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CPI da Covid: senador do ES critica desfile militar para Bolsonaro

CPI da Covid: senador do ES critica desfile militar para Bolsonaro

Movimentação atípica foi alvo de discussão na sessão desta terça-feira da CPI da Covid no Senado. Para parlamentares, ato demonstra tentativa de Bolsonaro para intimidar o Congresso Nacional

Publicado em 10 de agosto de 2021 às 15:12

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Fabiano Contarato:
Fabiano Contarato: "defender ditadura em plena democracia é fácil. Difícil é defender democracia estando em uma ditadura". (Reprodução/TV Senado)
Rafael Silva
Repórter de Política / [email protected]

Após o desfile de blindados e outros veículos militares na frente do Palácio do Planalto na manhã desta terça-feira (10), o senador Fabiano Contarato (Rede) afirmou, durante a CPI da Covid no Senado, que o ato é um ataque à democracia e uma tentativa do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de intimidar o Congresso Nacional.

O desfile acontece no mesmo dia em que a proposta do voto impresso nas eleições, uma das pautas defendidas por Bolsonaro, deve ser analisada na Câmara dos Deputados. A expectativa, até da própria base do presidente, é de que a proposta seja rejeitada.

Contarato defendeu uma posição mais dura dos parlamentares e a necessidade de "se dar uma resposta" a Bolsonaro. Para o senador, eleito pelo Espírito Santo, "passou da hora" para que a Câmara coloque em pauta um dos pedidos de impeachment protocolados contra o presidente.

"Este é mais um capítulo do ataque do presidente da República à democracia. Já presenciamos ele atacando a OAB, ele participando de movimentos antidemocráticos com pedidos para fechar o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso, já o vimos defendendo ditadura e ovacionando torturador. Agora eu faço um alerta, defender ditadura em plena democracia é fácil. Difícil é defender democracia estando em uma ditadura", pontuou.

Outros parlamentares também reagiram ao desfile militar. Segundo as Forças Armadas, o desfile foi para entregar um convite a Bolsonaro para que ele participe de um treinamento de militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, que deve ser realizado em Formosa, em Goiás, a partir do dia 16.

Membro da bancada capixaba, o deputado federal Helder Salomão (PT) também chamou a atenção para a manobra militar, em um dia de votação importante no Congresso.

"Viram essa? Bolsonaro fará desfile com tanques de guerra no dia que a Câmara discute voto impresso. Mais uma tentativa inútil de ameaçar a democracia e as instituições. Não vai nos intimidar", escreveu o petista, em sua página no Instagram.

PARLAMENTARES DESTACAM ‘MECANISMOS’ PARA DEFENDER DEMOCRACIA

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), classificou o episódio como uma "trágica coincidência". Lira disse ter conversado com Bolsonaro que, segundo ele, garantiu que respeitará a decisão que o Legislativo tomar sobre o voto impresso.

"No país polarizado, isso (desfile militar) dá cabimento para que se especule algum tipo de pressão. Entramos em contato com o presidente Bolsonaro, que garantiu que não há esse intuito. Mas não é usual, é uma coincidência trágica dos blindados para Formosa. Isso apimenta este momento", afirmou.

Desfile Militar em frente ao Congresso(Pedro França/Agência Senado)

Presidente da CPI da Covid, o senador Omar Aziz (PSD-AM) chamou o evento de "cena patética" e "arroubo golpista". Em sua leitura, o ato demonstra mais fraqueza do presidente do que algum sinal de força.

"Todo homem público, além de cumprir suas funções constitucionais, deveria ter medo do ridículo. Mas Bolsonaro não liga para nenhum desses limites, como fica claro nessa cena patética de hoje, que mostra apenas uma ameaça de um fraco que sabe que perdeu. Não haverá voto impresso, não haverá nenhum tipo de golpe contra a nossa democracia. As instituições, com o Congresso à frente, não deixarão que isso aconteça. A democracia tem instrumentos para defender a própria democracia contra arroubos golpistas", discursou, durante a sessão da CPI.

O QUE ESTÁ EM DISCUSSÃO

O modelo defendido não é o voto na cédula de papel, mas sim o modelo híbrido. O voto continuaria sendo registrado na urna eletrônica, a diferença é que ele também seria impresso, pela mesma máquina, para uma verificação posterior e, em seguida, colocado em uma urna física. O gasto previsto pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para adaptar todas as urnas ao novo sistema passa dos R$ 2,5 bilhões.

O modelo foi testado no Brasil nas eleições de 2002, mas não trouxe bons resultados. Na época, a mudança se mostrou cara, complexa e sem garantias de segurança a mais para os eleitores. Em caso de contestações nesse sistema, as cédulas físicas precisariam ser recontadas, o que poderia até ser mais suscetível a erros de contagem ou adulteração.

Para Bolsonaro, o voto impresso seria uma garantia contra fraudes eleitorais, que ele disse ter ocorrido nas eleições de 2014, embora não tenha apresentado provas. Não há evidências de que os resultados eleitorais possam ser fraudados, já que o sistema não é conectado à internet, o que impossibilita uma invasão hacker.

O presidente ainda argumenta que o voto impresso facilitaria uma auditoria, no entanto, o atual modelo já é auditável, a partir dos boletins que cada urna produz ao final da votação. A checagem é possível a partir da conferência dos boletins com o resultado divulgado pelo TSE.

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