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Liberação de remédio de alto custo é dilema para STF, diz ministro no ES

Liberação de remédio de alto custo é dilema para STF, diz ministro no ES

André Mendonça falou durante congresso médico sobre judicialização na saúde e discussão travada no Supremo a respeito de critérios para liberação de medicamentos de alto valor

Publicado em 19 de setembro de 2023 às 21:14

Ícone - Tempo de Leitura 3min de leitura
Ministro do STF André Mendonça fala sobre judicialização na saúde em congresso médico no Espírito Santo
Ministro do STF André Mendonça fala sobre judicialização na saúde em congresso médico no Espírito Santo. (Ednalva Andrade)
Ednalva Andrade
Repórter / [email protected]

A discussão travada no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a obrigatoriedade ou não de o Estado fornecer medicamento de alto custo a pessoa com doença grave que não possui condições financeiras para comprá-lo foi um dos principais pontos tratados pelo ministro da Suprema Corte André Mendonça, durante congresso médico e jurídico realizado em Vitória, no Espírito Santo, na noite desta terça-feira (19). 

Para o ministro, o STF vive um dilema diante da crescente demanda por medicamentos de alto custo e o quanto isso onera os cofres públicos e pode comprometer outras políticas na área da saúde. Mendonça é o relator do tema 6, que trata dessa discussão, e tem repercussão geral, ou seja, o Supremo deverá fixar uma tese que será utilizada como parâmetro para todas as ações judiciais sobre o assunto. Ele assumiu o caso após a aposentadoria do ministro Mauro Aurélio Mello, em 2021.

Durante a palestra, Mendonça citou dados sobre os gastos da União para custear esse tipo de medicamento nos últimos anos. O STF já definiu, em outros julgamentos, que compete à União arcar com despesas dessa natureza, e não aos Estados e municípios, por exemplo.

Segundo dados do Ministério da Saúde citados por André Mendonça, em 2007 foram gastos cerca de R$ 24 milhões para bancar remédios de alto custo pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2015, a despesa dessa natureza foi de R$ 1 bilhão. Em 2021, alcançou a cifra de R$ 2,2 bilhões.

Liberação de remédio de alto custo é dilema para STF, diz ministro no ES

"Esse valor foi gasto para o atendimento de 5.736 pacientes. Mais de R$ 1,1 bilhão com apenas dois medicamentos", pontua Mendonça. Ele diz, ainda, que o tratamento com terapia genética para apenas um paciente com uma doença hereditária teve custo de R$ 19 milhões. 

"Dezenove milhões de reais significam 31 mil diárias de UTI no Sistema Único de Saúde. Eu posso estar salvando uma vida, mas poderia, talvez, estar salvando milhares de vidas. Esse é o dilema", ressalta o ministro.

André Mendonça observa que os avanços nesse tipo de tratamento com terapia genética, que é um medicamento feito sob medida para cada paciente, e considera que a tendência é de haver, nos próximos 10 anos, uma série de medicamentos com essa capacidade e com custos correspondentes. 

"Se em 2007, em um ano, todo o SUS gastou cerca de R$ 24 milhões e, em 2023, um único medicamento custa R$ 20 milhões, precisamos ter um olhar para o futuro. Isso impacta a União, mas isso também impacta o setor como um todo",  analisa o ministro. Ele lembra o caso julgado nesta terça-feira no STF em que a seguradora de um plano de saúde teve de fornecer um medicamento após decisão judicial e custou cerca de R$ 1 milhão.

Repercussão geral

Mendonça lamenta que o assunto tenha de ser definido pelo Supremo Tribunal, pois acredita que o ideal seria uma discussão ampla da sociedade, dos poderes Legislativo e Executivo, com a definição de políticas públicas relacionadas ao tema. 

No STF, três ministros apresentaram teses distintas sobre o tema 6: Marco Aurélio, Alexandre de Moraes e Luis Roberto Barroso. Mendonça assumiu a vaga de Marco Aurélio e a relatoria do caso. O julgamento está suspenso após pedido de vista do ministro Gilmar Mendes. Para Mendonça, o assunto não pode ficar restrito à discussão econômica, mas precisa ser levada em consideração.

Cada um deles fixou uma série de critérios que deverão ser seguidos para a situação em que configurar dever do Estado fornecer remédio de alto custo para o cidadão que não tem condições de custeá-lo. 

A palestra do ministro foi acompanhada por médicos e juristas de todo o país, no 10º Congresso  Brasileiro Médico, Jurídico da Saúde, evento que acontece até quarta-feira (20), em Vitória.

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