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Facebook remove perfis falsos usados para "bombar" redes de candidatos do ES

Facebook remove perfis falsos usados para "bombar" redes de candidatos do ES

Relatório global divulgado nesta terça (12) cita Euclério Sampaio (DEM), Sergio Vidigal (PDT), Fabrício Gandini (Cidadania) e uma empresa com escritório em Vitória

Publicado em 12 de janeiro de 2021 às 21:33- Atualizado há 3 anos

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Facebook
Facebook divulgou relatório global em que cita nome de políticos que foram beneficiados pela comportamento coordenado das contas falsas. (Reuters/Folhapress)
Autor - Iara Diniz
Iara Diniz
Repórter de Política / [email protected]

Facebook anunciou, nesta terça-feira (12), que removeu 52 perfis falsos que agiam de forma coordenada nas redes sociais para curtir, comentar e compartilhar postagens e, assim, aumentar a popularidade de candidatos no Espírito Santo durante a campanha eleitoral de 2020. Segundo a empresa, três políticos foram "beneficiados" pela atuação dessas contas, dois deles eleitos prefeitos: Sergio Vidigal (PDT), na Serra, e Euclério Sampaio (DEM), em Cariacica.

O deputado estadual Fabrício Gandini (Cidadania), que disputou a eleição para prefeito de Vitória, mas ficou para trás ainda no primeiro turno, é o outro nome citado.

Os três políticos são de partidos diferentes, com ideologias alinhadas tanto à esquerda, como é o caso do PDT e do Cidadania (antigo PPS), quanto à direita, como o DEM (antigo PFL).

A remoção dos perfis foi realizada em dezembro, no mês seguinte à eleição, portanto. E divulgada agora no Relatório de Comportamento Inautêntico Coordenado do Facebook, um documento de alcance global publicado em português e inglês. Foram 34 contas e uma página removidas do Facebook e 18 do Instagram, todas elas por violarem a política da empresa. O Instagram também pertence ao Facebook.

Publicações tinham como objetivo promover um falso engajamento nas redes sociais de Euclerio Sampaio, Sergio Vidigal e Fabrício Gandini
Publicação compartilhada por uma das contas falsas em benefício de Sergio Vidigal . (Reprodução/Relatório de comportamento inautêntico coordenado da América Latina – Dezembro de 2020)

O relatório do Facebook cita, no caso detectado no Espírito Santo, uma ligação entre a empresa AP Exata Inteligência em Comunicação, que tem escritório em Vitória, com as pessoas que estavam por trás das contas derrubadas. O CEO da empresa, Sergio Denicoli, teve o perfil suspenso do Facebook em dezembro, assim como o da empresa. Esses perfis, contudo, não eram falsos.

Denicoli prestou serviços para Sergio Vidigal durante a campanha, por meio de uma outra empresa da qual é proprietário, a Exata Comunicação Digital. Conforme verificado na prestação de contas do candidato à Justiça Eleitoral, foram pagos R$ 37 mil para monitoramento de redes sociais.

Não há registro da contratação de serviços de nenhuma das empresas de Denicoli nas prestações de contas de Gandini e Euclério Sampaio.

COMO FUNCIONAVA A REDE DE PERFIS FALSOS

Os perfis falsos, de acordo com o Facebook, eram criados para se passar por pessoas do Espírito Santo e promover um falso engajamento nas redes sociais de Vidigal, Euclério e Gandini. Eles não espalhavam desinformação (fake news), apenas reforçavam discursos oficiais e peças de propaganda dos então candidatos. E os elogiavam.

Isso se dava por meio de curtidas, comentários que eram feitos, de forma coordenada, nas publicações dos candidatos. Assim, passava-se a impressão que eles eram "mais populares".

Publicações tinham como objetivo promover um falso engajamento nas redes sociais de Euclerio Sampaio, Sergio Vidigal e Fabrício Gandini
Publicação compartilhada por conta falsa em benefício de Gandini. (Reprodução/Relatório de comportamento inautêntico coordenado da América Latina – Dezembro de 2020)

Além disso, essas contas compartilhavam o conteúdo publicado pelas páginas dos candidatos, com o objetivo de ter maior alcance.

Uma das publicações registradas no relatório foi feita por uma conta falsa no Facebook no dia 19 de outubro, em benefício de Sergio Vidigal. O perfil compartilhava uma postagem do próprio candidato a respeito de uma pesquisa eleitoral que o apontava em primeiro lugar. A pesquisa era verdadeira, com registro na Justiça Eleitoral.

Publicações tinham como objetivo promover um falso engajamento nas redes sociais de Euclerio Sampaio, Sergio Vidigal e Fabrício Gandini
Compartilhamentos de publicações favoráveis a Euclério Sampaio e Sergio Vidigal. (Reprodução/Relatório de comportamento inautêntico coordenado da América Latina – Dezembro de 2020)

O relatório também mostra publicações a respeito de entrevistas dos candidatos, resultados do segundo turno e propostas para a cidade.

"Essa rede com foco doméstico se originou no Brasil e quase não tinha seguidores quando a removemos", destaca a publicação. Apesar disso, a remoção se deu apenas após as eleições. Ou seja, se houvesse seguidores em número suficiente para desequilibrar o pleito, isso já teria ocorrido.

O QUE DIZ O RELATÓRIO DO FACEBOOK

Segundo o relatório global divulgado pelo Facebook, a rede formada por esse conjunto de contas tinha cerca de 2.400 seguidores quando foi removida. Os seguidores se referem ao número total de pessoas que seguiam ou eram amigos dessas páginas e perfis nas redes apagadas.

Apesar de ser um número considerado pequeno pela empresa, alguns perfis chegaram a pagar por conteúdos patrocinados para os candidatos citados – o que amplia ou segmenta o alcance dos posts. Isso, contudo, foi proibido pela legislação eleitoral em 2020. O impulsionamento de conteúdo de cunho eleitoral é restrito ao perfil oficial de candidatos e partidos e deve constar na prestação de contas.

O gasto com anúncios no Facebook e Instagram foi de cerca de US$ 11.500, o que corresponde a mais de R$ 60 mil.

De acordo com o Facebook, além dessa rede identificada no Espírito Santo, outras 16 foram removidas no Brasil. "As pessoas por trás das contas coordenaram e usaram perfis falsos como parte central de suas operações para enganar as pessoas sobre sua identidade e suas ações", descreve no relatório.

As investigações, e a remoção das contas do Facebook baseiam-se no comportamento e não no conteúdo que publicam, "independentemente de quem os desenvolve, quem os administra, ou se são de origem local ou estrangeira".

INVESTIGAÇÃO

A investigação interna conduzida pelo Facebook apontou que as pessoas por trás das contas criadas, apesar de terem ocultado as identidades, estavam ligadas à empresa AP Exata Inteligência em Comunicação, que tem como CEO o capixaba Sergio Denicoli.

"Encontramos essa atividade como parte de nossa investigação interna sobre suspeita de comportamento inautêntico coordenado na região. Embora as pessoas por trás dessa atividade tenham tentado ocultar suas identidades, nossa investigação encontrou ligações com a AP Exata Intelligence in Digital Communications, uma empresa de relações públicas com escritórios em Brasília, Vitória e Braga, Portugal", diz o relatório.

EMPRESA NEGA CRIAÇÃO DE CONTAS FALSAS

O CEO da AP Exata, Sergio Denicoli, negou a criação de contas falsas por parte da empresa e disse que a AP Exata, citada pelo Facebook, não presta serviços eleitorais.

Já a Exata, outra empresa da qual ele é proprietário, foi contratada por Sergio Vidigal para fazer monitoramento das redes sociais, mas trabalhou, segundo Denicoli, de maneira idônea.

Ele disse, ainda, que a conta pessoal dele do Facebook foi suspensa em dezembro, sem qualquer comunicado. Ele pretende acionar o Facebook para esclarecer as informações divulgadas no relatório. Confira a nota na íntegra:

"A Exata é uma empresa premiada internacionalmente, com uma forte atuação na área da inteligência digital, sempre reconhecida pela qualidade e seriedade dos seus serviços. Foi, inclusive, uma das primeiras empresas do Brasil a identificar redes de robôs na internet, fazendo estudos para diversas redes de comunicação. Os serviços prestados pela empresa são focados na análise de redes e pesquisa de diagnóstico, com base em dados e gestão de mídias sociais. Além disso, o relatório em questão apresenta equívocos. Cita uma empresa terceira, AP Exata, que jamais teve contratos eleitorais e menciona eventuais investimentos em publicidade de redes que jamais ocorreram. A empresa está entrando em contato com as redes referidas e todos os esclarecimentos serão prestados para reparar qualquer tipo de interpretação equivocada de nossos serviços."

O Twitter, que não tem ligação com o Facebook, suspendeu a conta de Denicoli. "O Twitter suspende as contas que violam as regras do Twitter", diz mensagem. Denicoli diz que a plataforma não o informou qual regra foi descumprida ou qual publicação levou à suspensão.

O QUE DIZEM OS POLÍTICOS CITADOS

O prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio, informou que desconhece e não compactua com a criação de contas falsas nas redes sociais. O prefeito afirmou que "não houve qualquer contrato entre sua campanha e a empresa citada no relatório do Facebook".

Já Sergio Vidigal, que foi eleito prefeito da Serra nas eleições de 2020, disse, por meio do advogado eleitoral Altamiro Thadeu Sobreiro, que os serviços de gestão de mídia e análise de redes sociais da empresa citada foram contratados regularmente durante a eleição e declarados à Justiça Eleitoral. "Qualquer outra atividade fora dessa finalidade é desconhecida e, portanto, está fora da responsabilidade da campanha de Vidigal", afirmou. A assessoria jurídica acredita que tudo será esclarecido.

O deputado estadual Fabrício Gandini disse que a empresa contratada por ele para realizar a campanha digital no período eleitoral não é a citada pelo relatório do Facebook.  "Não coaduno com a criação de contas falsas nas redes sociais, sejam elas utilizadas para qualquer interesse. Além disso, a empresa que foi contratada pela campanha digital não foi citada em nenhum momento pelo Facebook", declarou.

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