Publicado em 24 de setembro de 2020 às 05:00
A alta dos preços de alguns itens, como comida e material de construção, assustou muitos brasileiros nos últimos meses. A alimentação nos domicílios, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), teve alta de 2,9% na Grande Vitória em julho, com destaque para o arroz, óleo de soja e leite, que subiram mais de 20%. Já na área da construção civil foi observado crescimento de 10% no preço do tijolo e de 6% nos revestimentos cerâmicos. >
A previsão dos especialistas é que os preços voltem a cair entre o fim deste ano e o início do ano que vem. Parte da razão para essa queda, contudo, é preocupante: com a redução do valor do auxílio emergencial e a aproximação do fim dos pagamentos, é esperado que haja uma queda no consumo, principalmente por parte da população de baixa renda. Com menos gente consumindo itens básicos, como alimentos, a expectativa é que o preço seja puxado para baixo.
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"A economia ficou por três meses muito parada por conta do impasse que a Covid proporcionou e, assim que houve atitudes da política econômica para socorrer os menos favorecidos, o consumo automaticamente aumentou. O que é uma coisa dentro da normalidade. Esse movimento ficou muito forte porque as pessoas que receberam o auxílio passaram a ter dinheiro para comer, e a demanda por alimentos aumentou na proporção da capacidade de consumo deles", explica a economista e professora da Fucape Arilda Teixeira.>
No Estado, entre abril e julho, o benefício voltado aos informais e desempregados contemplou cerca de 1,2 milhão de pessoas em território capixaba, injetando R$ 2,2 bilhões na economia local nesses quatro meses, segundo o Portal da Transparência do governo federal.>
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De acordo com a Arilda, além da expansão do consumo, outros fatores como a alta do câmbio que favoreceu as exportações e encareceu a produção industrial e uma redução da produção também contribuíram para uma diminuição na disponibilidade de produtos aos brasileiros. Com menos oferta no mercado e com a procura em alta, os preços aumentaram.>
Os dias de alta no consumo, porém, estão contados. O governo federal reduziu pela metade o valor das parcelas do auxílio emergencial até dezembro. Os beneficiários, que recebiam R$ 600 por mês, passarão a receber parcelas de R$ 300. Um ajuste nas regras também reduziu o escopo de pessoas que têm direito ao recurso.
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Além disso, o presidente Jair Bolsonaro já anunciou que abandonou a criação do Renda Brasil, um sucessor do Bolsa Família que teria valor maior e alcançaria mais pessoas do que o benefício atual. Sem conseguir resolver o impasse sobre a origem do recurso que financiaria o novo programa social, Bolsonaro disse que desistiu da ideia. Nesta quarta-feira (23), o governo disse que vai criar o Renda Cidadã no lugar dos dois programas, mas ainda precisará abrir espaço de R$ 30 bi no orçamento para viabilizá-lo.>
Uma das ideias é criar a nova CPMF para conseguir recursos para os auxílios, que terão os pagamentos previstos na PEC do Pacto Federativo, em tramitação no Congresso.>
A economista e professora da Uninter Pollyanna Rodrigues Gondin explica que, com a retirada desses benefícios e sem outra ajuda financeira em vista, as pessoas voltarão a consumir menos. Com isso, os produtos tendem a "sobrar" no mercado e o preço cai.
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"Além de o preço baixar, com menos consumo, as empresas começam a demitir e a renda cai, o que leva a uma nova queda no consumo. Isso forma um círculo vicioso que, além de não beneficiar população, não beneficia o crescimento do país", diz.>
Sem o auxílio, a situação dos mais pobres votará ao patamar de 2019. No Espírito Santo, segundo o IBGE, um terço das famílias tinha dificuldades de colocar comida na mesa no ano passado. Ao todo, são 425 mil lares que precisam limitar o tipo ou porção dos alimentos que consomem, ou até passam fome.>
"É uma situação estrutural do país, que tem um quarto da população abaixo da linha da pobreza. Essa tristeza já existe, está na estrutura da economia brasileira e não há indício de que isso vai se reverter. Não há mudanças em curso que mostrem alguma alteração que possa reverter essa situação", aponta Arilda.
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É possível ainda que a crise do coronavírus tenha efeitos ainda mais nefastos. Com a taxa de desemprego sendo projetada a 14% para este ano, mais famílias devem passar a integrar essa zona de insegurança alimentar. >
"Acredito que, ao fechar das nossas contas, teremos um resultado negativo. Por mais que a população tenha esse auxílio, também tem mais gente desempregada. Gente que tinha renda maior e que consumia mais vai consumir menos. O auxílio veio em um momento necessário, mas não vamos ter melhora nos indicadores de pobreza, acredito que vai piorar", aponta Pollyanna.
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