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CNJ cobra resposta do TJES sobre descaso com arquivo de processos

CNJ cobra resposta do TJES sobre descaso com arquivo de processos

Galpão de mais de 10 mil metros na Serra abriga todo o acervo processual da Corte, que sofre com desorganização, pragas e sujeira, segundo relatos de sindicato

Publicado em 24 de outubro de 2025 às 19:08

 Arquivo Geral do Poder Judiciário do Espírito Santo vive abandono
Arquivo Geral do Poder Judiciário do Espírito Santo vive abandono Crédito: Reprodução

Após a reportagem de A Gazeta revelar que um galpão que abriga todo o acervo de processos do Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES), na Serra, apresenta "problemas graves de segurança e armazenamento", com muita desorganização, mofo, pragas e risco de incêndio, conforme denúncia do Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário do Espírito Santo (Sindijudiciário-ES), o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) afirmou, nesta sexta-feira (24), que cobrou explicações da Corte capixaba sobre o caso.

Além de informar o pedido de esclarecimento ao TJES, o CNJ disse que a situação é acompanhada pelo Programa Nacional de Gestão Documental e Memória do Poder Judiciário (Proname).

Ofício obtido em primeira mão por A Gazeta, assinado pela presidente do sindicato, Maria Célia da Costa Almeida, aponta que o acervo está em "ambiente inadequado, insalubre e vulnerável". A situação, segue o documento encaminhado à presidência do TJES no último dia 17, comprometeria não apenas a integridade do material, mas também a saúde dos servidores e terceirizados que trabalham no Arquivo Geral, em um espaço de mais de 10 mil metros quadrados em Jardim Limoeiro. 

"Tal desorganização e precariedade colocam em risco a preservação do acervo histórico e jurídico do Tribunal, podendo ocasionar a perda irreversível de documentos e informações essenciais à efetividade da prestação jurisdicional", alerta o sindicato. "Trata-se, portanto, de questão que afeta diretamente o acesso à justiça e a memória institucional do TJES."

O Arquivo Geral cumpre papel essencial não apenas para a guarda da memória institucional, mas também para o andamento de processos judiciais em curso. Mesmo ações já digitalizadas podem demandar consulta física, já que juízes, partes e advogados podem solicitar acesso a peças originais que não foram digitalizadas ou cuja integridade precise ser conferida.

O Poder Judiciário capixaba foi procurado para comentar o requerimento nessa quinta-feira (23) e também ao longo desta sexta-feira (24), mas não houve retorno até a publicação desta matéria. Este espaço segue aberto para eventuais manifestações do TJES. 

A reportagem teve acesso ainda a imagens do local e outros documentos, que mostram que o Judiciário capixaba foi alertado há mais de um ano sobre o estado do Arquivo Geral. Em um ofício de julho de 2024, por exemplo, o setor de Arquivologia relatou um princípio de incêndio no local, controlado pelos próprios servidores, sem treinamento adequado. "Mais uma vez, por sorte, as pessoas certas estavam no local certo", diz o documento.

Fotografias obtidas, registradas também em janeiro, mostram caixas caídas no chão, muita poeira e documentos amarelados (veja ao longo desta matéria). 

Todo o cervo processual da Justiça estadual estaria em rrisco, segundo o Sindijudiciários
Todo o acervo processual da Justiça estadual estaria em risco, segundo o Sindijudiciário             Crédito: Sindijudiciário-ES

Dois meses após o incêndio, em setembro de 2024, o coordenador de fiscalização de obras do TJES informou a abertura de processo interno para apurar o incidente e propôs medidas de adequação. O ofício menciona o envio de uma proposta à Coordenadoria de Projetos, prevendo redistribuição de extintores, sinalização de saídas de emergência e pintura dos portões em vermelho.

Entre os pedidos feitos no documento, está uma consulta à Gestão da Informação Documental sobre o possível descarte de materiais e a remoção de caixas do chão, mantendo as rotas de fuga livres, conforme prevê a legislação. O ofício chegou ser respondido pela área de engenharia do TJES, mas não havia informações sobre a reorganização e segurança do acervo.

Já em 9 de janeiro de 2025, o mesmo setor encaminhou outro ofício ao TJES, descrevendo o acúmulo de caixas no chão e o comprometimento das rotinas de arquivamento e desarquivamento de processos. "A situação é um pedido de socorro", diz trecho.

Todo o acervo processual da Justiça estadual estaria em risco, segundo o Sindijudiciário Crédito: Reprodução

Risco à história processual do Espírito Santo

No documento mais recente, encaminhado neste mês, o Sindijudiciário-ES pede:

  • Inspeção técnica imediata no local;
  • Laudo de salubridade e riscos ocupacionais; 
  • Medidas urgentes de higienização e dedetização; 
  • Plano de digitalização dos processos físicos, com cronograma e equipe definida.

A presidente do sindicato, Maria Célia da Costa Almeida, afirma ainda no documento que as condições contrastam com os avanços tecnológicos divulgados pelo tribunal.

Causa ainda mais perplexidade o contrassenso de uma instituição que se orgulha de sua modernização, de seus projetos de inovação tecnológica e da suntuosidade de algumas unidades judiciárias, mas que mantém, em total descompasso com esse discurso, setores essenciais em condições precárias e indignas de trabalho."

Maria Célia da Costa Almeida

Presidente do Sindijudiciário-ES, em ofício à presidência do TJES

O Sindijudiciário-ES reforça como solução a digitalização do acervo, ao permitir o armazenamento eletrônicos dos autos, a preservação do conteúdo e o acesso remoto às informações. 

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