do quociente eleitoral para ter acesso às cadeiras do Legislativo.
- Voto preferencial: em que o eleitor escolhe até cinco candidatos, em ordem de preferência, para cargos do Executivo (prefeito, governador e presidente). Na apuração, serão contabilizadas as opções até que um candidato reúna a maioria dos votos.
- Projeto de iniciativa popular: o texto muda o número mínimo de assinaturas para a proposição de um projeto de iniciativa popular, de 1 milhão para 100 mil assinaturas.
- Votos em mulheres e negros aumentam recursos de fundos: a proposta é que votos para mulheres e negros contem em dobro na distribuição do Fundo Partidário e do Fundo Eleitoral.
- Plebiscitos locais: a reforma vai permitir que questões locais sejam colocadas em votação nas eleições municipais e gerais. Para isso, o tema deve ser aprovado nas câmaras municipais ou assembleias estaduais e enviados à Justiça Eleitoral até 90 dias antes do pleito.
O QUE DIZEM OS DEPUTADOS DO ES

FELIPE RIGONI
O deputado federal Felipe Rigoni (PSB) classificou a reforma eleitoral, de maneira geral, como um "desastre". Ele critica, principalmente, a adoção do modelo do distritão.
Felipe Rigoni
deputado
"O distritão é ridiculamente ruim, diminui a representatividade e muda o curso da campanha para favorecer quem já está no Poder. A reforma é um desastre para a democracia"

HELDER SALOMÃO (PT)
Helder Salomão afirmou ser contra o distritão, por acreditar que o modelo "vai fragilizar os partidos, favorecer os atuais mandatários e os candidatos endinheirados e celebridades".
Helder Salomão
deputado pelo PT
"A adoção do voto majoritário para o parlamento vai dificultar a renovação política e a eleição de representantes de segmentos minoritários da sociedade"

JOSIAS DA VITÓRIA (CIDADANIA)
Da Vitória é favorável à adoção do distritão, com a condição de que a fidelidade partidária seja mantida. " Sou a favor da manutenção do modelo proporcional atual com a volta da necessidade de ser atingido o quociente mínimo de voto para cada partido ou do Distritão garantido a fidelidade partidária", argumentou.

NEUCIMAR FRAGA (PSD)
O deputado federal Neucimar Fraga (PSD) disse que votará a favor da reforma eleitoral, com o modelo distritão apontado pela relatora da PEC, a deputada Renata Abreu (Podemos).

SORAYA MANATO (PSL)
A deputada Soraya Manato (PSL) defendeu o modelo do distritão entre os parlamentares eleitos no Estado que se posicionaram. Para ela, o modelo deve ser adotado, pois permite que "os candidatos mais votados pela população ganhem as eleições".

TED CONTI (PSB)
O deputado federal Ted Conti (PSB) também disse ser contra o distritão. Por nota, ele informou que é a favor que seja mantido o modelo atual, com eleição proporcional para vereadores e deputados e sem coligação de partidos.
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