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Após arquivamento de projeto que reduziria assessores na Câmara de Vitória, vereadores lavam as mãos

Após arquivamento de projeto que reduziria assessores na Câmara de Vitória, vereadores lavam as mãos

Tramitação foi de comemoração da aprovação em plenário ao enterro da proposta pelo presidente da Casa, beneficiando os parlamentares que vão assumir em 2021

Publicado em 18 de dezembro de 2020 às 20:36

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Prédio da Câmara de Vereadores de Vitória
Vereadores questionam arquivamento de projeto que já foi aprovado em plenário, mas não vão acionar a Justiça. (Arquivo/ A Gazeta)

A aprovação de um projeto de resolução que estabelecia a redução do número de assessores que cada vereador da Câmara de Vitória poderia ter foi anunciada com pompa e circunstância em maio, ainda antes, portanto, das eleições municipais. Sete meses depois, o texto não havia sido publicado e, após o alerta dado pelo colunista Vitor Vogas, os parlamentares começaram a se mexer. Mas o desfecho não foi o esperado: o projeto acabou arquivado.

Alguns vereadores que se mostraram entusiasmados com a ideia em maio agora silenciam, como Davi Esmael (PSD), cotado para ser o próximo presidente da Casa. E coube ao atual presidente, Cleber Felix (DEM), sepultar o texto. Clebinho endossou o projeto e comemorou em maio, mas nesta quinta-feira (17) apontou problemas na tramitação e, contrariando o plenário, decidiu sozinho pelo arquivamento. A manobra é juridicamente discutível, mas coautores do projeto não pretendem acionar a Justiça.

Em nota, Clebinho afirmou que segue um parecer do procurador da Casa, que diz que uma das emendas aprovadas no texto seria ilegal. 

A redação original reduzia de 15 para 10 o número de assessores de cada parlamentar. A emenda substitutiva em questão, apresentada por Max da Mata (Avante) e outros seis vereadores, reduziu de 15 para oito. Questiona-se a validade da emenda, uma vez que, de acordo com o regimento interno, propostas que alterem a estrutura da Casa precisam partir da Mesa Diretora.

O questionamento, no entanto, não é de agora. Durante a sessão de votação da matéria, os parlamentares passaram mais de duas horas debatendo se a emenda substitutiva seria ou não ilegal, por não ter sido proposta pela Mesa. E, por fim, o plenário entendeu que não haveria problema. O projeto foi, então, aprovado por maioria: oito votos a favor, quatro contra e uma abstenção. O vereador Deninho Silva (Cidadania), não estava presente na sessão.

Faltava apenas a redação final, delegada a vereadores que votaram contra, e a publicação da proposta. O que nunca ocorreu. 

Os maiores beneficiados são os vereadores que assumem em 2021. Nenhum dos 15 – tanto os 10 novatos quanto os cinco que se reelegeram – vai precisar diminuir o número de assessores. Até mesmo pessoas indicadas pelos vereadores derrotados nas urnas podem ser indicadas para as vagas, que são para cargos comissionados, de livre nomeação e exoneração.

Ou seja, a resolução foi proposta, aprovada, divulgada pelos parlamentares, comemorada pela sociedade e pela imprensa, mas nada mudou.

"EQUÍVOCO" E "MANOBRA", DIZEM AUTORES DO PROJETO

"Não há, em toda a história da Câmara, outro projeto em que isso tenha acontecido. Eu nunca vi nada igual em três mandatos", protestou o vereador Max da Mata (Avante). Ele aponta que o texto já havia passado por todas as comissões e as questões a respeito da legalidade da emenda teriam sido exaustivamente discutidas. "O que eu estou vendo é uma articulação política da Mesa e vereadores que não querem ver o projeto ser publicado para que ele tenha validade na próxima legislatura", completou. 

Roberto Martins (Rede), um dos parlamentares que assinou tanto o projeto inicial quanto a emenda de Max,  também se diz indignado com a decisão. Ele ressalta que "o plenário é soberano" e que o presidente, sozinho, "não tem poder de reverter uma decisão votada pela maioria dos vereadores". "Estão inventando desculpas, é manobra mesmo, não tem para onde correr. O presidente está agindo como juiz e ainda colocando na conta do procurador, sendo que o procurador deixou claro que o parecer é opinativo", destacou.

Um dos que questionou a legalidade da emenda durante a sessão de votação foi Mazinho dos Anjos PSD), que assina o projeto inicial com Roberto Martins (Rede). Em certo momento da discussão ele chegou a prever o que acontece agora. "Estou com medo de a Mesa Diretora questionar a legalidade dessa emenda depois", disse, durante a votação, em maio. Ainda assim, foi um dos que votou a favor da redação completa logo em seguida. 

Procurado pela reportagem, o parlamentar foi mais brando nas críticas, mas questionou a decisão de Clebinho. "O presidente se equivocou muito no despacho. Ele não seguiu o rito ordinário e regimental do processo legislativo. A proposição original estava aprovada e deveria ter sido elaborada sua redação final para apresentação", apontou. 

Nenhum dos três, no entanto, pretende fazer algo a respeito. Uma saída seria entrar com um mandado de segurança para que a Justiça avalie a conduta de Clebinho ao arquivar a matéria. Os vereadores alegam, no entanto, que estão no final do mandato e, por isso, a partir de janeiro, perderão a legitimidade de parlamentares para impetrar o mandado. "Tem custas o processo, uns R$ 500. E a partir do dia 31 de dezembro nós perdemos a legitimidade", aponta Mazinho.

O vereador pondera que uma das possibilidades seria levar a emenda ao plenário, novamente, após a produção da redação final. "Estou vendo ainda se um ato administrativo poderia reverter. O presidente poderia ter levado a redação final para ser discutida novamente no plenário e, se fosse o caso, a emenda ser arquivada", pontuou.

Davi Esmael (PSD), reeleito e cotado para ser presidente da Casa nos próximos dois anos, foi o autor de uma outra emenda que também foi incorporada ao projeto. Ela previa que 50% dos assessores contratados tivessem ensino superior. A emenda dele foi alvo de muitas críticas por parte de alguns parlamentares, que afirmaram que a medida "exclui pessoas" e cria "regras inconstitucionais" para o exercício parlamentar.

Durante a sessão de votação, em maio, Davi defendeu fortemente a proposta e comemorou a aprovação da redação que incluía as emendas. Agora, curiosamente, é apontado nos bastidores como um dos entusiastas do arquivamento. Há mais de duas semanas o vereador tem sido procurado pela reportagem de A Gazeta, mas não atende a imprensa.

VEJA COMO VOTARAM OS VEREADORES EM MAIO

Votaram a favor do projeto:

  • Davi Esmael (PSD)
  • Luiz Emanuel (Cidadania)
  • Max da Mata (Avante)
  • Mazinho dos Anjos (PSD)
  • Roberto Martins (Rede)
  • Sandro Parrini (DEM)
  • Vinicius Simões (Cidadania)
  • Wanderson Marinho (PSC)

Votaram contra o projeto:

  • Dalto Neves (PDT)
  • Nezinha de Oliveira (PSDB)
  • Luiz Paulo Amorim (PV)
  • Amaral (Podemos)

O vereador Leonil (Cidadania) se absteve por não concordar com a emenda apresentada por Davi Esmael. 

A NOVELA DA TRAMITAÇÃO

No dia da votação, em um prazo de três horas, a Comissão de  Constituição e Justiça da Câmara de Vitória emitiu um parecer pela inconstitucionalidade do projeto, porque a emenda que configurou o texto não partiu da Mesa Diretora. O parecer foi contestado por Max da Mata, revisto pelo plenário e o projeto, aprovado. 

Depois da aprovação passaram-se três meses até que o texto fosse encaminhado ao então relator, Dalto Neves (PDT), para a elaboração da redação final. Foi apenas no dia 9 de dezembro, após a Câmara ser "lembrada" pelo colunista Vitor Vogas de que o ano terminaria sem a publicação da resolução, o que inviabilizaria que ela entrasse em vigor já em 2021, que o texto voltou ao centro das atenções. Depois de mais de 92 dias com a proposta em mãos, Dalto Neves pediu "calma".

O pedetista foi um dos vereadores que votou contra a proposta e fez discursos calorosos no plenário durante a votação. Disse, na ocasião, que "se arrependeu de assinar a emenda com Max" e que "pelo fim da demagogia na Câmara" votaria não. Agora, em dezembro, a proposta saiu da mão dele para chegar ao gabinete de Luiz Paulo Amorim (PV), que também votou contra o projeto em maio.

Amorim teria o prazo de 10 dias para fazer a redação final, que ainda seria submetida ao plenário antes da publicação, o que, tradicionalmente, é protocolar. Em vez disso, pediu um parecer para a procuradoria da Casa, que voltou a falar no "vício de iniciativa" da emenda substitutiva, que ela deveria ter sido proposta pela Mesa Diretora.

A redação final nunca foi feita. Amorim nega ter protagonizado uma manobra protelatória.  "É para isso que tem o prazo, eu tinha um prazo para fazer a redação final e por isso consultei a procuradoria", afirmou.

Com base no parecer da procuradoria, que apontava o que já havia sido dito desde maio, o presidente da Câmara, Cleber Felix, arquivou, por conta própria, o projeto que havia sido aprovado pelo plenário. 

A reportagem tentou, sem sucesso, contato com Clebinho e Dalto Neves.

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