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Escolas de Vitória são até 3,5°C mais quentes do que temperaturas das ruas

Escolas de Vitória são até 3,5ºC mais quentes do que temperaturas das ruas

Estudo do MapBiomas e Instituto Alana apontou que a Capital está entre as cinco do país que mais têm escolas com a temperatura média acima da registrada fora da unidade de ensino

Publicado em 18 de fevereiro de 2025 às 12:02

EMEF Éber Louzada Zippinotti conta com ar-condicionado para climatizar sala em Vitória
EMEF Éber Louzada Zippinotti conta com ar-condicionado para climatizar sala em Vitória Crédito: Leonardo Silveira

Com as temperaturas cada vez mais altas, os impactos do calor são cada vez maiores. Uma pesquisa mostrou que em quase metade das escolas públicas e privadas de Vitória, em 2023, a temperatura dentro das salas de aula era até três graus maior do que do lado de fora. A Capital está entre as cinco do país que mais têm escolas com a temperatura média acima da registrada fora da unidade de ensino.

O levantamento feito pelo MapBiomas e Instituto Alana analisou 155 escolas de Vitória. Desse total, 91% registram pelo menos 1ºC acima da temperatura média captada fora da sala de aula.

Em algumas unidades de ensino, a situação é pior. Quase metade das escolas apresenta uma diferença de temperatura ainda maior, de 3,57ºC a mais em relação à média urbana.

A pesquisa apontou que estudar em ambientes assim pode ocasionar prejuízo para os alunos, afetando principalmente o aprendizado.

"As pesquisas também já mostram que um dia de calor é um dia de aprendizado perdido. Porque é muito difícil para as crianças, e não só elas, mas toda a comunidade escolar, os educadores também, se concentrarem. É muito difícil aprender, brincar. As crianças procuram a sombra no recreio, ficam menos ativas"

Maria Isabel de Barros

Especialista em crianças e natureza do Instituto Alana

Em 2024, a temperatura mais alta registrada em Vitória foi de 38 graus, de acordo com a Climatempo. Com a situação apontada pela pesquisa, isso significa que se do lado de fora essa mesma temperatura for registrada, os alunos podem estar em um ambiente de até 41 graus dentro das salas.

Para minimizar o problema, as soluções apresentadas pelo estudo são, principalmente, a introdução de mais áreas verdes próximas às unidades de ensino.

Enquanto nem todas as escolas são contempladas com as mudanças necessárias, os estudantes reclamam do calor.

"Um monte de gente começa a passar mal durante a aula, começa a atrapalhar muito, precisa parar a aula", disse a estudante Steffany de Oliveira, de 11 anos.

A Prefeitura de Vitória disse que foi realizado um estudo mapeando todas as unidades de ensino da rede que serão climatizadas. Acrescentou que pretende climatizar todas as escolas e colocar mais áreas verdes, mas não deu um prazo para isso (confira no final da reportagem).

Já o Sindicato das Empresas Particulares de Ensino do Espírito Santo (Sinepe/ES) informou que as instituições contam com ventiladores e ar-condicionado a fim de proporcionar o bem-estar dos alunos e educadores.

Calor acima da média

Para o estudo, foram utilizadas imagens de satélite de 155 escolas públicas e privadas da educação infantil e ensino fundamental de Vitória, das 161 registradas no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

Das escolas analisadas, 141 unidades tinham pelo menos 1ºC acima da temperatura média do perímetro urbano, o que representa um total de 91% das escolas analisadas.

Com esse resultado, Vitória ocupa o quinto lugar entre as capitais, ficando atrás apenas de Manaus (AM), Macapá (AP), Palmas (TO) e Porto Velho (RO).

E 49,7% das escolas da capital apresentam uma diferença de temperatura ainda maior, de 3,57ºC em relação à média urbana.

O que pode mudar?

A análise avaliou as áreas das escolas como um todo e mapeou que um dos motivos que podem aumentar o calor é a falta de áreas verdes tanto dentro quanto no entorno das unidades de ensino.

A nível nacional, quatro entre dez escolas não têm áreas verdes em seus lotes (37,4%). E a situação se agrava na educação infantil, com 43,5% das escolas com alunos matriculados sem o espaço em contato com a natureza, principalmente em bairros periféricos.

"A gente já sabe que determinadas áreas da cidade têm muito menos praças, parques, arborização e estão muito mais sujeitas a ilhas de calor e risco. Mas a gente queria entender se as escolas reproduzem essa desigualdade na malha urbana ou se elas são infraestruturas públicas que ajudam a diminuir. E a gente encontrou na verdade dados que mostram que essa desigualdade se repete", comentou a especialista.

A pesquisa frisou ainda que o contato com a natureza melhora todos os indicadores de saúde e bem-estar de crianças e adolescentes — como imunidade, memória, sono, estresse, capacidade de aprendizado, sociabilidade e capacidade física.

"Além disso, um novo ponto precisa ser levado em consideração: como o clima mudou, é preciso identificar as escolas mais vulneráveis às ondas de calor, alagamentos, enchentes e deslizamentos e agir para reduzir os riscos e aumentar sua resiliência, uma vez que crianças e adolescentes são justamente as mais afetadas por eventos climáticos extremos", completa Maria Isabel.

Uma das formas de contornar a situação também é adotar o uso de ar-condicionado para as escolas. Esse método já é utilizado pela prefeitura.

O que diz a prefeitura?

A Secretária de Educação de Vitória, Juliana Rohsner, disse que apenas nove escolas tinham refrigeração em 2021 e que, em quatro anos, o número aumentou para 40.

"É uma preocupação que ela vem e o estudo reforça essa necessidade. Nós sabemos que comprar ar condicionado é a parte mais simples da questão. Mas para que ele funcione, você tem que ter uma infraestrutura elétrica que dê conta disso. É o desejo que a gente atinja toda a rede, mas sempre com muita responsabilidade", apontou a secretária.

Ainda segundo a secretária, no mês de janeiro estavam previstas mais cinco ordens de serviços para início das obras de colocação do aparelho em escolas da rede municipal.

Além disso, outras doze unidades estão em fase de elaboração de projeto para que as obras sejam licitadas e iniciadas no decorrer do ano de 2025. Nas unidades que ainda não possuem ar-condicionado, todas as salas de aula estão equipadas com ventiladores de teto.

Já sobre as áreas verdes, a secretária comentou que também busca arborizar as unidades.

"Ao longo dos anos a pedagogia ela foi se reinventando, se reestruturando. Hoje a gente tem uma outra proposta, a ideia do esverdeamento das escolas. Então a gente cuida muito dos quintais, recuperando os espaços que ainda não foram concretados. E a gente tem aberto esses espaços para que as crianças tenham mais contato com a natureza. A gente acredita muito que a criança só vai preservar o que ela ama", finalizou.

*Por Vinícius Colini, Viviane Lopes, g1 ES e TV Gazeta

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