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Publicado em 17 de janeiro de 2022 às 19:34
O programa "Eu Escolhi Esperar", que incentiva a abstinência sexual como medida de prevenção à gravidez precoce, vai virar lei em Vitória. O prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos), que tinha o poder de vetar ou sancionar o projeto que instituía o programa, optou por ficar em silêncio. Com isso, o texto será promulgado pela Câmara Municipal, conforme prevê a Lei Orgânica do Município.>
Art. 83 Concluída a votação de um projeto, a Câmara Municipal o enviará ao Prefeito Municipal que, aquiescendo, o sancionará. § 1º Decorrido o prazo de quinze dias, o silêncio do Prefeito Municipal importará sanção.>
A Prefeitura de Vitória atribuiu o silêncio do prefeito diante do projeto à falta de manifestação do órgãos do Executivo dentro do prazo. Contudo, não explicou por que não houve um parecer técnico nesse período.>
"O prazo constitucional de 15 dias úteis do Projeto transcorreu sem manifestação dos órgãos da Prefeitura Municipal de Vitória, razão pela qual foi devolvido à Câmara Municipal de Vitória", disse em nota. >
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Nos bastidores, acredita-se que, mesmo se Pazolini fosse ideologicamente contra o projeto, ele não se manifestaria sobre o assunto para evitar uma indisposição com o presidente da Câmara, Davi Esmael, que é autor do projeto e aliado do prefeito.>
A Câmara de Vitória informou que a lei será promulgada no início de fevereiro durante sessão ordinária e contará com a presença do pastor Nelson Júnior, que é líder do movimento religioso "Eu Escolhi Esperar" cujo nome inspirou o programa. Ele prega que jovens só façam sexo após o casamento.>
Para especialistas da área de Saúde, a abstinência sexual deve ser tratada como uma escolha pessoal. Eles não acreditam na medida como uma política pública eficaz para combater a gravidez precoce.>
"É uma opção de algumas famílias, algumas pessoas, mas, pensando na população em geral, na massa, não vejo eficácia. A gente precisa ser realista e, ao invés de fingir que não vai acontecer [relação sexual], a gente tem que dar assistência em saúde e oferecer métodos anticoncepcionais e aconselhamento", afirmou a professora da Ufes e médica ginecologista Chiara Musso.>
O PL 101/2021 foi aprovado em novembro de 2021 pelo Legislativo. Ele prevê que as Secretarias de Educação e de Saúde da Capital divulguem informações relacionadas às medidas preventivas e educativas para a redução de incidência da gravidez precoce, mas não cita quais seriam essas medidas.>
O projeto também cita como uma das ações do programa a "exposição e divulgação de material explicativo, destinados aos adolescentes, esclarecendo eventuais causas, consequências e formas de prevenção da gravidez precoce". Porém, não detalha quais informações serão passadas nem de que maneira.>
Durante debate da proposta no plenário, não foram trazidos dados ou estudos nos quais o projeto teria se baseado. Davi Esmael afirmou que o texto está alicerçado "naquilo que a Bíblia diz".>
O que prevê o projeto aprovado
I - promoção de palestras direcionadas aos profissionais de saúde e educação, voltadas à consecução dos objetivos do programa;Embora a maioria dos parlamentares tenham sido favoráveis (foram 9 votos contra 2) ao projeto, a abstinência sexual é vista como uma estratégia "inócua do ponto de vista científico, antropológico e do desenvolvimento afetivo e emocional do ser humano", de acordo com documento divulgado pela Sociedade Brasileira de Pediatria em 2020.>
Além disso, é considerada uma política pública ineficaz para combater a gravidez precoce, de acordo com especialistas consultados por A Gazeta. >
"Essa discussão de gravidez na adolescência deveria ser mais ampla, sobre quais são os fatores sociais que fazem com que tenhamos tantos adolescentes nessa condição, que não têm acesso a serviço de saúde e educação de qualidade. Se a gente não tiver esse caminho de mudança social, é pouco provável que a gente atinja a redução desses indicadores. Está muito além de reduzir a discussão em sexo ou não sexo", afirmou o médico de Família e Comunidade e professor da UVV, Diego Brandão, em entrevista para A Gazeta em novembro do ano passado, quando o projeto foi aprovado.>
Vitória não é o primeiro município a aprovar ou discutir um projeto com a temática. Em 4 de novembro de 2021, a Prefeitura de Cariacica sancionou uma lei que cria a "Semana Eu Escolhi Esperar", também voltada para a prevenção contra a gravidez na adolescência, na segunda semana de março de cada ano. >
O texto, novamente, não cita o termo "abstinência", mas prevê a exposição de cartazes citando "causas, consequências e como prevenir" a gravidez precoce.>
Os projetos vão na mesma linha de vários outros no país, que, assim como a campanha nacional lançada pelo governo federal no ano passado, não recomenda explicitamente a abstinência sexual, mas tem esse objetivo.>
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