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Bancos digitais e apps pagam até 210% do CDI ao poupador; há riscos

Bancos digitais e apps pagam até 210% do CDI ao poupador; há riscos

Empresas como PicPay, Nubank e Mercado Pago oferecem na conta-corrente ou carteira digital rentabilidade maior que a caderneta e outros títulos de renda fixa para atrair clientes

Publicado em 5 de dezembro de 2020 às 12:25

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Usuário segurando um cartão de crédito e um celular com aplicativo financeiro aberto
Nubank e PicPay são algumas das empresas que oferecem o benefício. (Siumara Gonçalves)

Na batalha pelos clientes, os bancos e carteiras digitais têm competido em um novo terreno, prometendo fazer render o dinheiro do dia a dia, aquele que fica na “conta-corrente”. Para chamar a atenção dos usuários, as fintechs têm oferecido rendimentos não só superiores à poupança, mas até maiores do que outras opções de investimento em renda fixa disponíveis no mercado.

Enquanto a poupança tem pagado 1,4% ao ano, segundo dados do Banco Central, algumas empresas prometem pelo menos 2,44%. Esse valor é o equivalente a 100% do CDI atualmente. Em outros casos, há rentabilidade de até 210% do CDI.

Essa é a rentabilidade divulgada, por exemplo, pelo Nubank e pelo Mercado Pago, para qualquer valor disponível na conta, com liquidez diária. Ou seja, a pessoa pode movimentar o recurso quando quiser e com o rendimento proporcional ao período que o dinheiro ficou lá.

Em novembro deste ano, o PicPay fez um movimento ainda mais ousado, ampliando o rendimento da conta digital dos clientes para 210% do CDI, ou cerca de 5,4% ao ano em números atuais.

O que é o CDI?

• O Certificado de Depósito Interbancário (CDI) nada mais é do que um empréstimo que um banco faz com outro.

• A taxa aplicada nessa operação regula o mercado de renda fixa. Por isso, é comum que outros tipos de aplicações utilizem o CDI como base, como é o caso dessas fintechs.

• Nesses casos, o CDI serve como uma referência de rentabilidade. Ou seja, essas instituições prometem retornos com taxas equivalentes ou baseadas no CDI.

Entenda

ESTRATÉGIA PARA ATRAIR CLIENTES

O especialista em investimentos e professor da Fucape, Fernando Galdi, explica que essa é mais uma das estratégias das fintechs para angariar mais clientes, já que os bancos tradicionais não costumam oferecer rentabilidade sobre o dinheiro que fica na conta-corrente.

“Elas querem é roubar os clientes dos grandes bancos. Para o cliente, é bom ter essa competição. São produtos muito atrativos que você não tem nos grandes bancos. Pela primeira vez os bancos tradicionais estão se sentindo incomodados com a maior concorrência. E eles estão tendo que correr atrás”, diz.

O especialista explica que essas carteiras e bancos digitais conseguem oferecer rentabilidades mais altas que o CDI porque a Selic está em um patamar historicamente baixo. As duas taxas costumam andar juntas. A Selic atualmente é de 2% ao ano, mas já foi muito maior no passado, chegando a 14% em 2016.

Essas empresas foram, ainda, muito capitalizadas nos últimos anos, recebendo aportes dos investidores e, com isso, podem usar o recurso oferecendo esse tipo de produto.

“Algumas empresas investem em publicidade, outras em dar mais benefícios para o cliente. Elas valiam que pagar os 210% do CDI é menor que o valor que o cliente vai agregar para a empresa ao longo dos anos. Eles olham para a vida toda do cliente na empresa. Elas começam a enxergar agora o potencial que cada cliente tem de gerar valor ao longo da vida da empresa e não só em uma operação”, esclarece.

VALE A PENA?

Antes de correr para colocar o dinheiro em algumas dessas carteiras digitais é bom ficar atento a alguns detalhes. O primeiro deles diz respeito ao Imposto de Renda. Diferente da poupança, o rendimento dessas aplicações não é isenta de impostos, que são regressivos quanto maior o tempo que o dinheiro fica parado ali.

Outro ponto importante é a garantia. Segundo o Nubank, todo o dinheiro mantido na conta, assim como nas funções Guardar Dinheiro e Resgate Planejado são aplicados em Recibos de Depósito Bancário (RDB) com garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) de até R$ 250.000,00.

Para o poupador, o Nubank oferece duas modalidades: uma o consumidor pode sacar o dinheiro quando quiser; em outra só pode resgatar o recurso com data marcada. Dependendo da data escolhida, o poupador pode receber até 112% do CDI.

Já os depósitos feitos na conta do PicPay não são amparados pelo FGC. A empresa esclarece, contudo, que, conforme regulamentação do Banco Central, todo recurso depositado na fintech é investido em títulos públicos. Isso significa que, mesmo que o PicPay quebre, o dinheiro das pessoas está protegido, segundo o app.

A Gazeta procurou o Mercado Pago, mas não obteve resposta. Porém, no site, a empresa afirma que o rendimento da conta também tem como base os títulos públicos federais, uma aplicação de baixo risco garantida pelo governo por meio do Tesouro Direto.

O terceiro ponto de atenção é o tempo de duração dessa rentabilidade. Como não são produtos de renda fixa tradicionais, e sim um benefício concedido pelas empresas para atrair clientes, é possível que a taxa de rentabilidade varie para cima ou para baixo de acordo com a estratégia de cada companhia.

A rentabilidade de 210% do CDI anunciada pelo PicPay em novembro, por exemplo, só é garantida até o fim deste ano. A empresa afirma que ela pode ou não ser estendida.

“O aumento na rentabilidade da carteira virtual faz parte de uma estratégia da companhia que visa despertar o interesse dos usuários em utilizar o saldo em conta para explorar diversas funcionalidades do aplicativo, como o Pix, os serviços da PicPay Store, pagamentos via QR Code em estabelecimentos parceiros, entre outras”, esclarece.

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