Uma condição chamada "malformação arteriovenosa medular" não foi capaz de parar Thais Lopes do Sacramento, de 28 anos. Ela, que ficou paraplégica em 2019, após uma cirurgia de alto risco para a retirada da medula, subiu o Morro do Moreno, em Vila Velha, no último sábado (12), e, na cadeira de rodas, se aventurou no rapel.
Desde o início do diagnóstico da doença, que pode ser explicada como uma anomalia vascular provocada por defeitos na comunicação entre veias e artérias da medula espinhal, Thais sabia que, caso saísse com vida do procedimento médico, poderia ficar sem andar. E o desejo pelos esportes radicais não é de hoje, surgiu ainda na adolescência, quando ela conta que não teve tempo para fazer.
Depois de perder os movimentos das pernas, a jovem achou que a vontade de se aventurar nesse tipo de atividade seria impossível de ser concretizada. No entanto, um dia Thais, que trabalha como auxiliar administrativa, se deparou com uma publicação nas redes sociais que mostrava uma cadeirante fazendo rapel. "No momento que vi, fiz contato, e, para minha surpresa, o instrutor Sandro logo abraçou a minha vontade", contou. Veja publicação que a inspirou:
O desejo de Thais foi possível também graças ao projeto Parajiu-Jitsu, de Colina de Laranjeiras, na Serra, onde ela vem praticando a arte-marcial (jiu-jitsu) há dois anos. Segundo o professor do esporte, Eleser Batista, de 37 anos, a iniciativa tem a finalidade de incluir pessoas com limitações físicas no esporte. "Com o passar das aulas, vimos que estávamos transformando vidas. Dentro e fora do tatame, nosso legado é de poder transformar o mundo em um lugar melhor".
"No caso da Thais, os desafios para subir o morro foram, a todo instante, preocupantes, porém, a equipe 'vertical.es' nos deixou tranquilos. Mas a subida foi bem exaustiva. Quando chegamos ao topo, fiquei aliviado e emocionado, pois a visão da descida foi surreal, impressionante, tive a sensação de dever cumprido, pela amizade e zelo com a Thais. Juntos somos mais fortes", finalizou Batista.
Thais afirma que ter passado a se locomover com ajuda da cadeira de rodas a fez se sentir uma pessoa ainda melhor. "Hoje posso afirmar que, apesar de não poder andar, a cadeira de rodas me fez quebrar traumas do passado, me transformou em uma mulher melhor. Estranho falar que hoje, mesmo com a deficiência, sou muito mais feliz do que quando andava", disse.
No início, a jovem disse que não sabia bem como encarar a nova condição, ainda mais sendo responsável pela filha, hoje com 10 anos, com quem mora. "Se aceitar em uma nova condição é uma barra pesada para qualquer pessoa, eu mesma tive o famoso preconceito comigo mesma. O meu maior desafio, por vezes, é a falta de acessibilidade no modo geral", encerrou.
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