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Praias durante a pandemia: entenda riscos e cuidados necessários

Praias durante a pandemia: entenda riscos e cuidados necessários

Com a chegada do verão, a procura pelas praias do ES aumenta, mas é seguro frequentá-las? Três especialistas foram categóricos em afirmar que o distanciamento deve ser mantido mesmo ao ar livre e no mar

Publicado em 21 de dezembro de 2020 às 16:33

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Domingo de praias lotadas em Vila Velha em um momento da alta do número de casos de coronavírus no ES
Domingo de praias lotadas em Vila Velha em um momento da alta do número de casos de coronavírus no ES . (Carlos Alberto Silva)
Praias durante a pandemia: entenda riscos e cuidados necessários

Com números crescentes da Covid-19 no Estado nos últimos meses, em especial o aumento de mortes e internações em decorrência de complicações da doença, surgem questionamentos sobre ambientes frequentemente aglomerados e o risco de contaminação pelo coronavírus. Com a chegada do verão, é natural que a procura pelas praias aumente, mas é seguro frequentá-las? A reportagem conversou com três especialistas que foram categóricos em afirmar que o cuidado com o distanciamento deve ser mantido mesmo ao ar livre e no mar.

De acordo com a enfermeira, pós-doutora em Epidemiologia, professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e consultora da Organização Mundial de Saúde (OMS), Ethel Maciel, o ideal é escolher horários para ir à praia em que geralmente tenha menos gente. Para a pesquisadora, os núcleos familiares que convivem juntos podem permanecer próximos na areia, mas devem evitar contato com pessoas de outros grupos.

E o que vale na água é o mesmo que vale na areia, segundo Ethel Maciel. "Deve ser mantido o distanciamento físico das pessoas. Não temos evidências de que o vírus possa ser transmitido na água, mas é sempre bom ficar em distanciamento das outras pessoas para que não tenha problema quando a pessoa estiver, por exemplo, falando. Deve-se evitar aglomerar, ficar próximo dos outros", disse.

Domingo de praias lotadas em Vila Velha em um momento da alta do número de casos de coronavírus no ES
Aglomeração nas praias do ES no final de semana. (Carlos Alberto Silva)

Da mesma forma, para o médico infectologista Lauro Ferreira Pinto, a questão fundamental nas praias não é o contágio ou não na água, mas a inexistência do distanciamento devido. "Estamos assistindo a muitos casos e a praia representa riscos pela aglomeração. A transmissão pela água salgada não acontece, mas há transmissão de vírus de pessoa a pessoa. E a aglomeração nas praias pode contribuir para a repercussão de leitos sobrecarregados. Os profissionais da saúde estão exaustos, com muito trabalho, com outras doenças também acontecendo de forma simultânea", considerou.

USO DE MÁSCARA

Com relação ao uso de máscaras nas praias, o infectologista Paulo Peçanha afirma que este não é dispensável. Para o especialista, qualquer atividade feita fora de casa deve contar com o uso da proteção facial, afinal, antes que haja vacina não há lugar totalmente seguro e os números atuais da pandemia confirmam a recomendação.

Segundo Peçanha, o momento atual é singular, já que a curva, que era descendente de casos e óbitos, foi revertida. "O número de casos e óbitos vem subindo exponencialmente e com certeza o número tem relação com o afrouxamento dos protocolos de proteção. As pessoas estão indo para compras sem máscara, reuniões e festas, barzinhos e principalmente praias. Com o calor, tem muita gente indo sem proteção, em especial nos finais de semana", afirmou.

Já para Ethel Maciel, exigir o uso de máscara nas praias não é fácil, já que as pessoas não estariam dispostas a aderir. No entanto, manter o distanciamento, para a enfermeira, é essencial.

CUIDADOS COM PRODUTOS COMERCIALIZADOS POR AMBULANTES E QUIOSQUES

É importante ter cuidado ao adquirir produtos comercializados por ambulantes e quiosques, já que, ao tocar em uma superfície que foi anteriormente manipulada por outra pessoa, corre-se o risco de entrar em contato com o vírus. "É preciso lavar as mãos e higienizar as superfícies", explicou Ethel Maciel.

No mesmo sentido, para Peçanha, ao comprar produtos vendidos na areia, os quais geralmente não passam por fiscalização, aumenta-se o risco de contaminação. "Estes produtos podem ter sido tocados antes por diversas vezes. O comércio na areia não costuma ter maiores compromissos com medidas de prevenção e objetos com procedência desconhecida podem estar contaminados. É perigoso levar, em seguida, as mãos aos olhos ou nariz e acontecer a transmissão. Se puder evitar comprar, melhor", resumiu.

Outro comportamento que o médico aponta como sendo de risco é frequentar os quiosques, que são locais em que as pessoas sentam juntas, em mesas próximas, em geral sem afastamento das mesas. "As pessoas ficam lá comendo e bebendo, com o pretexto da refeição, vão ficando por horas e sem máscaras. Assim há muita chance de transmissão, ainda que seja um ambiente que tenha circulação de ar. Isso por si só não é capaz de afastar o vírus em pessoas muito próximas umas das outras", acrescentou.

Domingo de praias lotadas em Vila Velha em um momento da alta do número de casos de coronavírus no ES
Domingo de praias movimentadas em Vila Velha . (Carlos Alberto Silva)

NÃO HÁ AMBIENTE LIVRE DE RISCO

O médico Paulo Peçanha chamou atenção ao aspecto ilusório de fim da pandemia que paira entre as pessoas e fez alerta: "a vacina ainda não chegou". Para ele, o comportamento social tem sido favorável à disseminação do vírus, que ocorre mesmo em ambientes com ampla circulação do ar.

"Quem está na areia fica próximo de outras pessoas e circula pelo local, às vezes tocando, cumprimentando amigos, levando o vírus. Não é que vão pegar Covid na água, mas fora do mar os banhistas espirram, tossem e isso elimina secreção que eventualmente está contaminada. Apesar do ambiente da praia, que é teoricamente de menor chance porque há circulação de ar, o comportamento das pessoas não está sendo de proteção e isso reflete em número de casos, pacientes graves, ocupação de UTIs e óbitos. Antes da chegada da vacina ainda temos pelo menos o final de dezembro e o mês de janeiro todo, com risco de aglomeração no Natal e ano novo. É uma encomenda de novos casos. E não há ambiente livre de risco, as pessoas devem ficar de máscara. Se há interação, há transmissão", disse.

Além do uso de máscara, o especialista recomenda o uso do álcool em gel mesmo nas praias. "Não sei quantas pessoas usam álcool na praia, mas deveriam levar, para fazer higienização antes de tocar em objetos. Todos os bons hábitos devem ser mantidos em quaisquer locais. É fundamental manter a máscara, exceto para mergulhar, claro", concluiu.

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