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Recuperados da Covid contam que ainda pagam o preço da doença

Recuperados da Covid contam que ainda pagam o preço da doença

Em algumas pessoas, a infecção pelo coronavírus deixa marcas mesmo após serem curadas

Publicado em 28 de agosto de 2020 às 12:08

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João Messias Miranda dos Santos foi infectado pelo coronavírus e ainda sofre falta de ar
Com alta hospitalar há mais de um mês, João Messias Miranda dos Santos ainda sofre com episódios de falta de ar. (Acervo pessoal)

A evolução da infecção por coronavírus para um quadro de maior gravidade depende do perfil do paciente e, da mesma forma, as consequências da Covid-19. Algumas pessoas, mesmo depois de curadas,  convivem com sequelas decorrentes da doença. Perda de olfato, cansaço excessivo e até um episódio de alteração hormonal indicando um quadro de diabetes estão entre os relatos de pacientes que foram contaminados. 

Após mais de dois meses do diagnóstico para a Covid-19, a pedagoga Rosângela Maria de Salles de Meira, 61 anos, ainda se sente indisposta para realizar atividades do seu cotidiano. "E olha que eu nem fui dos casos mais graves, não precisei ir para hospital. Mas fiquei bastante debilitada, com muita dor de cabeça, mal-estar. E, apesar de ter passado tanto tempo, sinto um cansaço inexplicável que dificulta o meu trabalho, mesmo de casa", lamenta. 

Rosângela Maria de Salles de Meira foi infectada pelo coronavírus e, depois de curada, ainda sente cansaço excessivo
Depois de contrair o coronavírus, Rosângela Maria se sente muito cansada para as atividades cotidianas . (Acervo pessoal)

Mais do que cansaço, o pintor industrial João Messias Miranda dos Santos, 55, também convive com a falta de ar. Ao contrair o coronavírus, ele desenvolveu um quadro mais crítico da doença, passou 26 dias internado, parte do tempo na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) porque 55% de seus pulmões foram tomados pela infecção. 

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Essa situação me incomoda demais. Eu era uma pessoa ativa, trabalhava, jogava futebol no final de semana, gostava de sair para dançar. Agora, para qualquer movimento, parece um peso. Se eu ando um pouco mais acelerado, o peito esquenta e já é motivo para parar, sentar e buscar o ar

João Messias Miranda dos Santos
Pintor industrial
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Com alta do hospital há pouco mais de 30 dias, João Messias ouviu do médico que ainda precisará lidar com essa condição por algum tempo, já que os pulmões necessitam de três a quatro meses para se recuperar. Ao subir as escadas de casa, o pintor tem que ir direto para o quarto se deitar, com travesseiro sob as costas para elevar o corpo, e assim recuperar o fôlego. 

"As pessoas que nunca pegaram precisam botar na cabeça que é um vírus sério, que vem para matar. Eu, por pouco, não morri. Mas já ouvi gente falando que basta tomar cachaça com limão para se proteger, ou reclamar quando vou cumprimentar só com o cotovelo, dizendo que isso 'não é coisa de homem'. Só eu sei o que passei, e o que ainda estou sentindo por causa da doença. É muito complicado, e ninguém deveria se arriscar", ressalta João Messias. 

Katia Maria Viola Borgo teve Covid-19 e desenvolveu diabetes
Katia Maria Viola Borgo desenvolveu um quadro de diabetes após a Covid. (Acervo pessoal)

DIABETES

A economista aposentada Katia Maria Viola Borgo, 70, conta que foi diagnosticada no final de maio, e só acreditou que estava com o coronavírus após o resultado positivo do teste porque não apresentou os sintomas gripais característicos da Covid-19. Mas sentia-se desanimada, sem apetite, o que a levou a perder 14 quilos num curto intervalo de tempo. A consequência foi uma descompensação no seu organismo, que elevou a taxa de glicose e ao desenvolvimento de um quadro de diabetes. "Eu fiquei quase desnutrida, estava derrubada mesmo", lembra.

Katia diz que não chegou a ficar internada, mas recebeu medicações para tratar os sintomas. Depois, quando foi constatada a alteração metabólica, precisou entrar numa dieta rigorosa para restabelecer as taxas de glicose e aplicar insulina quatro vezes ao dia. Agora, diminuiu um pouco a frequência das aplicações do hormônio que não estava sendo absorvido adequadamente pelo organismo. "Eu estou bem melhor, graças a Deus, mas eu não tinha diabetes e essa é uma sequela da Covid", revela a aposentada, que precisa manter o acompanhamento médico e nutricional.

MEMÓRIA OLFATIVA

Tennessee Marx foi infectado pelo coronavírus e ficou sem olfato
Tennessee Marx faz fisioterapia para recuperar o olfato. (Acervo pessoal)

Recuperado da Covid-19 há 90 dias, o empresário da área de Turismo, Tennessee Marx, 37 anos, diz que, ainda hoje, percebe que seu olfato não está 100%. "Eu sinto cheiro de tudo, mas percebo que tenho que fazer um esforço maior para buscar a memória olfativa", pontua. 

Incomodado com a situação, Tennessee se consultou e ouviu do médico que deveria fazer uma fisioterapia para que possa se recuperar plenamente. "A ideia é reativar as sinapses neurais e, então, quando eu cheirar algo, entender se aquilo é cítrico, se é doce, se é café. Vira e mexe eu vou à feira, e fico cheirando frutas de várias categorias, vou testando para restabelecer a memória olfativa", explica.  O empresário conta que, antes de ser infectado, já sofria de rinite alérgica, mas a Covid-19 acabou sendo um complicador para o seu problema respiratório. 

Já o engenheiro de automação Wagner Ribeiro, 42 anos, revela que hoje está bem, mas também sofreu com a perda do olfato e do paladar por um período superior ao de incubação do vírus. Para ele, uma sensação aflitiva e que, embora queira, acredita que não vai se esquecer. Ele conta que a mulher e as filhas chegaram a fazer experiências com alimentos que não gosta, e a única coisa que percebia era a textura. "Suco de limão bem azedo com gengibre, água com vinagre e sal, café com leite. Bebia tudo e não sentia nada", comenta Wagner, que foi infectado em uma plataforma petrolífera. 

Apesar da sensação incômoda de falta de paladar, o engenheiro fazia questão de se alimentar bem para não ficar debilitado. Em seu círculo pessoal, cinco pessoas morreram em decorrência da Covid-19, e Wagner sabia que, independentemente da sequela, o mais importante era se curar da doença. 

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