Gusttavo Lima e Neymar já dividiram o palco em algumas ocasiões há anos. Fora deles, os dois importaram jatinhos pelo Espírito Santo
Gusttavo Lima e Neymar já dividiram o palco em algumas ocasiões há anos. Fora deles, os dois importaram jatinhos pelo Espírito Santo. Crédito: Guilherme Fernandes/Divulgação

Por que Neymar e Gusttavo Lima "emplacaram" jatinhos no ES?

O craque do Al-Hilal e o Embaixador são apenas dois dos multimilionários que trouxeram aeronaves de fora do Brasil e fizeram a nacionalização pelo Espírito Santo. A escolha pelo Estado não é aleatória; entenda a situação

Tempo de leitura: 5min
Vitória
Publicado em 31/01/2024 às 17h30

O atacante Neymar Júnior e o cantor sertanejo Gusttavo Lima fazem sucesso há anos e acumulam um patrimônio quase incalculável. Apesar da diferença na área de atuação, enquanto um ganha a vida no futebol e o outro utiliza a voz para lucrar cifras milionárias, ambos têm uma mesma estratégia quando o assunto é a compra de aviões: os dois procuram o Espírito Santo para regularizar e "nacionalizar" as aeronaves. O Estado, aliás, é o mais procurado do Brasil para a importação de aeronaves, movimentando milhões de dólares (e bilhões de reais).

O caso mais recente registrado em A Gazeta foi do novo jato executivo do Embaixador, avaliado em R$ 73 milhões, que passou pelo Estado para trocar a matrícula - a série de letras que identifica cada aeronave. Em dezembro de 2022, Neymar trouxe o jato Dassault Falcon 900EX (Easy) para ser regularizado no Espírito Santo. Na época, a aeronave tinha valor médio avaliado em R$ 134 milhões. Os exemplos são apenas dois casos entre as diversas ocasiões em que o Estado é o local escolhido por "ricões" para a importação.

Novo jato de Gusttavo Lima chegou a Goiânia e precisou fazer
Novo jato de Gusttavo Lima chegou a Goiânia, mas antes precisou fazer "escala especial" no ES para receber a nova matrícula. Crédito: Guilherme de Napoli

Mas por que o Espírito Santo entrou na rota do Neymar e Gusttavo Lima?

A explicação tem relação com o mapa do Brasil e escolhas feitas pelo governo do Estado. Estes dois fatores dão ao Espírito Santo o título de Estado mais procurado para importação de aviões.

Em conversa com a reportagem de A Gazeta, o auditor-fiscal da Alfândega da Receita Federal no Porto de Vitória, o delegado Douglas Koehler, explicou que a escolha dos milionários tem relação com dois fatores significativos. Na avaliação do representante da Receita Federal no Espírito Santo, não há dúvidas que o ES é um local que recebe atenção especial quando o tema é importação.

Delegado Douglas Koehler

Auditor-fiscal da Alfândega da Receita Federal do Brasil do Porto de Vitória, no Espírito Santo

"Nosso Estado está entre os primeiros do Brasil na importação de aeronaves, carros e caminhões. É o campeão na importação de carros elétricos, por exemplo"

Douglas Koehler é responsável pelo monitoramento e fiscalização dos produtos importados por todos os meios: seja por navios, no Porto, ou em outros meios de transporte.

A prioridade na importação pelo ES é explicada por dois fatores:

  1. A Gazeta - roh33j
    01

    ECONOMIA

    "O Estado tem um incentivo tributário de ICMS, que é do governo estadual. Podemos dizer que o custo tributário torna mais interessante trazer a importação pelo Espírito Santo", explicou Douglas Koehler. O ICMS citado pelo representante da Receita é o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços. Neste caso, conforme explicado pelo auditor-fiscal, o Espírito Santo tem um ICMS menor que outros Estados do Sudeste, tornando a importação mais barata.

  2. A Gazeta - nzusurif
    02

    GEOGRAFIA

    "A vantagem logística envolve a geografia, já que o Espírito Santo está no meio do litoral do Brasil. Uma carga que chega tem facilidade para ir para outros Estados. Outro ponto é a infraestrutura. Os portos secos, em Cariacica, são muito grandes e têm um grande potencial de armazenamento. Isso também está no 'bolo' da logística", afirmou o auditor-fiscal. De acordo com Douglas Koehler, ter um porto na capital permite um fluxo melhor das mercadorias.

O auditor-fiscal lembrou que o imposto cobrado pela Receita Federal é o mesmo em todos os Estados. Justamente por isso, a decisão do governo do Estado de ter um ICMS mais competitivo facilita a importação e coloca o Espírito Santo na frente de outras unidades da federação.

Líder em 2023

Ainda segundo o auditor-fiscal da Alfândega da Receita Federal no Porto de Vitória, delegado Douglas Koehler, as aeronaves estão entre os bens de maior valor agregado importados na alfândega de Vitória. Reunindo apenas as importações de aeronaves, o Espírito Santo foi líder no ano de 2023.

US$ 942 milhões de dólares

Foi o valor somado de todas as importações de aeronaves em Vitória em 2023

Em todo o ano de 2023, o valor importado de aeronaves por todas as unidades aduaneiras, ou seja, em todo o Brasil, chegou a US$ 2,4 bilhões de dólares, uma quantia superior a R$ 11 bilhões, em um total de 604 registros.

Avião semelhante ao do Neymar, que passou pelo Estado em 2022
Avião semelhante ao do Neymar, que passou pelo Estado em 2022. Crédito: Reprodução | Dassault Falcon

O valor importado apenas pela alfândega de Vitória somou US$ 942 milhões de dólares, em 275 registros. A quantia em reais ultrapassa a casa dos R$ 4 bilhões. O Espírito Santo foi o primeiro lugar do Brasil, correspondendo a 38% do valor total do Brasil. O segundo lugar do Brasil foi São Paulo, que somou US$ 424 milhões de dólares, ou seja, menos da metade do Espírito Santo.

ES decidiu aumentar ICMS, mas recuou

Conforme publicado pelo colunista de A Gazeta Abdo Filho no dia 21 de novembro de 2023, o governo do Espírito Santo havia decidido aumentar a alíquota padrão do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para 19,5%. Antes disso, a alíquota era de 17%. O aumento foi aprovado pela Assembleia Legislativa.

No dia 19 de dezembro, o governo do Espírito Santo anunciou que iria retirar a proposta de aumento. A intenção foi divulgada após o texto final da Reforma Tributária. Com isso, a alíquota permaneceria em 17%, revogando a lei aprovada menos de um mês antes. Com a decisão, a alíquota de referência do ICMS no Estado continuou sendo 17%, o menor percentual entre os Estados da Região Sudeste.

De acordo com o jornal O Estado de São Paulo, dez Estados e o Distrito Federal decidiram pelo reajuste da alíquota do ICMS para 2024. O ICMS é um tributo que incide sobre a circulação de mercadorias e prestação de serviços, prestação de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação.

E por que isso é bom ao ES?

A reportagem de A Gazeta procurou a Secretaria de Estado da Fazenda para entender por que as condições do Espírito Santo são tão boas para a importação de aeronaves. Em nota, a secretaria explicou que quem opta por realizar a importação pelo Espírito Santo conta com benefícios do Fundo para o Desenvolvimento das Atividades Portuárias (Fundap) e com o Convênio ICMS 75/91, que envolve a redução do ICMS nas operações relacionadas a aeronaves.

"Na prática, os benefícios resultam em uma carga tributária em torno de 4% nessas operações, sendo que a alíquota modal do ICMS no Estado é de 17%", informou a secretaria, em nota.

Secretaria de Estado da Fazenda

Em nota à reportagem de A Gazeta

"O objetivo do Estado, ao conceder benefícios fiscais, é contribuir para a expansão, modernização e diversificação dos setores produtivos do Espírito Santo, estimulando a realização de investimentos, a renovação tecnológica das estruturas produtivas e o aumento da competitividade estadual, com ênfase na geração de emprego e renda e na redução das desigualdades sociais e regionais"

A Gazeta também perguntou o valor do imposto pago pela Balada Eventos (empresa de Gusttavo Lima) para realizar a importação da aeronave. A secretaria, no entanto, informou que este detalhe é protegido pelo sigilo fiscal e pelas normas da Lei Geral de Proteção de Dados.

A Secretaria da Fazenda (Sefaz) informou que, considerando o valor total das mercadorias, o Espírito Santo foi responsável por cerca de 57% das operações de importação de aeronaves realizadas no Brasil em 2023 - um número maior do que o informado pela Alfândega do Porto de Vitória. Cerca de 250 aeronaves foram importadas no Estado durante o ano.

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