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Em 2020, inclusão de pessoas com deficiência ainda é desafio no ES

Em 2020, inclusão de pessoas com deficiência ainda é desafio no ES

São quase quatro décadas de luta para garantir a inclusão na sociedade e que os direitos das pessoas com deficiência sejam respeitados

Publicado em 21 de setembro de 2020 às 11:18

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Cadeirante
Setembro é considerado o mês oficial da inclusão de pessoas com deficiência. (Jcomp/ Freepik)

O mês de setembro é marcado por diversas campanhas de conscientização, e uma delas é a luta pela inclusão de pessoas com deficiência. Por isso, nesta segunda-feira (21), é celebrado o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência. São quase quatro décadas de luta para garantir a inclusão na sociedade e que os direitos das pessoas com deficiência sejam respeitados.

No Espírito Santo, segundo o dado mais recente do IBGE, referente à Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), de 2013, aproximadamente 133 mil pessoas possuem pelo menos algum tipo de deficiência, seja visual, motora, auditiva ou intelectual. Esses cidadãos ainda enfrentam muitos obstáculos profissionais, educacionais e sociais.

De acordo com a terapeuta ocupacional Luciana Alvarenga, que possui deficiência visual, a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho ainda é bem pequena. Segundo ela, são poucas as empresas que apresentam acessibilidade. Além disso, Luciana ressalta que, diante de um mundo digital cada vez mais avançado, o acesso à Informática é uma das muitas dificuldades encontradas pelas pessoas com deficiência visual no Espírito Santo. “Os cursos de Informática são dados somente para pessoas sem deficiência visual. Nós não temos um projeto ou curso de Informática no Estado que capacite a pessoa com deficiência para o mercado de trabalho, na área de Tecnologia da Informação (TI). Isso é um limitador muito grande”, exemplifica.

Outro ponto levantado por Luciana é a Lei 8213/91 de cotas de contratação para pessoas com deficiência . No Brasil, a lei exige que as empresas com 100 ou mais funcionários devam ter um número mínimo de 2% a 5% de trabalhadores com deficiência. Contudo, há muitas irregularidades. “Ela não é específica. Não diz se tem que ter até 5% de todo o seu quadro pessoal ou se tem que ter 5% de um tipo de vaga e outro não”, expressa Luciana. Quanto à disponibilidade de vagas obrigadas por lei, Luciana diz que são vagas que nunca serão ocupadas pois não são qualificadas para as pessoas com deficiência. “Por exemplo, serviços gerais. Como é que um cadeirante vai se cadastrar em uma vaga de serviços gerais para limpar o banheiro de um shopping? Como é que um cego vai fazer isso?”, questiona.

Numa prova de concurso público, entre os diferenciais para pessoas com deficiência está o ledor. Embora o papel do ledor seja auxiliar a pessoa com deficiência visual ao fazer a leitura do texto, Luciana – que já viveu essa experiência – explica que este dificilmente domina a linguagem a ser transmitida. “O ledor não é uma pessoa que domina o que vai ler. Porque, veja, eu sei disso em braile, mas não sei como é da forma que ele lê”, lamentou.

OUTROS DESAFIOS

Para a pensionista e cadeirante Ana Maria Silva, o preconceito, os problemas com o transporte públicos e os espaços sem acessibilidade também são outros desafios enfrentados pelas pessoas com deficiência. “O preconceito está em todo lugar. Até para pegar um ônibus. Às vezes é o motorista, o cobrador, ou o próprio passageiro que falam ‘lá vem essa pessoa’, ‘já vai vir para atrasar a viagem’, ‘por que não fica em casa?’, coisas desse tipo. As pessoas veem a gente como doentes, não como pessoas ativas”.

Ônibus com acesso para pessoa com deficiência físicos
Algumas rampas de ônibus com acesso para pessoa com deficiência físicos em circulação, encontram-se com defeito . (Lucas Lacaz Ruiz/Folhapress)

Sobre a dificuldade de acesso e mobilidade, Ana acredita que piorou neste momento, em tempos de pandemia. “Os ônibus estão sucateados, as rampas estão com defeito. Eles estão chegando ao ponto de colocar ônibus em circulação sem acesso ao cadeirante”, diz. Já as calçadas das ruas, encontram-se longe da perfeição. “Têm muitas calçadas fora de medidas, nada acessíveis. Às vezes, a gente tem que comprar roupa ou qualquer outra coisa que a gente necessite na porta da loja, porque não podemos entrar”, informa.

INCLUSÃO

Com o objetivo de promover a inclusão social das pessoas cegas e de baixa visão, a União de Cegos Dom Pedro II, em Vila Velha, busca garantir o exercício da cidadania da pessoa com deficiência visual. Dessa forma, há 40 anos, desenvolve atividades gratuitas de atendimento psicológico, serviço social, terapia ocupacional, educação social, artesanato, aula de informática, prática de esporte paralímpica e geração de renda.

Segundo o presidente da União de Cegos Dom Pedro II, Carlos Ajur, a instituição atende pessoas com deficiência visual não só de Vila Velha, mas também de todo o Estado do Espírito Santo. “Hoje atendemos uma quantidade em torno de 120 pessoas, além de Vila Velha vem gente de Guarapari, Aracruz, Nova Venécia, Itaguaçu, Itarana, Baixo Guandu”, aponta.

O presidente considera que, para que haja a inclusão das pessoas com deficiência na sociedade, é necessário o investimento nas políticas públicas. “Na realidade, o que precisa é o poder público desenvolver uma política voltada para essa promoção e inclusão da pessoa com deficiência. Na área do trabalho, educação, saúde”, expõe Ajur.

O Rotary Club de Vila Velha também é um exemplo de serviços humanitários e tem como projeto principal o Banco de Cadeiras de Rodas. “Nós disponibilizamos cadeiras de uso diário e banho para adultos e crianças que são comprovadamente carentes” explica a secretária e tesoureira da instituição, Katia Honorina.

De acordo com a presidente da entidade, Cleusa Madureira, neste ano foram obtidas 28 cadeiras de roda e banho para serem distribuídas. As cadeiras são compradas em São Paulo e o dinheiro é arrecadado por meio de campanhas, rifas, organizações de festas e lacre de latinhas. “A finalidade da gente é ajudar o próximo”, fala.

Em um primeiro momento, o Banco de Cadeiras de Rodas atendia somente a região de Vila Velha. Contudo, “diante da procura, o projeto alcançou os demais municípios do Estado”, conta a secretária da instituição sem fins lucrativos.

Para solicitar a cadeira de rodas juntamente com a cadeira de banho, o interessado precisa entrar em contato com o Rotary Club de Vila Velha. Em seguida, a pessoa recebe o ‘contrato de comodato’ o qual precisa ser preenchido, enviado com uma foto do necessitado e comprovante no laudo médico. “A gente não quer saber de nada, de salário ou trabalho. É único e exclusivamente da pessoa”, esclarece a presidente Cleusa Madureira.

Rotary Club de Vila Velha
A presidente do Rotary Club de Vila Velha, Cleusa Madureira, ao lado de Andréia Coutinho, que recebeu as cadeiras para ajudar a mãe. (Arquivo pessoal)

A mãe de Andréia Coutinho, Adelina Coutinho, foi uma das beneficiadas pelo Rotary Club. Segundo Andréia, a mãe não movimenta as pernas devido o Alzheimer, porém, não tem condições de comprar uma cadeira de rodas e uma de banho. “Foi muito bom ter essa ajuda. A gente é muito grato por isso”, expressa a filha de Adelina.

Para mais informações sobre o projeto Banco de Cadeiras de Rodas, entre em contato com [email protected]

“O NOSSO DIA É TODO DIA”

O Dia Nacional foi instituído por iniciativa de movimentos sociais, em 1982, e oficializado pela Lei Nº 11.133, em 14 de julho de 2005. No entanto, a terapeuta ocupacional Luciana Alvarenga, que tem deficiência visual, afirma que “o nosso dia é todo dia. Assim como dia das mães, dia dos pai e dia da pessoa com deficiência”, ressalta. Luciana acha legal ter um dia que proporcione um momento de reflexão entre as pessoas, entretanto, é preciso ir além e fazer a diferença. Logo, para reverter esta situação de exclusão e preconceito sofrida pelas pessoas com deficiência, recomenda que, antes de tudo, “as pessoas sem deficiência devem se interessar por este tema”, pontua.

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