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MPES apura arquivamento de projeto de redução de assessores na Câmara de Vitória

MPES apura arquivamento de projeto de redução de assessores na Câmara de Vitória

Inquérito tramita na Promotoria de Justiça Cível da Capital e tem por objetivo investigar os motivos que fizeram a proposta que reduziria de 15 para oito o número de comissionados ser arquivada

Publicado em 14 de janeiro de 2021 às 19:39- Atualizado há 3 anos

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Ministério Público do Espírito Santo e Câmara Municipal de Vitória
Ministério Público abriu inquérito para investigar arquivamento de projeto pela Câmara Municipal de Vitória. (Reprodução)

Ministério Público do Espírito Santo (MPES) instaurou um inquérito para apurar o arquivamento do projeto de resolução que reduzia o número de assessores de gabinete na Câmara de Vitória. A proposta havia sido aprovada, em maio de 2020, pelos vereadores em plenário e aguardava apenas a redação final para a publicação da nova regra. O texto, no entanto, foi "enterrado" por duas vezes em dezembro pela legislatura passada. 

Na portaria de instauração do inquérito civil, publicada na segunda-feira (11), o MPES informa que o questionamento sobre a ação do Legislativo foi apresentado no sistema de Ouvidoria do órgão e determina que um ofício deve ser expedido à presidência da Câmara da Capital, para que se manifeste sobre o arquivamento da proposta.

MPES apura arquivamento de projeto de redução de assessores na Câmara de Vitória

O MPES também pede que a Casa encaminhe cópia de todos os documentos relativos à resolução que reduziria a verba estipulada para o gabinete de vereadores, bem como o número de cargos comissionados por gabinete. O inquérito tramita na Promotoria de Justiça Cível de Vitória.

Aprovado em maio, o projeto previa que o número de assessores de gabinete seria reduzido de 15 para oito. Na ocasião, foi divulgado pelos vereadores como a principal medida de contribuição da Câmara para poupar recursos diante da pandemia de Covid-19.

Sete meses depois, sem a publicação da redação final, que faria valer a medida, o presidente da Casa na época, Cleber Felix (DEM), arquivou o projeto, justificando que uma emenda substitutiva teria inviabilizado a proposta.

Na última sessão do ano passado, após pressão da sociedade civil, o presidente desarquivou a proposta. Mas vereadores se ausentarem e, por falta de quórum, o requerimento de urgência para análise da redação final não foi analisado

Um dos autores do projeto de redução de assessores de gabinete, o ex-vereador Roberto Martins (Rede) afirmou que o arquivamento do texto pela Câmara foi um "escárnio" com a sociedade e que a investigação do MPES traz "esperança". 

"É um sopro de esperança. O arquivamento do projeto representou um escárnio com a opinião pública, e uma ilegalidade que ameaça a própria democracia. Um projeto aprovado pela maioria dos vereadores não poderia ser arquivado pelos presidentes (da gestão passada e desta gestão)", disse.

Procurada por A Gazeta para se manifestar sobre o inquérito, a Câmara de Vitória, comandada agora por Davi Esmael (PSD), citou o parecer da Procuradoria e informou que a manifestação precisa ser feita pela antiga gestão. 

Questionado, o ex-presidente da Câmara, Cleber Felix, disse que está à disposição do MPES para esclarecer qualquer dúvida e afirmou que só vai se manifestar sobre o tema à imprensa se receber alguma notificação do órgão porque "ainda não sabe do que se trata".

Para obter mais detalhes sobre quanto tempo o inquérito deve durar e quais são os próximos passos, a reportagem também acionou o MPES, que não respondeu à demanda até a publicação deste texto.

O PROJETO

O projeto, de autoria dos então vereadores Roberto Martins (Rede) e Mazinho dos Anjos (PSD), tramitava desde 2019. A proposta era reduzir o número de assessores de gabinete de 15 para 10. 

texto foi aprovado no início de maio de 2020, por oito votos a quatro, com uma emenda do então vereador Max da Mata (Avante), que passava para oito o número de comissionados. 

Os contrários foram Dalto Neves (PDT), Luiz Paulo Amorim (PV), José Amaral (Podemos) e Neuzinha de Oliveira (PSDB). Dos que votaram contra, apenas Dalto e Luiz Paulo Amorim foram reeleitos.

Também foi aprovada, na ocasião, uma emenda do vereador Davi Esmael (PSD), para que houvesse a obrigação de que metade dos assessores tivessem nível superior.  

A projeção era de corte de 105 assessores na Câmara, gerando uma economia de R$ 2,5 milhões.

De acordo com o projeto, a verba anual de gabinete de todos os vereadores representa um gasto de R$ 7,1 milhões em salários, somados a R$ 11,5 mil por mês de auxílio-alimentação.

Os assessores de gabinete são cargos comissionados, portanto de livre nomeação de cada vereador, para atuar auxiliando o mandato de cada um deles.

ARQUIVAMENTO É ILEGAL, AFIRMAM JURISTAS

O arquivamento do projeto é considerado ilegal por juristas ouvidos pela reportagem de A Gazeta. De acordo com eles, essa atitude não poderia ter sido tomada após a aprovação do texto em plenário.

"A atribuição para manifestar pela validade e constitucionalidade de uma matéria é da Comissão de Constituição e Justiça", afirmou o advogado constitucionalista Cláudio Colnago na ocasião do primeiro arquivamento. Como o projeto já havia passado até pelo plenário da Casa, composto por todos os vereadores, o ciclo já estava completo.

"Uma vez aprovado, o processo legislativo deve ser promulgado. A partir dessa promulgação, caso constatado vício, poderia imediatamente se fazer uma outra resolução para revogar essa anterior, ou utilizar os mecanismos judiciais, acionando o Judiciário", explicou, na época, o professor de Teoria da Constituição na FDV, Anderson Sant'Ana Pedra.

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