Pisa: Quando se trata de educação, o Brasil não faz o dever de casa

Para reverter péssimo resultado em teste de qualidade de ensino, o país começaria muito bem se simplesmente se comprometesse a cumprir o Plano Nacional de Educação. Lá consta, por exemplo, a tarefa vital de qualificar os professores

Publicado em 03/12/2019 às 21h20
Sem educação básica de qualidade, uma imensa massa de jovens continuará marginalizada. Crédito: Shutterstock
Sem educação básica de qualidade, uma imensa massa de jovens continuará marginalizada. Crédito: Shutterstock

O último Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) traz notas vermelhas no boletim do Brasil. O exame, realizado a cada três anos pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mostra que o país está estagnado há uma década entre os piores níveis de aprendizado. E, quando se trata de educação, estagnação significa retrocesso.

A boa qualidade do ensino é pedra de toque para o desenvolvimento real e sustentável de qualquer nação, é peça fundamental na engrenagem que movimenta cidadania, justiça social, inovação e crescimento econômico. Por isso, é um verdadeiro flagelo a constatação de que 43% dos estudantes brasileiros de 15 anos não aprenderam o mínimo necessário em leitura, matemática e ciências. Quatro em cada dez deles chegariam ao final deste texto sem ao menos identificar a ideia principal aqui contida.

O diagnóstico do Pisa é cortante porque, longe de ser conteudista e formulaico, o teste foca em competências necessárias a tarefas cotidianas, como calcular distâncias e diferenciar fatos de opiniões. O desempenho obtido pelo Brasil atesta, portanto, um desconhecimento muito profundo dos jovens do mundo que os cerca. É um fracasso, não dos estudantes, mas das políticas públicas.

Além da má qualidade do ensino, o Pisa traduz também o abismo social brasileiro. A diferença de pontuação entre estudantes ricos e pobres em leitura é de 97 pontos­, o que equivale a pular um nível de aprendizagem. Não à toa, a mobilidade social no Brasil também é uma das menores entre os países avaliados.

É o círculo vicioso da desigualdade: sem educação básica de qualidade, uma imensa massa de jovens continuará marginalizada, sem oportunidades reais de acesso ao ensino superior, a profissões que exigem mais qualificação, a rendas mais dignas. Não é uma sentença condenatória para essa parcela da população, mas é, sem dúvida, uma bola de ferro amarrada à perna na corrida da vida.

Alguns sustentam a opinião de que não deixa de ser uma vitória que o Brasil tenha conseguido aumentar o acesso à escola sem cair no ranking do Pisa. Mas isso não chega a ser algo a ser comemorado. A universalização do ensino para alunos até os 17 anos só se transformou em lei há três anos, décadas mais tarde do que nações mais bem avaliadas.

Mesmo assim, ainda falhamos nas políticas de assistência a alunos dos níveis socioeconômicos mais baixos, compelidos a trabalhar e estudar ou prejudicados por outras falhas sistêmicas, em transporte, saúde, alimentação, estrutura familiar.

Os gargalos são vários, e as soluções não são nenhum mistério. Passam por verbas para educação, é claro - a China, campeã do Pisa 2018, investe R$ 630 mil por aluno ao ano, enquanto o Brasil gasta cerca de R$ 126 mil -, mas não se resumem a isso.

O país começaria muito bem se simplesmente se comprometesse a cumprir o Plano Nacional de Educação. Lá consta, por exemplo, a tarefa vital de qualificar os professores. As 20 metas estabelecidas na lei não podem ser encaradas como mera carta de intenções. O Brasil conhece suas obrigações, só não faz o dever de casa.

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