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Publicado em 29 de agosto de 2025 às 19:02
Moradias precárias, falta de espaços para atividades culturais e esportivas, baixas perspectivas educacionais e de empregabilidade. Esses são alguns dos desafios da comunidade de Piranema, em Cariacica, que começam a ser enfrentados sob uma nova perspectiva: a da união de poder público, iniciativa privada e dos próprios moradores para transformar a realidade do bairro. A articulação é para a implantação do projeto Favela 3D, da Rede Gerando Falcões, que já impactou milhares de famílias pelo país e, agora, chega ao Espírito Santo. >
Após a identificação da comunidade que seria contemplada e a etapa de planejamento, iniciada no ano passado, nesta sexta-feira (29) o projeto começa a ser efetivamente implantado. As ações passam por três eixos — moradia e urbanismo; geração de renda; e desenvolvimento social — e deverão ser concluídas em dois anos. >
Favela 3D: o que significa
Criado há quatro anos, o projeto desenvolve, em três fases, ações sociais e inovadoras aplicadas em áreas de vulnerabilidade social baseadas nos “3Ds”: desenvolvimento, com atuação social para promover capacitação profissional e garantir acesso à cultura e lazer aos moradores; digitalização, que, entre outras iniciativas, prevê a instalação de pontos com acesso à internet gratuita na comunidade; e dignidade, que proporciona geração de renda para as famílias e melhorias em áreas como moradia e acesso à saúde e à educação.
O mapa de soluções para Piranema pontua as seguintes intervenções:>
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Gilmar Lima dos Santos, CEO da ONG Rede Protagonista que, no Espírito Santo, representa a Rede Gerando Falcões, coordena a implantação do projeto em Piranema e conta que, para chegar a etapa atual, foi feito um diagnóstico das demandas da comunidade com a entrevista de 540 famílias, cerca de 50% das residentes no bairro. Esse levantamento, segundo ele, gerou os dados que subsidiaram o planejamento para as ações do Favela 3D. >
Gilmar Lima dos Santos
CEO da ONG Rede ProtagonistaCom os dados apurados, além do mapa de soluções, outras ações estão programadas dentro do previsto nos três eixos. São intervenções para universalizar a iluminação pública, melhorar moradias em situação precária, construção de casas para famílias que vivem em local inadequado, preparação de jovens para o mercado de trabalho, cursos de qualificação, letramento digital, alfabetização de jovens e adultos, entre outras. >
Para Gilmar, a participação da comunidade é fundamental para o projeto dar certo, tanto na fase inicial, com o diagnóstico dos problemas a serem solucionados, quanto para sustentação da qualidade de vida após as intervenções serem concluídas. Neste caso, um fator determinante, conforme explica Gilmar, é a mentoria oferecida às famílias. >
"Eles atuam como se fossem agentes de saúde, mas são mentores e acompanham as famílias durante toda a jornada. Primeiro, fazem um diagnóstico individual de cada família, com metas, sonhos e, então, o planejamento para que sejam protagonistas no processo. É uma mudança de mentalidade a ser trabalhada para que, quando a gente sair, eles deem continuidade a essa tecnologia implantada", ressalta. >
Gilmar reforça que as ações de governo do Estado e prefeitura, somadas ao investimento de empresas parceiras, também são fundamentais para o sucesso do projeto.>
O vice-governador Ricardo Ferraço destaca que o governo capixaba encampou o projeto por acreditar na necessidade de priorizar um território com muitos desafios sociais, como os apresentados por Piranema, para implantar a tecnologia social da Rede. >
"A gente está desenvolvendo toda essa trilha com essa pegada que une o poder público e a Gerando Falcões para responder a um conjunto de demandas que a gente identificou na comunidade. O grande feito é a forma de construir e de mobilizar todos os atores porque mobiliza vivamente a comunidade, suas lideranças, as famílias", frisa.>
Questionado se o projeto poderá ser levado a outras comunidades, Ricardo afirma que há intenção de expandir, mas, inicialmente, o governo deverá monitorar e avaliar os resultados em Piranema. >
"Mas sabemos que há experiências muito bem-sucedidas em territórios de outros Estados, sobretudo em São Paulo, onde a implantação desse projeto produzir enorme superação da miséria e da pobreza", aponta. >
Para o fundador e CEO da Rede Gerando Falcões, Eduardo Lyra, há um aspecto que precisa ser compreendido diante da realidade de tantas famílias: o contrário de pobreza não é riqueza e, sim, dignidade. >
"Não dá para todo mundo ser rico, mas dá para todo mundo ter uma vida digna no Brasil. As ONGs não conseguem fazer isso sozinhas, o empresário também não consegue fazer isso sozinho e o governo, por mais capacidade que tenha, também não consegue sozinho, porque é difícil. Mas, quando junta todo mundo, aí consegue", ressalta Eduardo, em visita à Rede Gazeta para apresentar o Favela 3D. >
Mas, embora considere a articulação entre diversos entes essencial para o sucesso do projeto, a participação da comunidade é indispensável. >
Eduardo Lyra
Fundador e CEO da Rede Gerando FalcõesO ponto final disso, continua Eduardo, é nascer uma nova favela. Uma favela com muito mais acesso à infraestrutura, saneamento, água potável, iluminação, Wi-Fi, instrumentos de educação, desenvolvimento humano, além de crescer a renda. "Então, é realmente uma favela 3D: digna, digital e desenvolvida.">
O Projeto Favela 3D foi idealizado pela Gerando Falcões, ONG que existe há 13 anos e se mantém por meio de doações e investimentos privados. A instituição atua nas comunidades desde 2012 e já alcançou mais de 5,5 mil favelas e de 740 mil pessoas, segundo dados da organização. Só com o Favela 3D são 4 mil famílias contempladas no país. >
Nesta sexta-feira, o governo do Estado, a Prefeitura de Cariacica, a Rede Gerando Falcões e empresas privadas deram início à implantação efetiva Favela 3D em Piranema, na própria comunidade, aumentando um pouco mais o alcance do projeto. As ações têm apoio da Vale e do Grupo Simec, mas, segundo Eduardo Lyra, ainda há espaço para outros parceiros — até o momento, a organização conseguiu captar cerca de 70% dos recursos necessários para todas as intervenções que vão ser realizadas na comunidade. >
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