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Publicado em 18 de março de 2022 às 11:23
A fêmea filhote de gato-maracajá, resgatada em Conceição da Barra, Norte do Estado, depois de ser atacada por cachorros e que passou por uma cirurgia nesta quinta (17), em Vitória, morreu nesta sexta-feira (18). Diogo Garnica, médico-veterinário especialista em Ortopedia e Traumatologia animal pela Universidade de São Paulo (USP) e responsável pela cirurgia, disse que o bichinho passou muito bem pelo procedimento, mas que o quadro geral era grave e o felino acabou não resistindo.>
Diogo Garnica explicou que a cirurgia era extremamente complexa. A gata-maracajá tinha um fêmur quebrado, no qual uma placa de titânio precisou ser acoplada. O procedimento foi considerado um sucesso, mas o animal teve cinco paradas cardíacas e acabou morrendo. >
Por se tratar de um animal selvagem, Diogo explicou que a filhote era muito mais sensível do que um gato doméstico. Além disso, o fato de a lesão ter sido grave e por ela ter ficado dias sem alimentação e longe da mãe agravaram o quadro.>
"O resultado havia ficado perfeito, mas o estado geral dela era bem desafiador. Esses bichinhos são tão delicados que, às vezes, só o fato de manipulá-los, eles estressam e acabam tendo reações fisiológicas negativas. É diferente do animal domesticado. Ela tem a cara de um gatinho, mas não é um gatinho domesticado. Todo cuidado é tomado, o animal fica em ambiente protegido, mas a gente não sabe como era a vida antes de ser encontrada. Estava com a mãe, foram perseguidas por cachorros, ela foi mordida, ficou um tempo no mato, sofrendo dores, até ser socorrida, fazer as medicações, estabilizar", relatou Diogo Garnica.>
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Ele ressaltou que, por conta do tamanho do animal - que pesava aproximadamente 600 gramas - o procedimento era tratado como uma microcirurgia. Apesar de ter sido bem sucedido, a gata-maracajá não reagiu bem ao pós-operatório.>
"Está é a parte dolorosa da medicina. Nem todos os pacientes respondem bem aos nossos esforços. Uma equipe composta por anestesista, 2 cirurgiões, 3 auxiliares, médico-veterinário especialista em animais Selvagens, mas, mesmo assim, ela não evoluiu bem", pontuou.>
Diogo Garnica detalhou que sofreu com vários comentários negativos em redes sociais por conta da morte do animal. Ele afirmou que as falas são sem fundamentação e reiterou o empenho que tem em ajudar, de forma voluntária, a salvar mais espécies.>
"Pior é ter que ler os comentários maldosos, depreciativos, sem fundamentação, como estou lendo. Além de conviver com a dor de perder um paciente, temos que conviver com os 'juízes de internet'. Mas Deus sabe de todo nosso amor por eles, do nosso empenho e nossa capacitação pra fazer o que fazemos voluntariamente por esses peludinhos", disse.>
O mestrando em Biologia Animal pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Daniel Gosser Motta, explicou que a espécie Leopardus wiedii é conhecida como "gato-maracajá" ou "gato-peludo". O felino pode chegar a medir 1 metro de comprimento, pesar 5 kg e vive em média por 13 anos.>
Segundo o biólogo, são animais que possuem hábitos noturnos arborícolas, ou seja, vivem em galhos e copas de árvores. Alimentam-se principalmente de pequenos mamíferos, répteis, anfíbios e aves, mas a preferência deles é em caçar nas árvores, devorando majoritariamente saguis e pássaros.>
O animal, porém, corre risco de extinção. E os principais fatores, segundo Daniel Motta, são relacionados à ação humana: a caça e o desmatamento.>
"Ocorrem do norte do México até o Uruguai e, no Brasil, são encontrados principalmente nos biomas da Amazônia e Mata Atlântica. É classificado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) na categoria 'vulnerável' a extinção, principalmente por serem alvos de caçadores, além de sofrerem com a perda de habitat devido ao desmatamento", disse. >
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