Publicado em 27 de agosto de 2020 às 12:58
Causadora de uma das piores crises da história brasileira, a pandemia do novo coronavírus reacendeu o debate sobre a necessidade de reformas fiscais. Uma delas, a tributária, pode reduzir a dívida bruta do governo federal de quase 100% do Produto Interno Bruto (PIB) para algo próximo de 30% até 2036. >
A discussão sobre a mudança é antiga. O Brasil, segundo especialistas diversos, tem um dos sistemas tributários mais complexos do mundo, o que afasta investidores e impede um crescimento mais sustentado da economia. >
Diante da necessidade de atender diversas demandas sociais em um período de queda na arrecadação, o governo federal enviou ao Congresso, no mês passado, o Projeto de Lei nº 3.887/2020, a primeira etapa de sua reforma. >
O texto prevê, entre outros pontos, a criação da Contribuição Social sobre Operações com Bens e Serviços (CBS), com alíquota de 12% exceto para instituições financeiras, que terão contribuição de 5,8% , em substituição à atual cobrança das alíquotas de PIS/Pasep e Cofins, que incidem sobre a receita e a folha de salários das empresas, além da importação.>
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Para as próximas fases, está prevista alteração nas cobranças do Imposto de Renda de Pessoas Físicas e Jurídicas e a criação de um novo imposto sobre pagamentos, semelhante à extinta CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira).>
O projeto do governo federal não é o único. Tramita na Câmara dos Deputados a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 45, idealizada pelo economista e diretor do Centro de Cidadania Fiscal (CCiF), Bernard Appy, que propõe uma mudança mais ampla na tributação do país.>
Ele participa neste sábado do evento "Os impactos da reforma Tributária no ES e no Brasil na pós-pandemia", do Instituto Brasileiro de Executivo de Finanças (Ibef). Também estarão no debate o ex-deputado e economista Luiz Carlos Hauly; a asessora especial do Ministério da Economia, Vanessa Canado; a economista-chefe do Santander, Ana Paula Vescovi, além de outros convidados. >
A proposta de Appy prevê a extinção de cinco tributos Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS), Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e Contribuição para o Programa de Integração Social (PIS) , que seriam substituídos por um imposto unificado, o Imposto sobre Operações com Bens e Serviços (IBS), nos moldes de um Imposto sobre Valor Agregado (IVA).>
Além de reduzir a dívida bruta do governo até 2036, essa reforma aumentaria o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro em cerca de 20% em 15 anos. Se fizer uma reforma só do PIS/Pasep e Cofins, como o governo está propondo, o efeito será muito menor. E não tem motivo para isso. O custo político de fazer uma reforma ampla não é muito maior que fazer uma reforma menor.>
Na visão do economista, a reforma da PEC 45 seria vantajosa não somente pelo impacto fiscal, mas porque tem um período de transição de cerca de 10 anos, o que facilitaria a adaptação de empresas e população. Já a proposta apresentada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, estabelece seis meses de transição.>
Um dos pontos mais sensíveis envolvendo a discussão da reforma tributária é a desoneração da folha de pagamentos, que está em vigor desde o governo Dilma Rousseff e já chegou a beneficiar cerca de 50 setores. Entretanto, o número segmentos atendidos vem reduzindo ao longo dos anos. Atualmente, 17 segmentos são contemplados, entre eles: comunicação, confecção/vestuário, construção civil e tecnologia de informação (TI), e eles empregam cerca de 85 mil pessoas no Estado.>
Essas empresas podem contribuir com a Previdência com um percentual que varia de 1% a 4,5% sobre a receita bruta. Sem essa medida, a empresa seria obrigada a recolher 20% sobre a folha de pagamento, o que eleva os gastos com pessoal. >
Prevista inicialmente para ser ampliada até o final de 2021 em uma alteração da MP 936, a desoneração da folha para esses segmentos foi barrada pelo presidente Jair Bolsonaro e pode perder a validade no final de dezembro, caso o veto seja mantido. A análise do veto pelo Congresso Nacional, que poderia derrubá-lo, estava prevista para o último dia 19, mas foi adiada a pedido do governo.>
Uma das justificativas apresentadas pelo governo é o fato de que a desoneração atual é setorial, injusta, e que, para ampliá-la, seria preciso encontrar uma forma de compensação à perda de arrecadação. Uma das possibilidades avaliadas é a criação do imposto sobre transações digitais, nos moldes da antiga Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). >
Bernard Appy
Economista e diretor do Centro de Cidadania Fiscal (CCiF, autor da PEC 45Segundo Appy, é preciso encontrar outras formas de financiamento, como, por exemplo, corrigindo distorções do Imposto de Renda. E apesar de defender a ampliação da desoneração da folha para os demais setores, o economista avalia que isso deve ser feito de forma mais tranquila. "A desoneração setorial é ruim, mas acabar com essa possibilidade em meio à crise é ainda pior.">
Apesar da resistência apresentada por parte do setor de serviços, por exemplo, o autor da PEC 45 considera o momento propício para a aprovação de uma reforma tributária. Appy considera que a pandemia tornou a reforma mais relevante que nunca, e que a ideia tem sido bem recebida pelo Congresso Nacional. Mais que isso, também há apoio por parte dos Estados e municípios. >
"Pode ser a diferença entre solvência e insolvência do setor público. Mas, essencialmente, impacta o crescimento da economia como um todo. É verdade que o grosso desse efeito é de prazo mais longo. Começa a aparecer principalmente a partir do quinto ou sexto ano. Porém, se você aprova uma reforma tributária, desde o início surge a percepção de que o país vai crescer mais, e isso atrair investimentos, cria emprego, renda." >
Os interessados em participar do evento "Os impactos da reforma Tributária no ES e no Brasil na pós-pandemia" podem se inscrever aqui. O encontro on-line é gratuito.>
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