Vivemos um momento de total excepcionalidade em decorrência da pandemia do novo coronavírus, a Covid-19. Medidas impostas pelas autoridades sanitárias e pelos governos, nas diferentes esferas, mudaram radicalmente os comportamentos e a dinâmica da sociedade como forma de prevenção e controle da expansão do vírus.
Tomando a todos com muita preocupação e uma falsa sensação de igualdade frente ao risco, a Covid-19 está escancarando, mais uma vez, as mazelas e as desigualdades sociais do país. Forçado a adotar medidas de distanciamento social e higienização, o Brasil “descobriu” seus desempregados, seus trabalhadores informais e seus cidadãos sem moradia digna, para os quais o impacto do vírus é especialmente dramático. Além disso, pode revelar o colapso da sua política pública de saúde, por anos subfinanciada, que talvez não dê conta dos que dela necessitarem.
Dentro dessa realidade social encontra-se grande parte das famílias de pessoas com deficiência intelectual, forçadas a viverem cotidianamente com todo tipo de carências sociais somadas às barreiras e preconceitos que a sociedade ainda impõe. Por isso, certamente, a Covid-19 não atingirá igualmente a todos e será mais dura com essa minoria.
Historicamente, a luta pela defesa e garantia de direitos das pessoas com deficiência foi pautada pela necessidade de derrubar os muros que submetiam essas pessoas ao confinamento e à segregação, buscando a construção de uma sociedade mais justa, acolhedora e inclusiva, que reconhecesse as diferenças, estimulasse a autonomia e oportunizasse condições distintas para garantir a igualdade. Esse é um caminho que ainda estamos percorrendo.
Diante dessa crise de saúde pública de ordem mundial, alguns preceitos históricos dessa luta estão sendo flexibilizados. Compondo um dos principais grupos de risco e forçados a adotarem as medidas de prevenção impostas pelas autoridades sanitárias, as pessoas com deficiência foram, momentaneamente e por um motivo evidentemente necessário, colocadas novamente no confinamento do isolamento social que por décadas buscou-se derrubar.
Esse entendimento é fundamental para destacar o impacto diferenciado que essas medidas de restrição de circulação e suspensão de serviços causa às pessoas com deficiência, sobretudo as de ordem intelectual. Além disso, tais medidas são quase impossíveis para aqueles que necessitam de apoios constantes.
Diante disso, é um dever da sociedade de um modo geral e, particularmente, das Organizações Sociais como as Apaes, que militam na causa das pessoas com deficiência, falar pelos que muitas vezes não têm voz, encontrar alternativas para preservar os ganhos e direitos já alcançados, garantir a prioridade de atendimento e o reconhecimento da condição de vulnerável que a pessoa com deficiência apresenta diante da calamidade, e minimizar os impactos decorrentes das medidas necessárias de enfrentamento ao vírus, preservando vidas e direitos.
Mesmo diante do imenso desafio imposto pela Covid-19, não podemos permitir que as pessoas com deficiência sejam lançadas novamente na escuridão da invisibilidade.
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O autor é sociólogo e presidente da Federação das Apaes do ES
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