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Pesquisa Ipec: Lula surfa na rejeição de Bolsonaro

Pesquisa Ipec: Lula surfa na rejeição de Bolsonaro

Ex-presidente aparece com 49% das intenções de voto e venceria no primeiro turno. Especialistas apontam Bolsonaro como principal responsável pela ascensão do petista, mas pontuam que cenário pode mudar até 2022

Publicado em 26 de junho de 2021 às 09:15

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Risco Bolsonaro e Efeito Lula: temor de polarização mantém mercado cauteloso
Ex-presidente Lula e presidente Jair Bolsonaro devem se enfrentar nas urnas em 2022. (Lula: Rafael Arbex/Estadão Conteúdo; Bolsonaro: Palácio do Planalto/Marcos Corrêa PR)
Autor - Iara Diniz
Iara Diniz
Repórter de Política / [email protected]

O resultado da pesquisa Ipec, divulgado nesta sexta-feira (25), que mostra o ex-presidente Lula (PT) vencendo no primeiro turno em 2022, com 49% das intenções de voto, reflete o desgaste vivido pelo atual governo. 

Muita coisa pode mudar até 2022, inclusive esses percentuais, mas hoje o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) amarga alto índice de desaprovação (66%), com ações investigadas pela CPI da Covid no Senado e críticas ao plano de imunização, que está atrasado em relação a outros países.

Na avaliação de especialistas consultados por A Gazeta, o atual chefe do Planalto é o principal responsável pela ascensão de Lula nas pesquisas. O petista é considerado inimigo número um do presidente e surfa na rejeição do governo.

A julgar pela pesquisa do Ipec, Lula é também o único capaz de tirar o poder de Bolsonaro, o que deixa o espaço para construção de uma terceira via cada vez mais inviável. Fora da polarização entre os dois candidatos, outros nomes, entre eles o de Ciro Gomes (PDT),  não alcançam nem 10% nas intenções de voto.

As perspectivas, contudo, podem mudar. Os números apresentados na pesquisa não captaram os efeitos das denúncias sobre corrupção no governo no contrato para a compra da vacina Covaxin, por exemplo, e não são capazes de prever o cenário nos próximos 16 meses.

Para especialistas, é possível uma queda na rejeição de Bolsonaro, que estará intrinsecamente associada à situação econômica e da pandemia no ano que vem.  

CRESCIMENTO DE LULA

Lula aparece nas pesquisas com 49% das intenções de voto, 11 pontos percentuais a mais que o atual presidente, que tem 23% e concentra o maior índice de rejeição, de 62%. 

Para o cientista político e professor do Insper Leandro Consentino, os números precisam ser analisados de forma conjunta para explicar a ascensão do ex-presidente nas pesquisas. É dele o posto de "arquirrival" de Bolsonaro e, consequentemente, o maior beneficiado com a rejeição ao governo. 

"A vacinação está atrasada, a situação econômica é preocupante, não há mais auxílio e a reserva moral do governo em relação à corrupção está ruindo a olhos vistos. Temos uma CPI em aberto que tem provocado um desgaste enorme da imagem do presidente. O eleitor está frustrado e a intenção de voto a Lula é muito motivada por isso", pontua.

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Lula é hoje o representante oficial da oposição a Bolsonaro. Ele cresce diante da desaprovação do atual governo, que vive o pior momento

Leandro Consentino
Cientista político
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O crescimento de Lula nas pesquisas também é analisado por Consentino como um efeito das anulações no Supremo Tribunal Federal (STF) das condenações do petista na Lava Jato, corroboradas pela declaração da parcialidade do ex-juiz Sergio Moro no julgamento.  Tudo isso torna o cenário favorável para o ex-presidente, que deve usar esse capital político para articular apoio para si e atrair o centro.

"Lula está jogando parado neste momento, assistindo a Bolsonaro ruir e vendo o capital político crescer. É uma situação muito favorável a ele, porque permite que ele construa essas alianças e se mostre como o candidato mais forte a derrotar o presidente", avalia.

TERCEIRA VIA

A pesquisa do Ipec expõe a dificuldade do centro para encontrar um nome natural, com alta popularidade e baixa rejeição, e que tenha chances reais de concorrer contra Lula e Bolsonaro. 

Entre as opções que fogem à polarização e foram apresentadas na pesquisa, Ciro Gomes (PDT), o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e o ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta (DEM) aparecem tecnicamente empatados. Todos eles, contudo, com menos de 10% nas intenções de voto.

"No momento, nenhuma candidatura que não seja a de Lula ou do próprio presidente se mostra forte. Se o centro não tiver uma proposta comum, ou apresentar alguém em comum, vira uma missão impossível de se viabilizar", analisa a cientista política e professora da UERJ Carolina de Paula.

Aspas de citação

A única análise que a terceira via pode tirar dessa pesquisa é que, caso queira cavar uma vaga no segundo turno, vai ter que renunciar a tantas candidaturas e correr contra o tempo para viabilizar um nome

Carolina de Paula
Cientista política
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A situação de Ciro Gomes, que já se coloca como pré-candidato, é analisada pela cientista como uma das mais complicadas, já que flerta com movimentos de centro-esquerda e centro-direita, mas não consegue alcançar mais de 10% das intenções de voto, além de ter 49% de eleitores que dizem não votar nele de jeito nenhum.

"Ciro assumiu uma posição insólita. A partir do momento em que ele mudou a postura e passou a criticar o PT e Lula, o eleitor de esquerda, que vinha com ele desde 2018, se ressente. E aí ele se coloca em uma situação complicada, porque também não consegue dialogar com o eleitor de direita, que não é parte da trajetória política dele", destaca.

DESAPROVAÇÃO DE BOLSONARO

Bolsonaro reagiu ao resultado da pesquisa Ipec e voltou a questionar a confiabilidade das urnas eletrônicas. Durante evento em São Paulo, na manhã desta sexta-feira (25), o presidente disse que não acredita em pesquisas eleitorais e que Lula somente seria eleito se houvesse fraude, caso não haja "voto auditável" em 2022. O sistema de votação, no entanto, já é auditável.

O sistema de votação que Bolsonaro defende já foi testado no Brasil e não deu certo. Ele é feito em uma urna eletrônica, mas cada voto é impresso e fica depositado em outra urna. Além do gasto, o presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, já declarou que a votação desta forma é mais passível de fraude do que o modelo atual. 

Na visão do cientista político Antonio Lavareda, o discurso de Bolsonaro deve endurecer nesse sentido, como uma reação ao desgaste que enfrenta. Ele pontua, contudo, que o presidente deve trabalhar para buscar parte do eleitorado que tem perdido, com aceno a conservadores e à agenda econômica.

"Devemos ver medidas populistas, como auxílio financeiro, o Bolsa Família, reajustes para o funcionalismo público, reforma tributária. Bolsonaro vai tentar converter uma melhora no cenário econômico e na renda das famílias para aumentar a popularidade", avaliou.

PESQUISAS RETRATAM PERCEPÇÃO DO MOMENTO

Embora as pesquisas apontem para enfraquecimento de Bolsonaro nas urnas, o cientista político Antonio Lavareda pontua que a perspectiva pode mudar até 2022. Isso porque os dados do Ipec são "fotografias do momento" e refletem a percepção do eleitor do momento atual, em que o presidente vive grande desgaste de imagem. 

"O momento agora é de muitas conjecturas e poucas previsões. Estamos muito longe da eleição, com uma CPI em andamento, pandemia, economia com péssimos resultados. Mas os efeitos podem não ser tão duradouros e, ao longo desses 16 meses que temos pela frente, é possível que Bolsonaro recupere a imagem dele e parte do eleitorado."

Lavareda ressalta, contudo, que isso deve estar intrinsecamente associado à recuperação da economia e a forma como a população vai avaliar os impactos da pandemia no período mais próximo ao pleito de 2022.

"Essa recuperação de Bolsonaro não será automática, depende de outras variáveis como a redução dos níveis de desemprego, se vai ocorrer e se na velocidade necessária. Além da percepção que as pessoas vão ter no ano que vem de como a vida delas foi afetada pela pandemia", finalizou. 

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