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Publicado em 1 de junho de 2024 às 17:59
Quando os alunos da Escola Municipal Irmã Terezinha Godoy de Almeida ouviram a história de Mestre Valentim, liderança de jongo e símbolo da cultura popular em Anchieta, no Litoral Sul do Espírito Santo, alguns estavam ouvindo esse nome pela primeira vez. E o conheceram de uma forma inusitada: Mestre Valentim, que foi fundamental na identidade negra na cidade, tinha se tornado figurinha de Copa do Mundo. >
A ideia faz parte de um projeto da professora de História Núbia Barcelos, que decidiu usar figurinhas do Mundial de futebol para apresentar, aos alunos, personalidades negras do cenário mundial, nacional, estadual e municipal. O trabalho foi idealizado em 2022, ainda durante o campeonato, e chegou a concorrer ao Prêmio Educador Transformador, promovido pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-ES). O projeto não foi premiado, mas foi homenageado pela empresa.>
A iniciativa foi desenvolvida com alunos dos 6º e 7º anos da escola. A professora conta que a ideia surgiu na época do torneio, quando percebeu o entusiasmo dos alunos pelas figurinhas da Copa do Mundo e pelos jogadores. “Estava montando o projeto de consciência negra e os alunos agitados porque precisavam trocar figurinha da Copa do Mundo. Aquilo começou a atrapalhar minha aula [...] Em uma formação com professores de História e Geografia, perguntei: o que eu posso fazer com isso? E aí a ideia surgiu: por que não juntar as duas coisas?”>
Com o mesmo design das figurinhas já conhecidas pelos alunos, as novas cartinhas mostravam nomes como Zacimba Gaba, princesa angolana nascida no século 17 e escravizada no Espírito Santo; Zumbi dos Palmares, uma das maiores lideranças quilombolas do Brasil; e Carolina Maria de Jesus, reconhecida como uma das mais importantes escritoras do país. Muitos desses nomes nunca tinham sido ouvidos ou eram pouco conhecidos pelos estudantes. >
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Durante a dinâmica em sala de aula, a professora lia sobre a história da personalidade, e os alunos tinham que adivinhar quem era. O projeto, que era só uma ideia durante uma formação de professores, se tornou uma realidade, sendo levado, inclusive, para outras escolas da região. >
Núbia Barcelos
Professora de História
Professora há 19 anos, Núbia está acostumada a apresentar aos alunos, diariamente, acontecimentos e fatos que ajudam a entender a história da humanidade. Para a profissional, muito além de um projeto pontual, experiências pedagógicas como essa que foi premiada são uma oportunidade de ampliar esse olhar, como um gol de virada: contar a história de um ponto de vista que, na maioria das vezes, é invisibilizado.>
Núbia Barcelos
Professora de HistóriaNúbia acredita que ampliar projetos e iniciativas que revertam esse cenário é fundamental para que esses alunos entendam a contribuição negra não só na formação do Brasil e da cidade que elas conhecem, mas no próprio cenário mundial.>
“Os nossos livros de história são escritos por brancos. A história do Brasil é uma história escrita na visão da Europa, então, é importante dar essa outra visão da história [...] Mostrar que a história do nosso Estado, do nosso município, é feita a várias mãos, mas, principalmente, pelos povos africanos, pelos povos nativos, para que isso forme adultos mais conscientes”, conclui a educadora.>
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