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Mais de 8 mil crianças no ES não receberam as vacinas que deveriam em 2020

Mais de 8 mil crianças no ES não receberam as vacinas que deveriam em 2020

Para especialistas, a pandemia do novo coronavírus (Covid-19) teve influência na redução de aproximadamente 20% na taxa de vacinação de rotina do Estado

Publicado em 11 de setembro de 2020 às 15:22

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Campanha de vacinação visa reforçar o atendimento ao público infantil mais vulnerável às complicações da doença
Campanha de vacinação visa reforçar o atendimento ao público infantil mais vulnerável às complicações da doença. (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Cerca da metade das crianças brasileiras ainda não recebeu todas as vacinas previstas no Calendário Nacional de Imunização em 2020, de acordo com o Programa Nacional de Imunização (PNI), do Ministério da Saúde. No Espírito Santo, a vacinação também não atingiu a meta. Os dados apontam que mais de 8 mil crianças não foram vacinadas. Para especialistas, a pandemia do novo coronavírus (Covid-19) teve influência nesses números. 

De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), o Programa Estadual de Imunizações e Vigilância das Doenças Imunopreveníveis registrou, de janeiro a julho de 2020, uma redução de aproximadamente 20% na taxa de vacinação de rotina do Estado. 

"A população infantil a ser vacinada para as principais vacinas do calendário da criança no Espírito Santo é de 55.846 crianças durante o ano de 2020. Como são dados dos primeiros 7 meses do ano vigente, deveriam ter sido vacinadas 32.577 crianças. Se a média de vacinação de rotina desse público, de janeiro a julho de 2020 no Estado, está em torno 75%, foram vacinadas 24.433 crianças", informou a Sesa, por nota. Esse número representa 8.134 crianças que ainda precisam receber todas as vacinas

A Sesa chegou a emitir uma nota sobre o tema na última quarta-feira (09), onde avaliou que - mesmo que de forma preliminar, os dados apontam que devido à pandemia do novo Coronavírus (Covid-19) muitas pessoas deixaram de procurar as Unidades Básicas para a imunização de rotina. Esse impacto nas coberturas vacinais de rotina do Sistema Único de Saúde (SUS) capixaba foi percebido principalmente entre as doses voltadas para crianças e adolescentes.

“Junto à pandemia veio o medo pela contaminação e o distanciamento social. Entretanto, os serviços de vacinação continuam funcionando com todos os protocolos para garantir a segurança do paciente. É importante alertarmos aos pais e responsáveis que compareçam aos serviços e levem as crianças e adolescentes para colocar a caderneta de vacinação em dia e protegê-los das doenças imunopreveníveis, aquelas que podem ser evitadas por meio de vacinas”, afirmou a coordenadora do Programa Estadual de Imunizações e Vigilância das Doenças Imunopreveníveis, Danielle Grillo.

Ainda de acordo com os dados do Programa, as coberturas das vacinas de rotina para as crianças nos primeiros sete meses do ano estiveram em 81,06% para a vacina pentavalente; 78,59% para a tríplice viral; 77,11% para a pneumocócica e 73,02% para a poliomielite. A meta preconizada pelo Ministério da Saúde para essas doenças é de 95%.

Indagada sobre quais foram as vacinas que tiveram menor aplicação entre as crianças, a Sesa respondeu que foram: poliomielite, BCG, rotavírus e hepatite A. A Secretaria completou, por nota, que "caso as coberturas vacinais não sejam alcançadas, há o risco de surtos" e que aqueles que não foram vacinados correm risco de "adoecimento, sequelas e até mesmo morte por doenças evitáveis por vacinação".

“A redução de quase 20% na taxa de vacinação no Espírito Santo é preocupante. Vale lembrar que a imunização é responsável pela eliminação de doenças no país, como a poliomielite, a rubéola e o controle de várias outras. A não percepção do risco dessas doenças faz com que as pessoas deixem de procurar pela vacinação. As vacinas conseguem impedir a circulação do seu agente causador da doença na população e, por isso, é fundamental  que ela atinja o maior número de pessoas possível”, explicou.

Danielle Grillo ainda destacou que, com a vacina em dia, também diminuem os riscos de ocorrência de doenças com potencial epidêmico, como as meningocócicas, a difteria e a febre amarela. 

SARAMPO VOLTA A SER UMA PREOCUPAÇÃO

A queda no índice de imunização já tem como consequência o aumento dos casos de sarampo. De acordo com os dados do Ministério da Saúde, até o início do mês de agosto o país já tinha 7,7 mil casos confirmados da doença. Em 2019 o Brasil perdeu o certificado de erradicação do sarampo. 

No Espírito Santo, 21 estados registraram casos confirmados do sarampo, de acordo com Danielle Grillo, que falou sobre a importância da vacina contra a maior circulação da doença. 

Vacinação contra sarampo
Vacinação contra sarampo: queda no índice de imunização provocou aumento dos casos da doença. (Prefeitura de Vila Velha / Divulgação)

A epidemiologista Ethel Maciel lamentou o aumento do sarampo, já que "existe uma vacina eficaz e disponível contra a doença". Ela contou que cerca de 68% das crianças foram imunizadas do sarampo no Espírito Santo, mas o número está abaixo do esperado (95%). A médica lembrou, ainda, que a doença tem taxa de transmissão (RT) 18. Ou seja, uma única pessoa é capaz de contaminar outras 18 caso elas não estejam protegidas.  

"Há uma redução bastante significativa das vacinas pela primeira vez. Nunca tivemos uma situação tão grave. Acredito uma coisa pode ter interferido nesses dados: tivemos no início de março e abril, logo no começo da pandemia no Brasil, o fechamento temporário das salas de vacinação. Foi um período curto, mas acho que influenciou porque a pessoa ia vacinar, via que estava fechado e depois ela não voltava mais. A notícia de reabertura talvez nem tenha chegado até ela", acredita.

Outa situação que pode ter influenciado na queda de vacinação, para a epidemiologista, foram os problemas de abastecimento de vacina que aconteceram em 2020.

"A cada dez anos fazemos um inquérito de vacina no Brasil, analisando as capitais. Estava revisto para 2019, mas por questão de financiamento, passou para 2020. No Espírito Santo, esse trabalho será coordenado por mim e começaremos a coletar dados em dezembro, indo às casas das pessoas que moram em Vitória para ver os cartões de vacinação de cada criança. Essa é uma encomenda no Ministério da Saúde, que nos permitirá a entender melhor o que está acontecendo", explicou. 

GRANDE VITÓRIA

De acordo com o município de Vila Velha, 4.544 crianças menores de um ano deveriam ter sido vacinadas até o final de agosto de 2020. Porém, foram realizadas cerca de 3.400 vacinações nesse período. O número significa que pelo menos 1.144 crianças ainda não receberam todas as vacinas na cidade. 

As vacinas que tiveram menor índice de aplicação na região foram poliomielite, pneumocócica 10 e BCG. A prefeitura explicou que a falta dessas vacinas podem fazer com que as crianças adoeçam, podendo causar um surto, já que há pessoas que não podem se imunizar por alguma contraindicação médica.

"O risco atual é do sarampo, que ainda está em surto no país e a poliomielite está apresentando casos positivos em outros continentes, assim, temos o risco de reintrodução da doença nas Américas", afirmou o município, por nora. 

Já a prefeitura de Cariacica, afirmou, por meio da Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde (Semus), que a cobertura de vacinação esperada no município é de 95% para vacinas pactuadas pelo Ministério da Saúde, que são: pentavalente, pneumocócica 10, poliomielite e tríplice viral. Porém, os números ainda estão abaixo do esperado e a o município acredita que tenha relação com a pandemia do novo coronavírus. 

"O município de Cariacica alcançou a cobertura vacinal de pentavalente com 58,46%; pneumocócica com 55,01%; poliomielite com 88% e triplice viral, com 59,21% (de janeiro a junho de 2020). Para todas as vacinas do calendário vacinal, a procura foi abaixo do esperado preconizado pelo Ministério da Saúde. Acredita-se que a baixa procura da população pelas vacinas se deve às incertezas causadas pelo coronavírus, principalmente, no início da pandemia", disse, por nota. A prefeitura completou que os riscos de uma baixa cobertura vacinal são a reintrodução e surto das doenças imunopreviníveis.

Em Vitória, ainda faltam 4.612 crianças a serem vacinadas, conforme estimativa do Ministério da Saúde. O município informou que as vacinas que tiveram menor aplicação foram BCG, pentavalente, pneumococica 10, poliomielite, tríplice viral, meningococica C, febre amarela e rotavirus.

"A baixa cobertura de tríplice viral pode ocasionar o reaparecimento de doenças, como é o caso do sarampo. O risco é o retorno de doenças que já foram até eliminadas no país, como a pólio, e outras doenças já controladas por vacinação", alertou a prefeitura, por nota.

Todas as vacinas do calendário básico da criança estão disponíveis nas unidades de saúde da Serra. Segundo a assessoria do município, a cobertura vacinal de crianças menores de 1 ano vem apresentando aumento desde o mês de julho. No caso da pentavelente, já ultrapassou a meta e atingiu 96,67% do público-alvo. A tríplice viral, que protege contra o sarampo, está em 88,62%.O atendimento nas Unidades Regionais de Saúde (URS) é realizado das 8h às 16h30, enquanto nas unidades básicas varia conforme o horário estabelecido nas salas de vacina locais. 

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