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Produção da indústria do ES tem a segunda maior queda do Brasil

Produção da indústria do ES tem a segunda maior queda do Brasil

Volume de produção nas fábricas em novembro caiu 4,9%. No acumulado de janeiro a novembro de 2019 retração da indústria capixaba já chega a 14,9%

Publicado em 14 de janeiro de 2020 às 17:38

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Caldeira da usina da Suzano, em Aracruz: dificuldades na empresa puxaram queda na produção industrial. (Divulgação / Suzano)

A indústria do Espírito Santo continua amargando um período de baixo desempenho. No mês de novembro de 2019, a produção industrial no Estado teve queda de 4,9% em relação ao mês anterior, levando o setor industrial capixaba ao segundo pior desempenho do país no mês, perdendo apenas para  o Paraná (que teve queda de 8%).

Os dados são da Pesquisa Industrial Mensal (PIM), do IBGE, divulgada nesta terça-feira (14). Mais uma vez, os setores de produção de celulose, indústria extrativa e metalúrgica tiveram os piores resultados. 

Com mais esse resultado negativo, o acumulado da produção industrial em 2019, entre janeiro e novembro, apresenta uma queda de 14,9%.

Já no Brasil o resultado da indústria, apesar de também ter sido negativo foi melhor (-1,2%) na comparação entre outubro e novembro de 2019.  Já no acumulado de janeiro a novembro a variação nacional foi de -1,1%. O Estado com o pior resultado da indústria até novembro continua sendo o Espírito Santo (-14,9%).

Ao longo do ano de 2019, a indústria capixaba apresentou sucessivas quedas na produção. Segundo analistas e fontes do setor, os principais motivos são problemas pontuais nas principais empresas que atuam no Estado nos setores de celulose (Suzano), mineração (Vale) e metalurgia (ArcelorMittal). Entres os pontos estão a tragédia de Brumadinho, que afetou a produção de minério que vem para o Estado; a falta de matéria-prima (base florestal) da Suzano; e a baixa demanda de aço e celulose no mundo.

O diretor executivo do Instituto de Desenvolvimento Industrial do Espírito Santo (Ideies), da Federação das Indústrias do Estado (Findes),  Marcelo Saintive, lembra que a indústria capixaba ainda é muito setorizada e, por isso, quando um setor tem um desempenho negativo a indústria geral acaba sendo impactada.

"O Estado precisa diversificar sua base de produção industrial. Quanto menos depender de um único setor, melhor será para a indústria na totalidade. Hoje que quando a celulose, o extrativismo ou a metalurgia, tem um resultado negativo o PIB do Estado é diretamente impactado", comenta.

Esses problemas podem ser conferidos nos números do IBGE. De janeiro a novembro, o setor de celulose no Estado acumula uma queda de 36% na produção e o da indústria extrativa uma baixa de 19,6%.

Ainda segundo Saintive, a retomada da Samarco, aguardada para o final deste ano, será importante para a indústria extrativa capixaba. "A volta das operações da empresa impactam positivamente a produção física do Estado e com isso o resultado do PIB. Além disso, a economia do país melhorando deve refletir no aumento da produção industrial do Espírito Santo. Um terceiro fator que deve influenciar nos números ao longo do ano é o efeito estatístico. Estamos vindo de um ano com resultados negativos, então nossa base de cálculo ainda é muito ruim", aponta. 

"Indústria capixaba ainda é excessivamente concentrada e dependente do mercado externo"

O Espírito Santo apresentou algumas das piores quedas em relação ao mês anterior, -4,9%, sendo a segunda taxa negativa consecutiva. Além disso, na comparação com o mesmo mês de 2018 a queda ficou em -24,3%. E por fim, no acumulado do ano para o período janeiro a novembro de 2019, a redução no Espírito Santo já chega a -14,9%, o pior valor entre as 15 regiões pesquisadas. Segundo o Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) a queda de novembro de 2019 em relação a novembro de 2018, foi pressionada principalmente pela Indústria Extrativa (-31,8%) que reflete a queda de produtividade na produção de minério de ferro pelotizado e o setor de petróleo e gás natural. De acordo com a Agência Nacional do Petróleo (ANP), no acumulado do ano, a produção do setor de petróleo caiu -16,8% em comparação com o mesmo período do ano passado. Também tivemos quedas significativas nesse período na indústria de transformação (-16,9%), na qual vemos variações na fabricação de celulose e papel (-44,5%) e metalurgia (-28,9%). Apesar dos números, o empresariado capixaba segue confiante na recuperação econômica, segundo o Ideies/Findes, o Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) do Espírito Santo atingiu 64,1 pontos em dezembro de 2019, permanecendo acima dos 60,0 pontos e superior à média histórica (54,1 pontos). De fato, uma recuperação econômica nacional, como de fato é esperada, irá contribuir, mesmo que marginalmente, com a indústria local. Porém, ainda temos uma indústria excessivamente concentrada e dependente do mercado externo, o que nos torna sempre condicionados ao cenário internacional, sobretudo por uma alta demanda global por aço e celulose. Sendo assim, as expectativas para um bom 2020 irão girar em torno de uma retomada da economia local e de um crescimento global, além de um melhor clima quanto as tensões internacionais principalmente entre as duas maiores economias do planeta, EUA e China. (Naone Garcia, economista e conselheiro do Corecon)

ANÁLISE

"Nos próximos anos vamos observar um novo crescimento"

É um problema sério o que vem acontecendo com a indústria brasileira e especialmente a capixaba. Já tem cerca de 20 anos que a nossa matriz produtiva vem se desindustrializando. Optamos desde, pelo menos a 2003, a construir a nossa economia em cima de commodities. Tivemos um crescimento fantástico de 2002 a 2006 vendendo commodities, especialmente, para a China. Portanto, os dados da pesquisa não indicam que não estamos retomando o caminho do crescimento. Estamos retomando sim, ainda que vagarosamente, mas há indicativos que o PIB deste ano passa de 2% no Brasil. As reformas estão sendo feitas, nos próximos anos vamos observar um novo crescimento, mas ainda com centro em commodities. Mas, é bem possível que, se as reformas forem sérias, sobretudo, no tocante a viabilizar a ação dos empreendedores, ou seja, se as reformas conseguirem nos vocacionar novamente a indústria, nós pode mudar a nossa matriz econômica. Mas, essa pesquisa não indica que não retomamos o crescimento, somente indica a nossa desindustrialização.

(Vaner Corrêa, economista e conselheiro do Corecon)

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