Publicado em 22 de dezembro de 2020 às 11:15
Um menino de 11 anos, morador de Guarapari, com paralisia cerebral, hidrocefalia e epilepsia, está há mais de dois anos sem receber o Benefício Assistencial à Pessoa com Deficiência (BPC/LOAS) do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Não obstante, o órgão quer que os pais do garoto, que estão desempregados, devolvam mais de R$ 55 mil, referente ao que foi pago antes do bloqueio.>
A criança, chamada Gabriel, perdeu o benefício por volta de junho de 2018, após o INSS identificar que o pai do menino, Rodrigo Milagre, 37, que na época tinha um emprego formal como leiturista de relógio de energia, recebia mais que um salário mínimo. >
Ocorre que um dos critérios para receber o BPC é ter renda familiar igual ou inferior a 1/4 do salário mínimo vigente. Na época, a família era composta pelos pais, Gabriel e o irmão gêmeo. Entretanto, segundo o pai, o INSS teria reavaliado o benefício no mês em que ele recebeu férias e adicionais, o que inflou sua renda temporariamente.>
"Analisaram e consideraram que Gabriel não precisava do benefício, que a gente tinha mais dinheiro do que dizia. Ali começou a nossa luta, conta Rodrigo, explicando ainda que, na época, a mulher dele, que já ficava em casa para cuidar dos dois filhos, estava grávida de uma menina.>
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Ele explica que entraram com um processo pedindo o reestabelecimento do benefício, bem como a suspensão da cobrança dos valores já recebidos, entretanto, demoraram a ter uma resposta.>
A mãe, Ingrid Virgínio Gomes, 30, conta que, em meio à batalha judicial, o marido perdeu o emprego, o que agravou a situação. Isso ocorreu em março de 2019, e, já no mês seguinte, o casal solicitou novamente o benefício, que foi negado. Em dezembro, voltaram a tentar, mas, novamente, não tiveram sucesso.>
Depois, veio a primeira decisão favorável da Justiça e paramos de tentar. Ganhamos em primeira instância, e achamos que a situação ia se resolver. Mas o INSS recorreu. Vieram aqui em casa, viram a situação, conversaram com os vizinhos, e ganhamos novamente. Mas, de novo, o INSS recorreu, e vem recorrendo desde então, explica.>
Ingrid conta que, em abril deste ano, conseguiu o Bolsa Família, que vem recebendo desde então no valor do auxílio emergencial. Mas a mãe relata que as dificuldades são diversas.>
Ela explica o BPC era pago a Gabriel desde que o menino tinha um ano de vida, e que, mesmo antes do nascimento dele e do irmão, o pai já trabalhava de carteira assinada. Ganhava, então, um salário mínimo. A remuneração oscilou em alguns momentos, o que levou ao corte do benefício.>
Não apenas cortaram o pagamento como disseram que estávamos dando um golpe no INSS. Fiz uma carta de defesa, e foi negada. Chegou uma multa de R$ 55 mil para que pagássemos pela fraude. E a gente não fraudou nada.>
Ela explica que a família apelou então à União, e conseguiu comprovar que o dinheiro do marido ia para despesas básicas, e o benefício de Gabriel era utilizado para comprar fraldas, leites, e atender outras necessidades do menino. Após a suspensão do benefício, teria passado a buscar fraldas junto à Prefeitura de Guarapari.>
Em novembro do ano passado, a 2ª Vara Federal Cível de Vitória decidiu pela nulidade da multa, e determinou que o INSS restabelecesse o benefício suspenso, pagando inclusive os retroativos desde a indevida cessação.>
A Justiça ficou do nosso lado, mas o INSS continua recorrendo. Pensamos que a situação seria resolvida agora no final do ano, mas o INSS acaba de pedir um recurso especial, atrasando novamente.>
Ingrid explica que, hoje, a família vive de bicos realizados pelo marido, como pedreiro, eletricista e vendedor de tapetes. Mas o que a família consegue mal dá para arcar com as despesas básicas.>
Ela explica que o menino tem problemas respiratórios frequentes e precisa de fisioterapia. Por um tempo, as consultas teriam sido doadas por uma clínica, e o transporte era feito pela Prefeitura de Guarapari. Entretanto, alega que o transporte muitas vezes esquecia de buscá-los, o que fez com que a clínica tornasse as sessões esporádicas, a cada dois meses. >
Diante das dificuldades, a família chegou a criar uma vaquinha virtual em agosto, pedindo doações para pagar pelas consultas. >
As pessoas ajudaram bastante. Recebemos também doação de alimentos, roupas, entre outros materiais. Isso ajuda a família, mas não resolve o problema de Gabriel por completo. Mais que doação, a gente precisa que a situação se resolva, e que essa luta chegue ao fim.>
Procurado pela reportagem, o INSS informou que, enquanto aguarda a decisão judicial, a família pode solicitar novamente o Benefício de Prestação Continuada.>
Alguns aspectos devem ser considerados porque, ao receber o requerimento, o INSS realiza cruzamentos de dados com outros sistemas, e identifica se o requerente está inscrito no Cadastro Único e atende ao critério de renda para recebimento do BPC (a renda per capita deve ser inferior a 1/4 do salário-mínimo, ou R$ 261,25). No caso das pessoas com deficiência, além da avaliação social, é necessária também uma avaliação médica, feita por um perito federal, numa unidade do INSS, informou em nota.>
A Secretaria de Saúde (SEMSA) de Guarapari também foi procurada, e informou que o município conta com o serviço de transporte sanitário para atender aos pacientes que necessitam de tratamento especializado, e que ele pode ser acessado diretamente na sede da Semsa, localizada no bairro Muquiçaba, ou através do telefone direto (27) 3361-7024.>
Outro serviço à disposição da população de Guarapari é o de fisioterapia, onde a Semsa dispõe de profissionais fisioterapeutas efetivos, que atendem aos munícipes com fraturas em geral, e/ou que necessitem de tratamento conservador, pós-operatório ortopédico e tratamento pós-traumático, entre outros. O paciente, ou seus responsáveis, deve buscar junto a Secretaria de Saúde o acesso aos serviços ofertados gratuitamente pelo SUS municipal, diz a nota. >
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