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Assassinatos na Ilha do Príncipe: o que motivou os crimes?

Assassinatos na Ilha do Príncipe: o que motivou os crimes?

Além da disputa pelo comércio local de drogas, traficantes estariam ainda interessados na posição estratégica do bairro, localizado na entrada de Vitória

Publicado em 27 de dezembro de 2019 às 10:10

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Escadaria Justiniano Paiva, na Ilha do Príncipe, em Vitória, onde o pintor João Alves foi assassinado no domingo (22). (Giordany Bozzato)

Após um feriado de Natal violento, com trocas de tiros registradas desde o último sábado (21) que resultaram na morte de três pessoas e deixaram outras três feridas, há uma pergunta que ainda não foi respondida: o que está ocorrendo na Ilha do Príncipe, em Vitória?

Um assunto que os moradores do bairro temem responder, por medo de represálias. As informações obtidas pela reportagem revelam que os objetivos iriam além do simples controle do comércio de drogas local, mas visariam ainda a posição estratégica do bairro, localizado na entrada da cidade.

Haveria assim uma possível disputa pelo comando do tráfico na região, enfraquecido com a saída há cerca de um ano de um gerente local. O poder, em função disso, teria passado para um novo gerente, sem muita articulação.

Há relatos ainda de que já houve uma tentativa dos traficantes do Bairro da Penha, há alguns meses, de assumirem a região, o que teria sido evitado pelo antigo comandante da Ilha do Príncipe. Com a saída dele, os acordos não estariam sendo cumpridos.

Em paralelo, antigos moradores do bairro, que se mudaram para o Morro do Cabral, estariam interessados em assumir o comando do tráfico da Ilha do Príncipe, com o apoio do Bairro da Penha. Repetiriam assim uma forma de atuação que já ocorreu no último ano em outros bairros da cidade, como na Piedade e na Fonte Grande.

Na Piedade, por exemplo, lideranças do Primeiro Comando de Vitória (PCV), e o seu braço armado, o Trem Bala, apoiaram líderes locais na tomada do poder pelo tráfico local, o que resultou em mortes e ainda na expulsão de dezenas de famílias que deixaram o bairro. Fatos confirmados até nos processos que já tramitam na Justiça estadual.

INÍCIO DOS CONFLITOS

Os conflitos mais recentes começaram no último sábado (21), quando quatro pessoas foram atingidas por tiros na Ilha do Príncipe, no local conhecido como "Beco da Elza". Elias Barbosa Neto, 27 anos, morreu no local. Breno Rosa Guimarães, de 21 anos, chegou a ser socorrido e levado para o Hospital Estadual de Urgência e Emergência (HEUE) - antigo São Lucas, mas não resistiu aos ferimentos. Outras duas vítimas também foram levadas para o hospital, com ferimentos.

Testemunhas relataram que as vítimas estiveram em um bar, assistiram ao jogo do Flamengo contra o Liverpool e, ao final da partida, foram para um local conhecido como "Beco da Dona Elza". Naquele momento, duas pessoas chegaram a pé atirando. Os disparos teriam começado ao lado do posto da polícia, que fica no bairro, mas está inativo. As pessoas disseram ainda que chegaram a ouvir mais de 20 tiros na localidade e acionaram a Polícia Militar.

À esquerda, Breno Rosa Guimarães, 21 anos. À direita, Elias Barbosa Neto, 27 anos. Os dois morreram após serem atingidos por tiros na Ilha do Príncipe, em Vitória. (Redes Sociais)

Na noite de domingo (22), por volta das 22h, houve mais tiroteio na região e uma pessoa morreu, a vítima foi o pintor João Alves Oliveira, de 30 anos. Neste caso, a Polícia Militar conseguiu prender Fabiano de Almeida dos Santos, 18 anos, que confessou ser o autor dos disparos que mataram João Alves nas proximidades da Escadaria Justiniano Paiva. Ele foi preso em flagrante ainda na noite de domingo dentro de um táxi na região do Aeroporto de Vitória.

De acordo com a polícia, no domingo à noite foi registrada uma intensa troca de tiros entre alguns indivíduos, sendo achados estojos de munição de calibre .556 – com alto poder de fogo. No local, a PM foi informada que um táxi estava transportando um homem baleado. Dessa forma, foi realizado um cerco e o veículo foi abordado na altura do Aeroporto de Vitória. O passageiro Fabiano confessou o crime.

Na segunda-feira (23), um novo tiroteio tomou conta do bairro Ilha do Príncipe, em Vitória, por volta das 15h. Segundo relatos, homens armados estavam pela região e já teria sido decretado toque de recolher. Moradores estavam assustados e não podiam sair de suas casas. O alerta era para ninguém passar pela Ilha do Príncipe porque novos tiroteios poderiam ocorrer. Algumas pessoas não puderam nem mesmo voltar para casa depois do trabalho. A missa de Natal foi cancelada.

Local onde caiu a vítima do homicídio na Ilha do Príncipe, em Vitória. (Giordany Bozzato)

RESPOSTA DO GOVERNO

Por nota, a Polícia Civil informou que o duplo homicídio consumado e o duplo homicídio tentado, que aconteceu no sábado (21), e o homicídio consumado e  o tentado, que aconteceu no  domingo (22) seguem sob investigação da Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Vitória. "A PC não descarta uma análise conjunta dos dois casos", informa o texto.

Em relação aos casos de sábado, é relatado que até o momento nenhum suspeito foi detido. Sobre as ocorrências de domingo, Fabiano de Almeida dos Santos confessou ser o autor do crime. "Ele foi autuado em flagrante por homicídio e por privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro. Ele também possuía um mandado de prisão em aberto", diz a nota da PC.

A Polícia Militar, também por nota, informa que o policiamento no bairro Ilha do Príncipe e todo o entorno foi reforçado. "Além do patrulhamento preventivo, realizado 24h por dia, pelas viaturas da 2ª Companhia do 1º Batalhão, pontos bases estão sendo realizados de forma estratégica, com apoio das equipes da Cimesp, que promovem a saturação em toda a região", diz o texto.

A PM e a PC ressaltam ainda que a participação da população é importante. "Em casos de crimes em andamento, ou qualquer suspeita, a comunidade deve colaborar acionando imediatamente uma viatura, via Ciodes (190)". É informado ainda que é possível contribuir com informações de forma anônima através do Disque-Denúncia 181, que também possui um site onde é possível anexar imagens e vídeos de ações criminosas, o disquedenuncia181.es.gov.br. "O anonimato é garantido e todas as informações fornecidas são investigadas", assinalam as notas da PC e da PM.

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Sobre a motivação dos crimes e a disputa por pontos de tráfico, a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) não se manifestou. 

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