Através de um estudo que contou com o uso de imagens aéreas feitas por drones, registros geográficos de solo e corpos d’água e a perícia de profissionais e estudantes de Geografia, a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), por meio do Laboratório de Geomorfologia e Gestão de Redução de Risco de Desastres, identificou mais de 300 áreas de risco de deslizamento de encostas, rolamento de blocos, erosões, enchentes e enxurradas na Serra, município mais populoso do Estado.
De acordo com o levantamento, são 308 regiões de perigo presentes nos 58 bairros já observados pela pesquisa, entre eles, Jardim da Serra, Feu Rosa, Serra Dourada, Eldorado, José de Anchieta, Central Carapina, Cantinho do Céu e Carapebus. Neles, cerca de 18 mil pessoas estariam nessas áreas, sendo as mais sensíveis as dos bairros Central Carapina e José de Anchieta pelo número de riscos identificados, vulnerabilidade social e contingente populacional.
O estudo, que teve início em março de 2024, é fruto de uma parceria entre órgãos nacionais e municipais e ainda prevê estudos até agosto, visando a identificação de variados pontos de risco ao redor do Brasil. No Espírito Santo, atualmente, a Serra é o único município contemplado, e mais regiões de perigo podem ser apontadas pelo grupo de estudo.
Segundo o professor Celso Goulart, coordenador do trabalho pela Ufes, os setores identificados são classificados com graduação de risco médio, alto e muito alto, o que envolve diversos imóveis e seus habitantes em uma área de, aproximadamente, 1.500 hectares.
“A Serra foi escolhida para esse estudo aqui no Espírito Santo em função dos registros que constam na base de dados do Ministério das Cidades, já que esse registro é fruto de um trabalho anterior com essas mesmas características, que já apontavam para variadas áreas de risco”, explica o professor.
Segundo Goulart, a Serra conta com uma topografia diversa, o que acarreta o risco de movimentos de massas e riscos hidrológicos em períodos de fortes chuvas na cidade. O problema, porém, começa com a ocupação desordenada dessas áreas e a falta de intervenções do poder público para impedir tal movimento.
“Nós estamos falando de áreas com inclinações a partir de 40 graus, e essas áreas passam a ser objeto de busca pela população para edificações de moradia [...], quase sempre com uma precariedade técnica na sua concepção”, detalha o especialista.
O ideal, segundo o professor, é que gestões públicas criem ou melhorem políticas para mitigação dos riscos, com ações de planejamento de ocupação e intervenções que levem à redução ou até mesmo à eliminação dos riscos. Goulart ainda destaca que o ideal para a segurança da população é que todos os municípios contem com estudos similares ao feito na Serra.
Em conversa com A Gazeta, o especialista pontuou que, nas áreas estudadas, hoje são cerca de 18 mil pessoas em áreas de risco no território serrano. O número, porém, já chegou a ser de 40 mil. A diminuição só foi possível, destaca Celso, justamente graças à realização das ações de conscientização e retirada de moradores das regiões vulneráveis.
Na cidade, o Plano Municipal de Redução de Riscos (PMMR) identifica as áreas em quatro etapas: planejamento da execução, mapeamento do risco, oficinas comunitárias e oficina técnica, ações estruturais e não estruturais, relatório final das atividades e sumário executivo.
“As propostas de intervenções serão produtos do diagnóstico executado ao longo das duas primeiras etapas que foram recentemente encerradas. No momento, essas propostas estão sendo elaboradas e serão objeto de debate com as comunidades locais e a gestão pública antes da etapa final, que será a de divulgação ampla dos trabalhos”, detalha o professor da Ufes.
Entre as ferramentas para mitigação e eliminação dos riscos, a readequação dos espaços pode ser ideal para uma melhor qualidade de vida e segurança da população. Para isso, destaca Goulart, obras estruturantes podem ser o caminho para um menor risco, com intervenções para contenção de encostas e diminuição dos riscos de inundação nas cidades.
Para que os riscos identificados não se tornem tragédias reais para a população, a forma mais segura de atuação pode partir de ações coordenadas entre a gestão pública e os próprios moradores. É o que defende o tenente-coronel Fábio Maurício Rodrigues, diretor da Defesa Civil da Serra.
“Não são só obras estruturantes que vão tornar as comunidades mais resilientes. Não basta construímos muros ou projetos similares se a população ainda descarta lixo de forma irregular nas ruas, por exemplo, pois isso acaba descartando aquilo que já fizemos e mantemos para evitar os riscos de deslizamentos e enchentes”, pondera Rodrigues.
Segundo o diretor, para mudar a mentalidade da população e garantir um futuro mais seguro, a Serra já conta com projetos onde a Defesa Civil atua com programas de conscientização para crianças e jovens nas escolas para mudanças de comportamento em relação aos riscos na cidade e, além disso, não deixa de investir em novas obras e na manutenção do que já foi feito para mitigação.
Segundo o diretor da Defesa Civil, cerca de R$ 20 milhões podem ser investidos ao longo dos próximos meses para que os projetos — estruturantes ou não — saíam do papel visando a garantia de maior segurança aos moradores da Serra.
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