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Assassinato com 79 tiros na Serra foi ordenado por videochamada feita de presídio

Assassinato com 79 tiros na Serra foi ordenado por videochamada feita de presídio

Segundo a Polícia Civil, a ordem para matar Welington partiu de Tobias Claudino Nascimento, que está preso no Rio de Janeiro, através de videochamada

Publicado em 8 de maio de 2025 às 16:15

A Polícia Civil do Espírito Santo (PCES), por meio da Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Serra, prendeu quatro pessoas investigadas no inquérito policial que apurou o homicídio de Welington de Souza Lima, de 47 anos, ocorrido no dia 06 de março de 2024 no bairro Parque Residencial Laranjeiras, na Serra.

A ordem para matar Welington de Souza Lima, de 47 anos, partiu de dentro de um presídio no Rio de Janeiro e foi dada por meio de uma videochamada, segundo a Polícia Civil. O crime aconteceu no dia 6 de março de 2024, no bairro Parque Residencial Laranjeiras, na Serra

Quatro pessoas estão presas por envolvimento no crime, um suspeito está foragido e o motorista do carro em que estavam os criminosos, ainda não foi identificado. Um dos detidos é o mandante, Tobias Claudino Nascimento, que está custodiado na Penitenciária Gabriel Ferreira de Castilho, em Bangu 3, no Rio de Janeiro, e têm passagens por homicídio, porte ilegal de arma de fogo, tráfico e associação ao tráfico de drogas. 

"Mesmo preso, conseguimos comprovar que ele continua, através de chamadas de vídeo, dando ordens de homicídios, tráfico de drogas, inclusive mandando cortar cabelos de mulheres que são contra as regras impostas por ele no tráfico de drogas. Fizemos um serviço intenso de inteligência com a subsecretaria de inteligência do sistema penitenciário do Rio de Janeiro, onde obtivemos um relatório que ficou comprovado que no período de outubro de 2023 a março de 2025, foram apreendidos 100 aparelhos na galeria que Tobias está preso com lideranças do Comando Vermelho local", explicou o chefe da Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Serra, delegado Rodrigo Sandi Mori. 

Segundo a Polícia Civil, foram 79 disparos de arma de fogo foram efetuados contra o veículo em que estava a vítima, sendo que 27 atingiram o homem.

A polícia disse que, no dia do crime, Welington estava de saída temporária da cadeia e pediu para que um motorista de aplicativo de sua confiança fosse buscá-lo. O que a vítima não sabia era que o condutor havia recebido R$ 35 mil para levá-lo até o local onde seria morto. 

Polícia apontou que os envolvidos são:

  • Tobias Claudino Nascimento - é o mandante do crime. Está preso na Penitenciária Gabriel Ferreira de Castilho, em Bangu 3, no Rio de Janeiro, e têm passagens por homicídio, porte ilegal de arma de fogo, tráfico e associação ao tráfico de drogas;
  • Ruan de Freitas Camargo Cruz (executor) - tem passagens por tentativa de homicídio, tráfico de drogas, porte ilegal de arma de fogo. Preso em agosto de 2024;
  • Diogo Amaral (executor) - tem passagens por tráfico de drogas, porte ilegal de arma de fogo. Preso em dezembro de 2024.
  • Luís Felipe Souza Machado (motorista de aplicativo) - É membro do Primeiro Comando da Capital (PCC) de São Paulo. Já foi preso por tráfico de drogas, porte ilegal de arma de fogo. Veio para o Espírito Santo e começou a trabalhar como motorista particular e realizar viagens para traficantes da Serra. Recebeu R$ 35 mil pelo crime. Ele foi preso no dia 21 de março em São José de Campos, município paulista;
  • Lucas Ribeiro Laubach (executor) - Está foragido. Tem dois mandados de prisão em aberto por homicídios na Serra;
  • Motorista do carro dos criminosos - ainda não identificado. 
Lucas Ribeiro Laubach (foragido), Luís Felipe Souza Machado, Diogo Amaral, Ruan de Freitas Camargo Cruz e Tobias Claudino Nascimento
Lucas Ribeiro Laubach (foragido), Luís Felipe Souza Machado, Diogo Amaral, Ruan de Freitas Camargo Cruz e Tobias Claudino Nascimento Crédito: Divulgação | Polícia Civil

Briga e morte

O chefe da Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Serra, delegado Rodrigo Sandi Mori, explicou que Welington e Tobias iniciaram juntos no tráfico de drogas no bairro Serra Dourada 2, no começo dos anos 2000. Em 2006, os dois tiveram uma briga, e a vítima foi para o tráfico de Serra Dourada 3. Existe uma rixa entre as duas regiões.

Em 2018, Welington tomou o controle do crime da Rua Gardênia, que fica em Serra Dourada 2, o que intensificou a briga entre eles. No final de 2019, a vítima, que tinha condenações por homicídio, tráfico de drogas, roubo a banco e porte ilegal de arma de fogo, foi presa.

Welington de Souza Lima, de 47 anos Crédito: Divulgação | Polícia Civil

Mesmo com o então chefe do tráfico de Serra Dourada 3 na cadeia, a guerra entre os bairros seguiu. Até que Tobias foi procurado por um ex-aliado de Welington: Ruan de Freitas Camargo Cruz.

Expulso de Serra Dourada 3, o homem procurou o Tobias, que já estava preso em Bangu 3, no Rio de Janeiro, pedindo ajuda para tomar o tráfico do bairro. Tobias então pediu uma “demonstração de lealdade”. Juan teria que planejar e executar o antigo chefe.

Planejamento

Carro foi alvo de dezenas de disparos na Serra Crédito: Leitor/A Gazeta

Para planejar a execução de Welington, Juan contou com Luiz Felipe, o motorista de aplicativo que também fazia corridas particulares para traficantes. A vítima já conhecia e confiava no motorista, pois, em sua primeira 'saidinha' do presídio — em dezembro de 2023 — foi o homem que o buscou, com uma escolta, na Casa de Custódia de Vila Velha, e uma relação de confiança foi estabelecida entre os dois.

Na  segunda 'saidinha', no dia do crime, Luiz Felipe foi sozinho buscar Welington, que questionou o porquê de não ter escolta.

"Luiz Felipe disse para ele (Welington) que teria ido por conta própria, que ninguém estava sabendo, que não resolveram mandar escolta para ele. E como ele confiava muito no Luiz Felipe, aceitou a corrida"

Rodrigo Sandi Mori

Delegado e chefe da DHPP de Serra

Participaram da execução Diogo Amaral — homem de confiança de Tobias e braço armado do tráfico, Lucas e o próprio Juan. O motorista do carro que levou os criminosos não foi identificado.

Na manhã do dia do crime, os quatro — Diogo, Lucas, Juan e o motorista ainda não identificado — saíram de Serra Dourada e foram em direção ao Parque Residencial Laranjeiras. As investigações apontaram que eles ficaram esperando o momento em que o carro de Welington passaria, e já tinha a informação de que a vítima estava a caminho da casa da ex-esposa para visitar o filho.

Conforme imagens que registraram o assassinato, quando o veículo chega à Rua Miguel Ângelo, por volta das 11h55 de 6 de março do ano passado, o Toyota em que estavam os criminosos fecha o Renault Sandero que levava Welington. Juan desce do carro, vai em direção ao banco do carona, onde dispara contra a vítima.

Em seguida, os outros executores também descem. Simultaneamente, o motorista de aplicativo sai do carro e foge. “Tanto o planejamento e a execução, o contato com o motorista, foi o Juan que fez. Ele que planejou e executou tudo. O Juan é o primeiro que desce do carona do veículo. Nas imagens ele já desce atirando direto no carona, porque ele sabia onde a vítima encontrava-se naquele veículo”, explicou o delegado.

Foram 79 disparos, sendo que 27 tiros atingiram a vítima. “Nós conseguimos obter imagens ainda no local do crime, que nos ajudaram a identificar (suspeitos). Colhemos vários depoimentos, denúncias, foi um inquérito muito extenso. Depois dessas prisões também sanou a guerra do tráfico em Serra Dourada 2 e 3”, informou o delegado Rodrigo Sandi Mori.

Os quatro envolvidos no crime já presos foram indiciados por homicídio qualificado por motivo torpe, meio cruel, impossibilidade de defesa da vítima e com emprego de arma de fogo de uso restrito.

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