Vemos a deficiência no indivíduo, mas ela está no meio em que vivemos

"Cada um de nós um dia será deficiente". Esta é uma verdade fundamental que provoca uma reflexão séria e urgente neste mês de setembro, em que se discute a inclusão de pessoas com deficiência

Publicado em 09/09/2019 às 16h30
Mobilidade e deficiência. Crédito: Amarildo
Mobilidade e deficiência. Crédito: Amarildo

Paulo Brandão*

“Cada um de nós um dia será deficiente”. Esta é uma verdade fundamental que provoca, neste mês de setembro, em que se discute a inclusão de pessoas com deficiência, uma reflexão séria e urgente. Seja devido aos acidentes constantes que deixam muitos feridos e mutilados, seja por doenças, seja até mesmo devido à idade. A mobilidade tende a ficar reduzida ou impossibilitada pelos meios adotados e pelo estilo de vida na Grande Vitória. Por isso, a deficiência é uma questão de tempo.

Para o filósofo espanhol Francesqui Aragall, especialista em design, que defende esta tese, precisamos investir mais em sustentabilidade, favorecer os pedestres para que ganhem espaço e reduzir o uso de carros. E quando se faz tudo isso, quando se coloca em prática uma cidade para as pessoas e inclusiva, ela se torna ativa e todos ganham, até o setor econômico acaba sendo favorecido.

Mas para isso é preciso que todo mundo seja incluído, “os idosos, as pessoas com limitações, indivíduos de gêneros diversos, crianças, pessoas adultas”, pois a cidade tem que ser para todos. Ela deve acolher a todos por meio dos seus produtos, serviços e edifícios. Nossas cidades não podem ser feitas só para pessoas ditas “normais”.

Contudo, hoje, não vemos a pessoa com deficiência ocupando o seu lugar em nossas cidades. E até estranhamos quando isso acontece. Só vemos a deficiência no indivíduo; mas ela está no meio social em que vivemos. E entre nós a ideia de deficiência está associada com alguém doente ou fragilizado, com a ausência de um membro, de uma função ou, ainda, de uma limitação intelectual ou mental.

Nessa forma de ver e entender o outro, a pessoa com deficiência se torna invisível enquanto indivíduo que habita a cidade. A produção acelerada, o resultado rápido, os roncos dos motores, a velocidade e as passadas largas de quem tem pressa de chegar, revela uma cidade que não é para todos. Os lentos não cabem neste lugar. Ela produz a deficiência e, ao mesmo tempo, esconde aqueles que deveriam ser vistos.

Mas se todos nós seremos deficientes um dia, a deficiência passa a ser uma característica que define nossa identidade. Somos pessoas em potência de se tornar deficientes. Podemos dizer que a deficiência, neste ponto de vista, é algo que faz parte de uma dada normalidade. Logo os lugares e espaços de convivência devem ser feitos para atender esta normalidade chamada deficiência, o que só poderá ser inclusiva e, portanto, para todos.

*O autor é bacharel em Filosofia

A Gazeta integra o

Saiba mais
mobilidade trânsito

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.