> >
Idosa no ES reencontra irmã que estava desaparecida há mais de 60 anos

Idosa no ES reencontra irmã que estava desaparecida há mais de 60 anos

Cenira Rodrigues, de 75 anos,  foi levada por estranhos para Pernambuco, quando era criança. Foi a insistência do filho dela que proporcionou reencontro

Publicado em 28 de novembro de 2020 às 10:53

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
As irmãs Laura Rodrigues e Cenira Rodrigues se encontram depois de 6 décadas longe
As irmãs Laura Rodrigues e Cenira Rodrigues se encontram depois de seis décadas separadas. (Carlos Alberto Silva)

A troca de carinho entre as irmãs Laura Rodrigues, de 77 anos, e Cenira Rodrigues, 75,  é uma tentativa de acabar com a enorme saudade, após 64 anos sem se ver. Elas estavam separadas por mais de 1.500 quilômetros de distância, sem saber o paradeiro uma da outra, e até já haviam perdido a esperança de se encontrarem.

A cidade natal das irmãs é Barra de São Francisco, no Norte do Espírito Santo, de onde Laura, atualmente moradora de Castelândia, na Serra, viu a irmã mais nova partir. "Minha mãe, meu padrasto e minha irmã, com 12 anos, saíram de Barra de São Francisco para fazer uma viagem até Alegre. Embarcaram em um ônibus até a Estação de Trem na Grande Vitória. Foi quando um casal pediu à minha mãe para levar Cenira para morar com eles e cuidar da casa", contou a aposentada Laura.

Para ganhar a confiança de Cenira, o casal comprou roupas e presentes e a levou dizendo que morariam no Rio de Janeiro, cidade onde a então menina nunca pisou. Ela conta que, na verdade, foi levada para o interior de Pernambuco, onde foi maltratada e abusada sexualmente por anos, até conseguir fugir para a cidade de Caruaru, aos 20 anos. 

O que Cenira não sabia é que estava grávida do primeiro filho, Gilson Rodrigues, hoje com 55 anos. E foi ele, seu primogênito, o responsável por localizar  Laura, no Espírito Santo. 

CARTAS

O pernambucano Gilson cresceu ouvindo a mãe, Cenira, contar sobre a cidade natal e o desejo de rever Laura, a mãe Sebastiana e os outros três irmãos. Aos 20 anos, ele não se conformava em ver a saudade da mãe e nada poder fazer. 

"Ela tinha saudade e eu tinha uma família toda para conhecer, inclusive uma avó. Não havia internet naquela época, então passei a mandar cartas por caminhoneiros que passavam pela minha cidade, Caruaru, para que entregassem em rádios das cidades para onde iriam", lembrou.

Nos relatos escritos à mão, ele descrevia a separação da mãe do resto da família e citava o nome dos tios e os respectivos apelidos, na tentativa de mostrar afinidade e parentesco.  

As irmãs Laura Rodrigues e Cenira Rodrigues se encontram depois de 6 décadas longe
Cenira Rodrigues e o filho Gilson viajaram um dia e meio de ônibus até o Espírito Santo para encontrarem parentes. (Carlos Alberto Silva)

Do Nordeste, por 35 anos, Gilson procurou pelos tios e tias. Já no Espírito Santo, Laura também fazia a parte dela na tentativa de encontrar a irmã, mandando cartas para programas de TV, sem saber que Cenira foi obrigada a mudar o nome para Cemir, o que complicou ainda mais as buscas.

REENCONTRO

Há dois meses, porém, um rapaz de Minas Gerais recebeu o relato de Gilson via site que falava sobre pessoas desaparecidas e conseguiu ajudar. Ele fez buscas pelo nome de Laura no registro do Sistema Único de Saúde, o SUS, e descobriu que uma pessoa com o mesmo nome havia usado o cartão do SUS no município da Serra, no Espírito Santo. 

Não demorou  muito para que o colega de Gilson conseguisse o telefone de Laura. "Meu filho falou 'não atende, mãe, é golpe'. Eu resolvi atender e a pessoa do outro lado falou meu apelido, o nome dos meus irmãos e disse que meu sobrinho me procurava. Eu não sabia nem o que fazer de tão emocionada", conta Laura exibindo um sorriso de orelha a orelha. 

Logo, foi Gilson quem ligou cheio de esperança. Ele passou por um interrogatório via telefone para que, enfim, a tia acreditasse nele. "Minha mãe perguntou sobre os irmãos e chorou muito quando soube que um deles faleceu. Mas, ao mesmo tempo, queria ver a Laura quando soube onde ela morava", contou. 

Depois desse telefonema, nem  mesmo a necessidade de fazer hemodiálise e uma saúde frágil fez com que Cenira permanecesse em Pernambuco . Aos 75 anos, ela e o filho Gilson viajaram de ônibus durante um dia e meio até ao Espírito Santo para realizar um sonho: na madrugada de 26 de novembro, as irmãs se reencontravam. 

"Eu estou contente com tudo. É muito sentimento envolvido. A saudade era grande demais", disse Cenira, ainda cansada da viagem, mas com a carinha feliz pelo reencontro. 

Para quem, em 35 anos,  nunca perdeu a esperança de ver mãe e tia juntas, Gilson descreve a sensação bem emocionado: "Estou satisfeito. Prometi para minha mãe que os encontraria e eu cumpri", disse entre lágrimas. 

Já certa que não quer voltar para Pernambuco, Cenira espera que o irmão, que mora no Rio de janeiro,  encontre com elas até o Natal. "Para mim, é um presente de Natal antecipado ter todos juntos, pena que minha mãe já faleceu", disse Laura de mãos dadas com a irmã, enquanto filhos, sobrinhos, noras e netos riam e choravam ao redor delas, em Castelândia, na Serra. 

Este vídeo pode te interessar

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais