Publicado em 3 de dezembro de 2019 às 21:55
No discurso de gestores, a educação é sempre alçada à condição de área prioritária de qualquer administração. Mas, na prática, o país tem demonstrado que pouco tem sido feito para que, de fato, sejam superados déficits educacionais. Prova disso é o resultado do Brasil na mais recente edição do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), com dados de 2018, cujo desempenho em Matemática, Literatura e Ciências foi pífio. Falha na formação e desvalorização dos professores contribuem para esse quadro.>
Esse não é um problema atual, já que o país sofre com a estagnação nos indicadores de educação há quase uma década. Ano a ano, nas avaliações educacionais, as falhas de aprendizagem são evidenciadas. Em um país que pouco lê, a dificuldade de interpretação afeta o desempenho não apenas em Língua Portuguesa, mas também nas outras áreas. >
O Pisa é aplicado de forma amostral a alunos na faixa etária dos 15 anos, idade em que se pressupõe o término da escolaridade básica obrigatória na maioria dos países. Por ser uma avaliação internacional, é inevitável a comparação do Brasil com outros locais.>
Enquanto os alunos mal avaliados estão com performance semelhante aqui ou nos países ricos, os melhores estudantes brasileiros equivalem-se apenas ao nível intermediário da média dos 37 países integrantes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), segundo aponta Claudia Petri, especialista em Educação do Itaú Social. >
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Para ela, o Brasil tem problemas bem claros que levam a esse distanciamento na aprendizagem entre alunos brasileiros e os de outras nacionalidades. Entre eles estão as brechas na formação inicial de professores, colocando na sala de aula muitos ainda despreparados para a prática do ensino.>
Claudia menciona que existe até um conceito de que a formação continuada, que deveria ser um avanço à qualificação dos professores, acaba sendo uma espécie de "supletivo" da formação inicial e serve para suprir lacunas deixadas pela graduação. >
Outra dificuldade, específica da área de Matemática, tem relação com o currículo de Pedagogia, uma vez que são os profissionais formados nesse curso que vão dar aula nas séries iniciais. Contudo, explica a especialista em Educação, falta embasamento ao pedagogo para a docência dessa disciplina e grande parte dos estudantes passa de ano sem o conhecimento adequado.>
A baixa valorização profissional também favorece o desempenho ruim. Com baixos salários e sem infraestrutura apropriada nas escolas para dar aulas, muitos professores sentem-se desmotivados. "Em Singapura (um dos países melhor avaliados), por exemplo, investe-se muito na valorização do professor porque é ele a figura central na relação ensino-aprendizagem", observa Claudia Petri. >
Além de atuar nessas duas frentes - formação e valorização - Claudia Petri acredita que outras iniciativas também vão contribuir para a melhoria da qualidade do ensino e, por consequência, da aprendizagem. Na sua opinião, é importante que o país coloque em prática a recém-aprovada Base Nacional Comum Curricular (BNCC).>
A especialista em Educação ainda ressalta a importância de Estados e municípios estabelecerem um regime de colaboração entre si. "Quando existe essa parceria, há um salto na qualidade do ensino", assegura. >
Por fim, Claudia Petri lembra que, em 2020, haverá eleições municipais e os futuros gestores têm de colocar a Educação na pauta, fazer uma análise desses dados e definir o que podem fazer, efetivamente, para mudar a realidade de sua cidade. Pauta que também deve estar na ordem do dia daqueles que já estão no poder. >
"Sou otimista e, para mim, há um caminho que deve ser trilhado, com políticas públicas focadas na aprendizagem, e que poderá trazer melhores resultados em futuras avaliações educacionais", finaliza. >
Formação inicial
A qualidade dos cursos de licenciatura é primordial para garantir uma boa formação inicial aos futuros professores. O Ministério da Educação (MEC) precisa ser efetivo, tanto no controle da oferta de cursos bem estruturados, quanto na avaliação do desempenho das instituições de ensino e seus estudantes.
Valorização profissional
Existe um piso nacional de educação, ainda aquém de outros países, mas que estabeleceu um mínimo que deve ser pago aos professores, conforme a jornada de trabalho. O problema é que, em muitos municípios e Estados, até mesmo o piso é desrespeitado. Além disso, é preciso oferecer melhores condições de trabalho ao educador.
Base Nacional Comum Curricular (BNCC)
A BNCC da educação básica deve ser colocada em prática efetivamente, ajudando a equiparar a formação dos alunos em todo o país. O documento voltado para a educação infantil e o ensino fundamental precisa entrar em vigor totalmente em 2020. Já o do ensino médio o prazo vai até 2022.
Regime de colaboração
Estados e municípios precisam ser parceiros no processo de ensino-aprendizagem, sobretudo porque grande parte da educação básica pode ser oferecida tanto por um quanto por outro ente. No Estado, o Pacto pela Aprendizagem no Espírito Santo (Paes) é um exemplo de ação conjunta para fortalecer a aprendizagem das crianças desde a educação infantil até as séries finais do ensino fundamental.
Políticas públicas
Os gestores devem priorizar a Educação, não apenas no discurso, mas em políticas públicas efetivas para mudar os indicadores negativos. Os dados devem servir de base para análise e preparação de ações que contribuam para a melhoria do ensino.
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