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Mais uma noite de tiros e morte na Ilha do Príncipe, em Vitória

Mais uma noite de tiros e morte na Ilha do Príncipe, em Vitória

Duas pessoas foram baleadas. Uma morreu no local. Moradores relatam noite de terror

Publicado em 23 de dezembro de 2019 às 08:31

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Bairro tem sido palco de tiros e mortes nos últimos dias. (Vitor Jubini | Arquivo | A Gazeta)

Mais uma noite de tiros foi registrada na Ilha do Príncipe, em Vitória. Uma pessoa morreu no local. Segundo moradores da região, foi uma noite de desespero. Os tiros teriam começado por volta das 22h30 deste domingo (22).

De acordo com os relatos, bandidos encapuzados, de posse de armas longas, que, segundo moradores seriam metralhadoras, caminhavam pelas ruas do bairro, ameaçando quem estivesse olhando de janelas ou varandas. Segundo moradores, os tiros foram disparados nas proximidades de um beco que fica no alto da escadaria Justiniano Paiva. Um dos baleados desceu pela escadaria e outro pelo beco.

Chegando na parte baixa da escadaria, um dos baleados morreu. O outro conseguiu pular para dentro da varanda de um bar que estava fechado.

Com medo de represálias, os moradores da região não quiseram gravar entrevistas, mas disseram estar com medo e que até planejam se mudar do local.

O caso é investigado pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que, em princípio, suspeita que a ocorrência pode ter sido em retaliação ao tiroteio do último sábado (21), quando quatro pessoas foram baleadas, sendo que duas morreram.

Questionada, a PM informou que policiais militares constataram ter ocorrido uma intensa troca de tiros entre alguns indivíduos na Ilha do Príncipe - foram encontrados até estojos de munição de calibre .556, com alto poder de fogo. Em patrulhamento, foi encontrado um homem alvejado, que teve o óbito confirmado no local pelo Samu.

Logo depois, a PM foi informada de que um táxi estava transportando um homem baleado. Foi feito um cerco e o táxi foi abordado na altura do Aeroporto de Vitória. O passageiro havia sido atingido por um disparo de arma de fogo na perna e, segundo a PM, ele tinha um mandado de prisão em aberto.

Ao final da manhã desta segunda-feira (23), a Polícia Civil disse que o passageiro do táxi confessou ser o autor do homicídio deste domingo (23), na Ilha do Príncipe. Fabiano de Almeida Santos, 18, foi autuado em flagrante por homicídio e sequestro - já que obrigou o motorista do táxi a dar fuga a ele. Fabiano segue internado sob escolta policial e, assim que receber alta, será encaminhado ao sistema prisional.

O corpo do homem que morreu baleado foi identificado no final da manhã desta segunda-feira (23) como João Alves Oliveira, 30. Segundo a família, João era pintor e trabalhou no domingo. Ao chegar em casa ele foi convidado por um amigo para ir numa festa em Ilha do Príncipe. O caso seguirá sob investigação da Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Vitória. "A PC não descarta uma análise conjunta do duplo homicídio consumado e duplo tentado que aconteceu no último sábado (21) com o crime que ocorreu neste domingo", finalizou, por meio de nota.

Local do homicídio chegou a ficar isolado com uma fita zebrada(Giordany Bozzato)

NOITE DE TIROS NO SÁBADO (21)

Quatro pessoas foram atingidas por tiros na Ilha do Príncipe, em Vitória, neste sábado (21), por volta das 18h30. Elias Barbosa Neto, 27 anos, morreu no local. Breno Rosa Guimarães, de 21 anos, chegou a ser socorrido e levado para o Hospital São Lucas, mas não resistiu aos ferimentos de bala. Os nomes das outras duas vítimas não foram divulgados.

Testemunhas relataram que as vítimas estiveram em um bar, assistiram ao jogo do Flamengo contra o Liverpool e, ao final da partida, foram para um local conhecido com "Beco da Dona Elza". Naquele momento, duas pessoas chegaram a pé atirando. Segundo testemunhas, os disparos teriam começado ao lado do posto da polícia, que fica no bairro, mas está inativo.

As pessoas disseram ainda que chegaram a ouvir mais de 20 tiros na localidade e acionaram a PM. A motivação do crime ainda é desconhecida pela polícia, que investiga o caso.

À esquerda, Breno Rosa Guimarães, 21 anos. À direita, Elias Barbosa Neto, 27 anos. Os dois morreram após serem atingidos por tiros na Ilha do Príncipe, em Vitória. (Redes Sociais)

Na manhã de domingo (22), a mãe de Breno, Michelle Viana Rosa Klein, de 36 anos, esteve no Departamento Médico Legal (DML) de Vitória para fazer a liberação do corpo do filho. Ela contou que ainda na noite de sexta-feira (20) o filho havia dito que sairia no sábado cedo para jogar bola com amigos, e assim fez. O jovem, contudo, não retornou para casa.

Ela acrescentou que o filho trabalhava como autônomo e, atualmente, morava em São Torquato, em Vila Velha, com ela, o padrasto, três irmãos, a esposa e os dois filhos de 1 e 3 anos. No entanto, ele frequentava a Ilha do Príncipe porque já chegou a morar lá e tinha amigos na região. Ela não sabe o que poderia ter ocasionado o assassinato do filho.

"Ele havia saído na sexta e, quando chegou em casa, me avisou que no sábado iria jogar bola. Ele acordou, foi até meu quarto, pediu a benção, como sempre fazia, e saiu. Quando ele já estava no carro, ele me encaminhou um áudio dizendo que já estava chegando no local para jogar futebol e ainda disse que me amava. Nos despedimos e depois disso ele não voltou mais... esperei, mas ele não voltou. Já mais tarde, meu celular tocou e me avisaram que ele havia sido baleado. Cheguei no hospital e só me informaram que tinham socorrido. Depois vieram me avisar que ele tinha ido a óbito", contou Michelle.

A outra vítima, Elias Barbosa Neto, morava na Ilha do Príncipe e trabalhava como embalador de supermercado. Ele deixou dois filhos de 8 e 5 anos . O irmão da vítima, que preferiu não se identificar, não sabe o que pode ter ocasionado o crime. "A família está abalada, ele era gente boa, humilde e brincalhão. Ele era o mais novo dos quatro irmãos", destacou.

Elias tinha passagem pelo sistema prisional e estava em liberdade desde outubro de 2015, quando deixou a Penitenciária Agrícola do Espírito Santo, em Viana, após receber o alvará de soltura. Segundo informações da Secretaria de Estado da Justiça (Sejus), Elias havia sido preso em outubro de 2012 pelo crime de tráfico de drogas.

Ainda de acordo com a Sejus, Breno não tinha passagem pelo sistema prisional. As outras duas vítimas baleadas foram encaminhadas para o Hospital São Lucas, no entanto, a reportagem não conseguiu informação sobre o estado de saúde delas.

Beco da Dona Elza, onde quatro foram baleados no sábado (21). (Raquel Lopes )

POSTO POLICIAL DESATIVADO

Moradores da região reclamam que o Destacamento da Polícia Militar, na Ilha do Príncipe, está desativado há seis anos. Por causa disso, segundo eles, a criminalidade tem crescido na região. "Está tudo abandonado, ninguém vem aqui para trabalhar. Quando funcionava, a região era mais tranquila", pontuou um morador do bairro, que preferiu não se identificar.

A Polícia Militar informou, por meio de nota, que o bairro Ilha do Príncipe e o entorno da área da rodoviária são cobertos pelas viaturas da 2ª Companhia do 1º Batalhão da Polícia Militar, que realizam constantes operações em toda a região, como pontos base, cercos táticos, blitze e abordagens a coletivos, pedestres e veículos, além do patrulhamento preventivo. Acrescentou que haverá a inauguração do novo DPM da Vila Rubim nesta segunda-feira (23), que também servirá de referência para os moradores de Ilha do Príncipe.

No entanto, apesar das atividades desenvolvidas, a PM ressalta que criminosos motivados a cometer determinados tipos de crime aguardam por oportunidades e aproveitam-se justamente do momento em que o policiamento cobre outros pontos, devido às rondas. Por isso é necessário que, em casos de crimes em andamento, a população colabore e acionando imediatamente uma viatura, via Ciodes (190). Ainda, denúncias sobre indivíduos que possam estar agindo na região podem ser feitas por meio do telefone 181 ou pelo site www.disquedenuncia181.es.gov.br. O sigilo e o anonimato são garantidos.

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