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Uma mãe ajuda a outra: conheça grupos de apoio à maternidade no ES

Uma mãe ajuda a outra: conheça grupos de apoio à maternidade no ES

Desde acolhimento para mães com filhos atípicos até dicas para lazer e diversão. Saiba como participar de reuniões presenciais e on-line

Eduarda Lisboa

Estagiária / elisboa@redegazeta.com.br

Publicado em 11 de maio de 2024 às 12:10

Por mais gratificante que possa ser, a maternidade muitas vezes é um caminho solitário, principalmente, para aquelas que não possuem rede de apoio. Certamente, a experiência de ter filhos é algo único e singular para cada uma, mas todas as mães passam pelo mesmo desafio: cuidar daqueles que amam – e ainda cuidar de si mesma.

Solidão, medo, culpa e vergonha foram os sentimentos que as mães ouvidas pela reportagem de A Gazeta mais descreveram ao perguntar sobre a vivência da maternidade para cada uma. Nenhuma delas negou o amor e sentimento gratificante de trazer vida ao mundo, mas todas sentiram – e ainda sentem – falta de serem acolhidas. 

Para marcar o Dia das Mães, comemorado no próximo domingo (12), A Gazeta traz diversos grupos e coletivos que acolhem e orientam as homenageadas do dia. Confira !

Mamães Capixabas

Assim como muitas mães, esse grupo é multitarefas. O que começou como opções de lugares e programações ideais para todas as famílias na Grande Vitória se tornou uma grande rede de apoio, dicas e indicações on-line para todo tipo de mãe. A atual responsável pelo Mamães Capixabas, Grazieli Esposti, conta como tudo começou.

Grazieli Esposti, com os filhos, troca informações com outras mães na página Mamães Capixabas
Grazieli Esposti, com os filhos, troca informações com outras mães na página Mamães Capixabas Crédito: Acervo pessoal

"Fui convidada para administrar o perfil do Instagram Mamães Capixabas, que é uma referência do que fazer com crianças no Espírito Santo. A partir da página, começamos a receber muitas perguntas, não só sobre indicações de locais, mas também sobre tudo relacionado à maternidade. Pensando nisso, criamos o grupo de WhatsApp, em 2021, para ser um meio de troca de informação. É colaborativo, ou seja, uma mãe ajuda a outra, então ninguém passa pelo grupo sem ter pelo menos uma resposta para sua dúvida", explica Grazieli, que também é mãe de dois filhos.

O grupo é filtrado e possuiu algumas regras para garantir a segurança e o bom convívio entre todas as mães. O ambiente virtual é ideal para mães de primeira viagem ou ainda aquelas que estão sobrecarregadas e precisam de um espaço para serem ouvidas.

Grazieli relata que sua própria trajetória começou pelo sentimento de solidão, ao ser a única em seu grupo social grávida e sem familiares por perto. Ela usou as redes sociais para dar voz a esses sentimentos e a outras questões da maternidade, encontrando outras mulheres que passam pelos mesmos problemas diários. Já há 10 anos nessa jornada de apoio a mães, Grazieli afirma que sentiu a sua vida se transformar nesse processo.

"A cada palavra de conforto que eu dava para uma mãe, na verdade estava me ajudando. Isso ia lá atrás nas minhas dores e nas minhas feridas e aliviava. Foi muito importante para o meu maternar poder fazer isso por outras mulheres. E olha que, às vezes, não precisava de muita coisa, apenas ouvir um desabafo. Por esse envolvimento, quis me aprofundar e estudar. Eu fiz uma certificação como educadora parental para ter mais conhecimento técnico para ouvir e ajudar de uma maneira melhor", relata.

Mães pela diversidade

Grupo Mães pela Diversidade no Espírito Santo.
Grupo Mães pela Diversidade no Espírito Santo Crédito: Acervo pessoal

Uma das frases mais comuns para celebrar as mães é: "Mãe, sinônimo de amor". Mas, quando os filhos fogem do padrão social, será que o amor prevalece? As Mães pela Diversidade mostram que sim. Como uma organização nacional de apoio a familiares de pessoas LGBTQIA+, o grupo luta contra o preconceito e ainda acolhe e orienta os pais. 

A coordenadora do movimento no Espírito Santo, Mônica Alves, fala sobre as principais dificuldades das mães e dos filhos que passam por esse processo de descobrimento e aceitação. 

"Para a maioria dos pais, a revelação de seus filhos enquanto uma pessoa LGBTQIA+ é sempre impactante. Principalmente as mães, que se sentem culpadas. Isso porque, tudo que é diferente no filho, a sociedade culpa a mãe. Então, ela também sofre uma rejeição  social quando eles se assumem. Nós ajudamos nesse processo acolhendo os sentimentos dos familiares e informando sobre a nova realidade de seus filhos, em um espaço livre para todas as dúvidas e sem julgamentos”, explica Mônica. 

As reuniões do Mães pela Diversidade acontecem de forma presencial e on-line. Os pais interessados podem entrar em contato pelo site para agendar uma data de acolhimento. Lá, serão direcionados para os responsáveis pelo projeto em seus respectivos Estados.

Mônica ainda observa que o maior desafio da organização atualmente está no acolhimento das mães de pessoas transexuais.  Quem viveu esse processo foi a Luciana, que, apesar de aceitar e apoiar sua filha, Nanda Costa, teve dificuldades para entender questões do cotidiano de uma mulher trans.

Luciana Oliveira, integrante do Mães pela Diversidade, e Nanda Costa, sua filha e psicóloga.
Luciana Oliveira, integrante do Mães pela Diversidade, ao lado da filha, Nanda Costa Crédito: Acervo pessoal

"O grupo Mães pela Diversidade foi um divisor de águas na minha vida, porque, quando minha filha se descobriu enquanto uma mulher trans, eu fiquei um pouco perdida. Mas, com o grupo, consegui apoio para retificação e nome, o que fazer em caso de injustiças e outras coisas práticas. Eu vi que minha filha estava triste, então fui buscar entender o sentimento dela, porque não aguentava mais ver ela assim. E, quando eu passei a entender e a apoiá-la, nossa relação melhorou muito. Ganhamos mais confiança uma na outra", conta, emocionada, Luciana.

Nanda também sentiu a diferença na relação de mãe e filha e conta como isso influenciou no seu processo de identificação. “Se reconhecer como uma pessoa trans é um processo muito difícil. Mas minha mãe me deu apoio com acolhimento e amor e também em questões práticas. Então, ela saiu para comprar roupas novas comigo, comprar maquiagem, me incentivou para terminar os estudos. Ela é fundamental para mim.”

Instituto Equilybrio

A experiência de acolhimento com Luciana levou a filha a também fazer parte de um grupo de apoio a mães. Agora formada em Psicologia, Nanda Costa auxilia na gestão do Instituto Equilybrio, que acolhe mães enlutadas, principalmente aquelas que perderam seus filhos em situação de violência e em conflito com a lei.

"No grupo, trabalhamos com um processo de luto que não é legitimado pela sociedade que prega que 'bandido bom é bandido morto'. Então, muitas vezes essas mães se encontram sozinhas, em meio à perda de seus filhos, sem ninguém que acolha e compreenda sua dor", explica a psicóloga.

O grupo terapêutico é gratuito. Podem participar todas as mães que sofrem com o luto de seus filhos, bem como com a perda gestacional. As interessadas podem entrar em contato pelo o Instagram @institutoequilybrio

 Instituto Voe

Cada mãe é única, assim como seus filhos. Entendendo isso, o Instituo Voe trabalha para que crianças neurodivergentes possam desenvolver as habilidades socioemocionais e, ainda, acolhe e orienta os pais, que muitas vezes se encontram perdidos diante do diagnóstico. Esse é o caso da Idma Tavares e do pequeno Benjamin, que possui transtorno do espectro autista. 

"Benjamin foi diagnosticado com três anos, após ser internado por uma crise de seletividade alimentar. Para nós, foi algo inesperado, mas eu precisava arregaçar minhas mangas e lutar por ele. Nesse processo, não tinha ninguém para me ouvir, me entender e acolher meu medo de não ser uma boa mãe para ele. Foi quando conheci mulheres maravilhosas do instituto, que me acolheram e me ouviram", explica Idma.

Idma Tavares, mãe atípica e seus filhos.
Idma Tavares com os filhos, entre eles, Benjamin Crédito: Acervo pessoal

Atualmente, o Instituto Voe possui atividades online e presenciais, como workshops, grupos de vivências e debates para pais e filhos atípicos. O impacto na vida da Idma foi tão grande que, atualmente, ela conta seu depoimento e discute sobre qual é o lugar das mães na vida dos filhos com autismo.

"Para mim, a mãe está em primeiro lugar, pois, se ela não corre atrás, a criança não recebe o tratamento adequado, não tem seus direitos garantidos e não tem sequer chance de chegar a lugar nenhum. Porém, infelizmente, para a sociedade, a mãe atípica está em último lugar, pois não temos nenhum apoio e vivemos na insegurança, sem saber o que será dos nosso filhos quando não estivermos mais aqui" desabafa Idma.

Mães Eficientes Somos Nós

O coletivo Mães Eficientes Somos Nós, acolhe mães com filhos atípicos e  lutam pelos direitos das pessoas com deficiência no ES.
Coletivo Mães Eficientes Somos Nós acolhe mães com filhos atípicos e lutam pelos direitos de PCDs Crédito: Divulgação

Para além do acolhimento, há mães que se unem para ir à luta pelos direitos de seus filhos. O coletivo Mães Eficientes Somos Nós atua, principalmente, na Serra para a garantia e criação de politicas públicas para pessoas com deficiências (PCD). A organizadora, Lucia Martins, explica que o grupo é para todas as mães atípicas que precisam de suporte.

"A mãe que exerce a maternidade atípica é muito abandonada. No coletivo, a maioria das mulheres são mães solo e periféricas que criam seus filhos completamente sozinhas, sem nenhuma rede de apoio e totalmente esquecidas pelo poder público. Com esse grupo, conseguimos desabafar e aprender muito umas com as outras. Temos mães com filhos de todas as idades e todos os tipos de deficiência, que precisam dessa rede de apoio para saber que não estão sozinhas." 

Atualmente, o coletivo conta com 240 mães que batalham para que seus filhos tenham acesso à saúde, educação, ao transporte e à vida de qualidade . As interessadas em participar podem entrar em contato pela pagina do Instagram  @maeseficientessomosnos que serão orientadas e, posteriormente, incluídas no grupo on-line.

Mães com Humores

A saúde mental na maternidade, muitas vezes, acaba sendo colocada em último lugar. Pensando nisso – e em sua própria experiência –, Christelle Maillet criou do Mães com Humor(es) para ajudar, acolher e capacitar mães e futuras mães com depressão e transtorno bipolar. 

Christelle Maillet, criadora do Mães com Humor(es) e sua filha.
Christelle Maillet, criadora do Mães com Humor(es), e sua filha Crédito: Acervo Pessoal

 "Quando eu engravidei, sempre foi uma gravidez muito planejada e muito desejada. Mas eu passei muito mal emocionalmente. Eu caí em uma depressão profunda já na gravidez e se estendeu para o pós-parto. Na época, não consegui achar informações suficientes ligadas à saúde mental materna, especialmente para as mães que já tinham o diagnóstico de depressão ou transtorno bipolar. Além da frustração, do medo e da vergonha de tudo o que eu estava passando, não entendia como que uma maternidade tão desejada não estava acontecendo da maneira que tinha sonhado", relata.

Após procurar ajuda profissional, Christelle percebeu que a realidade dela podia ser similar à de outras mulheres. Por isso, criou o canal de divulgação e apoio gratuito no Instagram. Os encontros são virtuais e, para participar, basta realizar sua pré-inscrição para receber as próximas datas de encontro. 

A todas que passam pela depressão e pelo transtorno bipolar, Christelle deixa seu conselho. "Eu quebrei esse isolamento e superei a vergonha. Não tenha medo ou culpa de buscar ajuda. Sinta-se bem-vinda. Você está entre pares. Entendemos você. Você se sentirá abraçada e não julgada", garante.

O coletivo Mães Eficientes Somos Nós, acolhe mães com filhos atípicos e  lutam pelos direitos das pessoas com deficiência no ES.
O coletivo Mães Eficientes Somos Nós, acolhe mães com filhos atípicos e lutam pelos direitos das pessoas com deficiência no ES. Crédito: Divulgação
O coletivo Mães Eficientes Somos Nós, acolhe mães com filhos atípicos e  lutam pelos direitos das pessoas com deficiência no ES.
O coletivo Mães Eficientes Somos Nós, acolhe mães com filhos atípicos e lutam pelos direitos das pessoas com deficiência no ES. Crédito: Divulgação
O coletivo Mães Eficientes Somos Nós, acolhe mães com filhos atípicos e  lutam pelos direitos das pessoas com deficiência no ES.
O coletivo Mães Eficientes Somos Nós, acolhe mães com filhos atípicos e lutam pelos direitos das pessoas com deficiência no ES. Crédito: Divulgação

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