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Publicado em 1 de novembro de 2023 às 15:31
No próximo dia 6 de novembro será iniciado o interrogatório de 11 réus — sete pessoas e quatro empresas — denunciados como os responsáveis pela tragédia no Rio Doce, causada pelo rompimento de uma barragem de rejeitos de minério em Minas Gerais que afetou também o Espírito Santo. Os depoimentos serão realizados oito anos após o desastre ambiental, considerado o maior e mais grave já ocorrido no país e um dos maiores do mundo, matando 19 pessoas.>
O rompimento da barragem de Fundão, em 5 novembro de 2015, ocorreu na cidade de Mariana (MG). Na barragem, estavam acumulados rejeitos de minério da empresa Samarco, cujas mantenedoras são a Vale e a BHP Billiton. Segundo informações do Ministério Público Federal (MPF) foram despejados mais de 40 milhões de m³ de rejeitos no Rio Doce e afluentes, devastada área de cerca de 32 mil km², atingindo, direta e indiretamente, 49 municípios situados a partir do local do rompimento, em Mariana (MG), até a foz do Rio Doce, em Linhares (ES), onde alcançou o Oceano Atlântico.>
Entre os réus no processo criminal estão a Samarco, as mantenedoras Vale e a BHP Billiton, e a VogBr Recursos Hídricos e Geotecnia. Confira o calendário dos interrogatórios definidos pela Justiça Federal, de acordo com sentença do dia 28 de setembro deste ano, assinada pela juíza federal Patrícia Alencar Teixeira de Carvalho:>
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Em outubro de 2016, quase um ano após o desastre ambiental, o Ministério Público Federal (MPF) denunciou 21 pessoas físicas, além das empresas, pelos crimes de homicídio qualificado, inundação, desabamento e lesões corporais graves. Houve ainda denúncias por crimes ambientais e apresentação de laudo ambiental falso.>
Um mês depois, a denúncia foi aceita pela Justiça Federal, tornando os denunciados réus em ação penal. A partir de 2018, houve várias decisões judiciais que mudaram o cenário da denúncia, entre as principais está o trancamento da ação penal para todos os réus, o que fez com que nenhum acusado respondesse mais por homicídio e lesões corporais graves. >
Segundo informações do MPF, as 19 mortes resultantes do rompimento da barragem foram consideradas, pelo Tribunal Regional Federal da 1ª região (TRF1), como consequência da inundação causada pelo rompimento. O crime de inundação tem pena de 6 a 12 anos em caso de ação dolosa (crime qualificado pelo resultado morte). >
O processo criminal também ficou parado durante o período pandêmico, por cerca de três anos, o que resultou ainda na prescrição de dois crimes ambientais, segundo o MPF: destruição de plantas de logradouros públicos e propriedades privadas alheias e destruição de florestas ou vegetação fixadora de dunas e protetoras de mangues, respectivamente, artigos 49 e 50 da Lei 9.605/98.>
Em paralelo ao processo criminal, outras ações tramitam na Justiça Federal visando à reparação do dano ambiental causado a diversas comunidades ao longo do Rio Doce, no Espírito Santo e em Minas Gerais. >
Há ainda uma mesa de negociações objetivando um acordo e cuja assinatura final foi agendada pela Justiça para o próximo dia 5 de dezembro. Mas, nesta semana, o Espírito Santo foi surpreendido com uma decisão judicial que suspende a inclusão do Litoral Norte capixaba nas áreas afetadas pelo desastre, o que atinge os municípios localizados entre Serra a Conceição da Barra.>
O governo capixaba já decidiu recorrer contra a medida e adiantou que não assinará o acordo se ela não for revertida, como destacou o procurador-geral do estado, Jasson Hibner Amaral. "O Espírito Santo não cogita assinar um acordo que não repare os danos e prejuízos que a sociedade enfrenta".>
Outra frente de luta por reparação dos danos ambientais está sendo travada na Justiça inglesa, considerando que a sede da BHP Billiton fica em Londres. O processo tramita desde 2018, e foi movido por milhares de atingidos representados pelo escritório Pogust Goodhead. Também integram o processo municípios, empresas e instituições religiosas que alegam ter sido impactados pela tragédia.>
Em nota, a Vale informou que “prestará todos os esclarecimentos necessários por meio de seu representante". Disse ainda que a “companhia reforça que sempre pautou suas atividades por premissas de segurança e seguirá contribuindo com as autoridades.” Já a BHP Billiton disse que, no momento, não vai se manifestar. >
A reportagem de A Gazeta tenta ainda o contato com os advogados dos demais réus e, quando isto ocorrer, este texto será atualizado.>
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