É doutor em Letras, professor e escritor. Seus textos tratam de literatura, grandes nomes do Espírito Santo e atualidades. Escreve quinzenalmente às segundas

Dia da Consciência Negra: três importantes professores negros do ES

Gostaria de trazer à memória atual três grandes professores, cujas vidas não podem ser esquecidas: Amâncio Pinto Pereira (1862-1918), Joaquim Beato (1924-2015) e Deusdedit Baptista (1912-1999)

Publicado em 20/11/2023 às 01h30

Nesta segunda-feira, 20 de novembro, é o Dia Nacional da Consciência Negra, data criada para homenagear a memória de Zumbi dos Palmares, grande líder negro do século XVII, herói do Quilombo dos Palmares e símbolo da resistência negra à escravização, página infeliz de nossa história, que a manchou por quase quatrocentos anos.

O Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra foi instituído oficialmente pela Lei nº 12.519, de 10 de novembro de 2011. Zumbi foi morto em 1695, por bandeirantes liderados por Domingos Jorge Velho. Atualmente, existe uma série de estudos que procuram reconstituir a biografia desse importante personagem da resistência à escravidão no Brasil.

Gostaria de trazer à memória atual três grandes professores negros, cujas vidas não podem ser esquecidas: Amâncio Pinto Pereira (1862-1918), Joaquim Beato (1924-2015) e Deusdedit Baptista (1912-1999). Dia desses, a rede social perguntava: “quais os professores negros você teve?”. E poucos foram lembrados, entre os quais, os dois últimos, com quem convivi e muito aprendi.

Amâncio Pinto Pereira nasceu em Vitória, em 8 de abril de 1862 e faleceu na mesma cidade, em 13 de agosto de 1918. Foi professor primário. Ainda estudante, aos 16 anos de idade, fundou, juntamente com outros colegas, o Clube Saldanha Marinho, de feição republicana, manifestando-se, desde moço, em favor da abolição da escravatura através da imprensa de sua província.

Foi fundador e redator de dois jornais: Sete de Setembro e a Gazeta Literária, além de haver colaborado nas seguintes folhas: O Espírito-santense, Gazeta da Vitória, Gazeta do Itapemirim, Pyrilampo, Comércio do Espírito Santo, Echo da Lavoura, Autonomista, A Tribuna, Jornal Oficial, Diário da Manhã, Nova Senda, Regeneração, Meteoro, O Semanal, O Lidador, O Combate, Alvorada, A Ordem e na revista humorística O Olho.

Publicou, desde trabalhos didáticos até peças teatrais, os seguintes livros: Noções abreviadas de Geografia e História do Espírito Santo, em cinco edições, a primeira datada de 1894; Almanaque do Espírito Santo, o primeiro em 1899, o segundo, em 1918 e o terceiro, edição póstuma, em 1919; Traços biográficos, 1897; Folhas avulsas, 1895; Folhas dispersas, 1896; Humorismos, contos, 1897, Benevente, cidade de Anchieta, s/ data; Na lua de mel, comédia, 1895; O tio Mendes, comédia, 1897; O engrossa: Virou-se contra o feiticeiro, comédia, 1890; Apuros de um marido, comédia em um ato; Jorge ou perdição de mulher; novela; Homens e cousas do Espírito Santo, 1914; Datas espírito-santenses, em dois volumes, o primeiro publicado em 1909 e o segundo em edição póstuma.

Foi um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. Segundo Oscar Gama [Filho, em Teatro romântico capixaba {1987}], foi o primeiro dramaturgo brasileiro a escrever peças teatrais dedicadas ao público infantil.

Joaquim Beato, professor, pastor e ex-senador nasceu em Alegre em 6 de outubro de 1934 e morreu em 28 de julho de 2015, em Vitória. Figura respeitada e marcante na vida social do Espírito Santo, exerceu papel fundamental na renovação da Igreja Presbiteriana. A conduta de perfil mais progressista angariou-lhe boa reputação não só entre os presbiterianos, mas também entre batistas e católicos.

Em 1948, formou-se bacharel em Teologia pelo Seminário Presbiteriano do Sul, em Campinas (SP). Desde 1950, militava no presbitério de Vitória, em que recebeu o título de Pastor Emérito. Era conhecido pela eloquência no púlpito da igreja. Joaquim Beato não se valeu apenas de instrumentos estritamente bíblicos como ferramenta de trabalho.

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Professor, Pastor e Ex-Senador Joaquim Beato. Crédito: Arquivo A Gazeta

Com mestrado em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), obtido em 78, e doutorado em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), em 81, foi professor da Ufes, onde lecionou Filosofia entre 72 e 91.

Foi secretário estadual do Bem-Estar Social entre 83 e 86 e secretário estadual de Educação em 87. Foi secretário municipal de Cultura de Vitória em 93 e senador entre outubro de 94 e janeiro de 95. Em 1998, foi secretário municipal de Cidadania de Vitória. Entre 2004 e 2010, trabalhou como assessor especial da Casa Civil e da Secretaria de Estado da Agricultura.

Professor Deusdedit Baptista nasceu em Pureza (RJ) em 30.08.1912. Morreu em Cachoeiro, em 04.11.1999. Seus pais, José Cupertino Baptista e Carmen Faria Baptista, mudaram-se para Muqui em 1919 e, em 28.08.1921, para Cachoeiro.

Professor (Desenho, Inglês, Direito), advogado, colaborador de jornais e revistas, radialista, vereador, orador, secretário municipal, diretor de escolas, animador de comícios e do desfile escolar da Festa de Cachoeiro, onde deixou boa marca. Extremamente justo, foi ponto de equilíbrio dos governos dos prefeitos Hélio Carlos Manhães e Gilson Caroni. Na porta de seu escritório de advocacia existia o aviso: não patrocino causas de despejo de inquilinos. Simples, tinha prazer em conversar com o homem do povo. Dos mais cultos homens da terra, e isso por não menos de 60 anos de atividade intensa, sua sabedoria não humilhava as pessoas - ensinava.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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