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Publicado em 30 de julho de 2023 às 08:25
Desde o ensino fundamental, Gustavo Sily Belloni, 19 anos, e seu avô Chicre Sily Neto, 74 anos, têm uma parceria nos estudos. Ambos conversam sobre o desempenho, relacionamentos dentro da instituição e até participação de projetos. E quando Gustavo entrou na Fucape para cursar Economia, a parceria não mudou muito. Chicre continuou a acolher os papos sobre as atividades, passou a ir aos eventos e ações coletivas na faculdade, mas sempre respeitando os limites do neto.>
Gustavo explica que essa relação é uma atitude bacana e o ajuda a mostrar para o familiar os resultados positivos alcançados na instituição de ensino. É uma forma de corresponder o investimento feito pelo avô.>
Gustavo Sily Belloni, 19 anos
UniversitárioO jovem conta que, na Fucape, onde estuda, existe um programa para conectar estudantes, familiares e professores. "A universidade é uma excelente oportunidade para troca de ideias. E um caminho para o crescimento do diálogo entre mim, meu neto e os outros alunos. Acredito que, nesses eventos, consigo ter uma troca de opiniões sobre os mais diversos aspectos da vida acadêmica e da vida em si. Somos de gerações diferentes e também temos experiências diferentes que precisam ser compartilhadas", aponta Chicre.>
Assim como Gustavo e o avô Chicre, a universitária Jéssica Fernanda Glicério Borges, 20 anos, quando entrou na faculdade, teve o apoio e parceria de sua mãe, a autônoma Maria Santa Glicério, 44 anos. Elas conversam sobre as histórias do dia a dia, como funciona o curso, as matérias e os próximos passos no ensino superior. >
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"Conversei com minha mãe sobre meu desejo de fazer Relações Internacionais e depois Arqueologia no exterior. Ela me apoia e pesquisa para entender ambas as áreas. Não me sinto estranha nem vergonha de tê-la me acompanhando na vida acadêmica", destaca a universitária.>
Apesar dessa participação, ambas também deixam claro que o apoio não pode ultrapassar as linhas da independência de Jéssica. >
“Quando ela entrou na faculdade, foi o dia mais feliz da minha vida, então, só fui uma vez lá (na faculdade), quando fomos fazer a matrícula. Jéssica é desenvolvida e desenrolada, pois, desde que ela era pequena, eu a ensinei a ser independente, a fazer compras, ir ao mercado e andar na rua. Aqui em casa, ela é responsável pela organização das contas de casa”, explicou Maria. >
Maria Santa Glicério e Chicre Sily Neto fazem parte dos familiares que acompanham os filhos na vida escolar, mas não os submetem a uma superproteção. Entretanto há pais que ultrapassam a linha e vão às faculdades para, além de conhecer, resolver problemas sobre notas, matérias e reprovações, interferindo em todos os aspectos da vida do estudante.>
Jéssica Fernanda Glicério Borges, 20 anos
UniversitáriaSegundo instituições no Estado, os pais da nova geração universitária querem acompanhar mais de perto o desempenho dos filhos Por isso, devido às demandas, alguns centros de ensino estão criando ações para facilitar esse diálogo. >
A coordenadora de Psicologia da Estácio, Satina Pimenta, é uma das responsáveis pelo atendimento dos alunos que vão individualmente e acompanhados pelos pais ao Núcleo de Apoio e Atendimento Psicopedagógico (NAAP). >
De acordo com ela, na maioria das vezes, a procura na instituição ocorre antes de os estudantes entrarem na faculdade. Quando é assim, os profissionais acompanham a família e tiram as dúvidas. Mas há situações em que os pais querem intervir nos problemas do filho na faculdade.>
“Já tive um aluno que reprovou ao não conseguir apresentar o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de forma adequada. Os pais foram até NAAP (Núcleo de Acessibilidade e Apoio Psicopedagógico) para tentar passar o aluno. Precisamos sentar e conversar com a família para explicar que era necessário fazer o TCC novamente”, contou.>
A pedagoga do Núcleo de Acolhimento Pedagógico e Desenvolvimento Docente e Discente (Naped) da Emescam, Melayne Benício Azevedo, conta que o maior motivo de os pais entrarem em contato com a faculdade não são as notas ou reprovações, mas a preocupação com a saúde mental dos estudantes. >
“Quando os pais vêm até mim ou outros profissionais com esse pedido, explicamos para eles que temos toda a intenção de ajudar o aluno, contudo, é preciso que ele esteja junto se for maior de idade.”>
A Fucape também tem se adaptado a esse novo momento. Pelo Programa Desenvolvimento Humano Integral (DHI), composto por uma equipe de psicólogos, coordenação da graduação e corpo docente, a faculdade dá apoio aos estudantes e recebe a família sob a autorização quando os estudantes são maiores de idade. >
Com ações coletivas, integração e workshop, a faculdade atende, em média, de 20 a 30 familiares por semestre. Em atendimentos individuais, são recebidas aproximadamente 10 famílias. >
A Faesa também conta com núcleos e coordenações com profissionais preparados para receber tanto alunos quantos os pais que os acompanham. >
“Quando demandam algo à instituição, as famílias são acolhidas de forma personalizada pela coordenação do curso. Entendemos que isso é uma importante parceira no processo de desenvolvimento pessoal e profissional durante a jornada acadêmica dos alunos”, ressalta a Faesa. >
Segundo os profissionais ouvidos pela reportagem de A Gazeta, a interferência de familiares na vida estudantil de filhos na faculdade pode trazer problemas no futuro, mas há casos que esse acompanhamento de perto é relevante.>
Para a pedagoga Melayne, se o aluno passa por dificuldades, a participação da família pode ser importante para esse jovem se encontrar. Mas ela fala que a cobrança quando o estudante está aproveitando o período no curso superior pode ser sufocante. E por isso é importante trabalhar para alertar esses pais superprotetores.>
“Lidamos muito com essa questão de o pai estar do lado do aluno para o crescimento dele, mas esse jovem tem toda condição de crescer, de ganhar maturidade e evoluir sozinho na sua trajetória acadêmica.”>
Após a formação na faculdade, vem a fase de entrada no mercado de trabalho. Os alunos que tiveram os pais ou familiares superprotetores na graduação podem sofrer nessa busca pelo emprego ou mesmo ter dificuldades no trabalho.>
Essa é a avaliação da psicóloga Gisélia Freitas, especialista em Pessoas e Carreiras. A profissional explica que os pais que criam filhos muito dependentes estão formando profissionais hipersensíveis que acabam não desenvolvendo certas habilidades como inteligência emocional e social.>
Gisélia ressalta que a superproteção pode render crises de ansiedade e outros problemas emocionais quando essa pessoa tiver frustrações no mercado de trabalho. É importante, com isso, dar mais autonomia, já pensando no futuro.>
“Primeiramente, os pais precisam estar próximos para apoiar, mostrar opções e não influenciar na decisão. Um exemplo é a escolha da roupa para sair. É a criança e o adolescente que devem decidir como querem se vestir. Se a família sempre escolhe, contribui para que esse filho seja acostumado a ter alguém tomando as decisões por ele.”>
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