Crimes Brutais - Isabela Cassani
Crimes Brutais - Isabela Cassani. Crédito: Adriana Rios

Isabela Cassani: vinte anos de uma morte que permanece impune

Adolescente de 15 anos desapareceu após sair de casa em 24 de outubro de 1999. Seu corpo foi encontrado na Baía de Vitória, no dia seguinte. Em duas décadas a investigação não conseguiu localizar o autor do crime

Vitória / Rede Gazeta
Publicado em 19/10/2019 às 05h20
Atualizado em 04/07/2020 às 15h38

A última imagem: uma jovem simples, de óculos e cabelo preso, na loja de conveniências de um posto de gasolina. Eram 22h20. Isabela Negri Cassani estava perdida e buscava informações para chegar na casa de uma amiga no Centro de Vitória. Desde que ela deixou o local, a única certeza é de que, no caminho para o seu destino, a adolescente de 15 anos teve a sua história violentamente interrompida. Todo o resto é um grande mistério, até mesmo o autor do seu assassinato e os motivos.

No caso de Isabela, trata-se de um assassinato cujas chances de se tornar impune aumentam a cada dia. O inquérito que investiga o crime completa 20 anos no próximo dia 24. Na reta final, a polícia ainda tem esperanças de reverter o quadro e encontrar o assassino com os últimos três exames de DNA que foram realizados. O teste tem a função de comparar o material genético encontrado na estudante - que além de agredida foi estuprada - com o dos suspeitos.

O resultado positivo indicaria um possível autor do crime, mas para puni-lo seria necessário uma corrida contra o tempo. A polícia precisa indiciar o suspeito pelo crime, o Ministério Público Estadual denunciá-lo e a Justiça torná-lo réu. Só desta forma será possível impedir a chamada prescrição do crime, quando não haverá mais como punir um culpado. 

José Lopes

Delegado

"Se no dia 25 de outubro alguém aparecer e confessar o crime, não posso fazer nada, nem indiciar ou prender"

De acordo com o criminalista Ludgero Liberato, o Código Penal estabelece que o prazo para a punição de uma pessoa, nos casos de homicídio, termina em duas décadas. A exceção ocorre quando o chamado tempo de prescrição é interrompido por algumas ações, sendo uma delas o recebimento de uma denúncia feita pelo Ministério Público Estadual. "Se isso não acontecer, o crime estará prescrito. O Estado terá falhado na sua atividade de investigar o assassinato", assinala o advogado.

Uma situação que incomoda até quem tem anos de experiência na investigação de homicídios. “Vai ser uma derrota para a gente. Vai nos incomodar para o resto da vida. Para a família, o que posso dizer é que não paramos de agir, até o último dia estaremos em busca pelo menos de uma resposta sobre o que aconteceu”, desabafa o delegado José Lopes.

O TRAJETO DE ISABELA

O mistério sobre a morte de Isabela teve início no dia 24 de outubro de 1999, quando ela saiu de casa, em Jardim da Penha, por volta das 20h30. Seu destino era o Centro de Vitória, onde passaria a noite na casa de uma amiga missionária, a norte-americana Leann Collin Gridley. Mas a adolescente nunca chegou.

Há indícios de que o percurso inicial foi feito de ônibus, pela linha 213. Mas não se sabe onde ela embarcou. Uma das certezas da polícia é de que Isabela desceu do coletivo na altura do Clube Álvares Cabral. Naquela noite, em decorrência de um show da dupla Sandy e Júnior, o trânsito foi interditado na Avenida Beira-Mar. Existe a possibilidade de que, assustada com a mudança do trajeto, a adolescente tenha saído do ônibus e decidido seguir o restante do trajeto a pé.

Logo à frente, no sentido Centro de Vitória, em um posto de gasolina, foram registradas as últimas imagens de Isabela com vida. Era 22h20 quando ela entrou na loja de conveniências em busca de informações. No local há muita movimentação e a câmera registra quando ela conversa com um funcionário. Minutos depois, a adolescente deixa o local.

Isabela Cassani. Imagens de câmera de videomonitoramento. 24/10/99. Crédito: Arquivo/ AG
Isabela Cassani. Imagens de câmera de videomonitoramento. 24/10/99. Crédito: Arquivo/ AG

Daí por diante pouco se sabe sobre o que de fato aconteceu. Há o depoimento de um funcionário de uma empresa localizada na Ilha de Santa Maria que também deu informações à Isabela, logo após ela sair do posto de gasolina. Ele aponta a localização de um ponto e a orienta a ir de ônibus, assinalando que a região é perigosa à noite.

Isabela recusa e decide seguir a pé. De dentro do ônibus, o funcionário ainda acena para a jovem, que caminhava em direção ao Centro. Ele é a última pessoa de que se tem registro oficial a vê-la com vida. Após o crime, o homem procurou a polícia para relatar o que tinha acontecido.

CAMINHADA SEM CONCLUSÃO

Sobre o trajeto do ponto de ônibus indicado pelo funcionário até o Edifício Brazmar, onde Isabela pretendia chegar, pouco se sabe. Nem mesmo em que local ela encontrou o seu algoz, que a agrediu, estrangulou, estuprou, matou e a jogou na Baía de Vitória. Dela só se teve notícia na manhã seguinte, dia 25, quando alguns remadores avistaram o seu corpo boiando na região do Tancredão.

Por volta das 8 horas, o corpo de Isabela foi retirado da água por um morador de Cariacica, já na Estrada de Porto Velho, próximo à sede da Polícia Federal. Uma multidão se aglomerou no local para acompanhar os trabalhos da perícia da Polícia Civil. O  laudo apontou que ela foi agredida com algum tipo de instrumento contundente na parte de trás da cabeça.

A adolescente apresentava ainda escoriações, sinais de agressões em outras partes do corpo e foi confirmado o estupro. Usava as mesmas roupas e o relógio que havia vestido na noite anterior, quando saiu de casa. Outro mistério é que não se sabe o que aconteceu com a bolsa vista com ela nas imagens registradas no posto.

Passeata dos alunos do Cefetes em protesto contra o assassinato de Isabela Cassani - 26/10/99. Crédito: Chico Guedes/Arquivo AG
Passeata dos alunos do Cefetes em protesto contra o assassinato de Isabela Cassani - 26/10/99. Crédito: Chico Guedes/Arquivo AG

SAGA POR JUSTIÇA

Desde aquele dia teve início a saga por justiça de seus pais, Robson Antonio Sodré Cassani e Risa Márcia Lopes Negri, e de seu padrasto, Nelson Hespanha Borges Filho, que se desesperou ao reconhecer o corpo de Isabela. A dor da perda levou a mãe para o hospital.

Foram incansáveis caminhadas, com distribuição de panfletos e de outdoors pela cidade, denunciando a demora nas investigações e clamando por informações que levassem ao assassino. Os amigos de escola se reuniram e promoveram passeatas pelas ruas da cidade. O mesmo fizeram remadores de alguns clubes.

O caso foi tema de reuniões e até da CPI da Violência, realizada pela Assembleia Legislativa. Na delegacia, o inquérito passou pelas mãos de pelos menos dez delegados, além de promotores e juízes, sem que o crime fosse desvendado. Após duas décadas de expectativas, apesar dos pedidos da reportagem, a família de Isabela decidiu não mais falar.

A Gazeta integra o

Saiba mais
Assassinato crime

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.