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Covid-19: médicos do ES alertam para o risco do uso de flutamida

Covid-19: médicos do ES alertam para o risco do uso de flutamida

Além de não ter eficácia comprovada, os efeitos colaterais são diversos, como alteração do libido e do humor, disfunção erétil e, usado a longo prazo, até eventos cardiovasculares, como infarto

Publicado em 24 de março de 2021 às 12:01- Atualizado há 3 anos

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Remédio
Representação de flutamida, remédio sem eficácia comprovada para o tratamento de covid-19. . (HeungSoon/Pixabay)

Na busca por um medicamento capaz de curar o paciente da Covid-19,  soluções milagrosas se espalham pelas redes sociais em todo o País. Uma delas é o uso de flutamida, remédio utilizado no tratamento de câncer de próstata com o objetivo de diminuir o risco de proliferação das células cancerígenas.

Médicos capixabas, no entanto, alertam sobre o assunto. Segundo o coordenador de Urologia do Hospital Universitário da Universidade Federal do Espírito Santo (Hucam) e professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Cláudio Ferreira Borges, não existe nenhuma comprovação científica sobre o uso do remédio para o tratamento da Covid-19.

“Todo mundo está muito ansioso e preocupado em fazer um tratamento contra a doença, mas ele ainda não existe. A flutamida é uma medicação utilizada para câncer de próstata disseminado, que age inibindo os receptores de testosterona. Não existe nenhuma publicação científica sobre o uso da substância e o tratamento de Covid-19”, explica.

O médico alerta ainda sobre os efeitos colaterais do remédio, caso seja usado de forma indiscriminada. “Os riscos de automedicação existem. Os efeitos colaterais dessa substância são diversos, como alteração do libido, do humor, disfunção erétil e, a longo prazo, até eventos cardiovasculares, como o infarto. Qualquer remédio que venha a ser usado para o tratamento da Covid-19 deve ser pautado nas recomendações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e das sociedades médicas envolvidas, como a de Infectologia”, destaca.

BOATO PARTIU DE MÉDICO 

A história envolvendo a flutamida surgiu na internet após um médico de São Gabriel, no Rio Grande do Sul, publicar um vídeo que acumulou mais de 40 mil compartilhamentos no Facebook. O profissional de saúde Luiz Maciel Cardoso disse ter recomendado flutamida para seus pacientes e chegou a afirmar que a pandemia seria “vencida” com o remédio.

A eficácia e a segurança da administração do remédio contra infecções pelo novo coronavírus, entretanto, não foram confirmadas pela ciência e o protocolo não tem o respaldo de autoridades de saúde.

O Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers) afirmou em nota que a recomendação do médico é falsa. “Bem como outros fármacos sem comprovada eficácia, o uso do medicamento para outras indicações que não as previstas em bula pode trazer riscos à saúde da população”, informou a entidade.

O Conselho ressaltou ainda que o uso inadequado do medicamento já provocou mortes no início dos anos 2000. De acordo com a bula do remédio disponibilizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a flutamida é recomendada apenas para o tratamento de câncer de próstata avançado e pode provocar efeitos adversos no fígado. A substância também é contraindicada para mulheres.

SEM REMÉDIO

Apesar de a pandemia existir há mais de um ano e da dedicação de toda a comunidade científica para descobrir os impactos da doença no organismo humano, ainda não se sabe um remédio eficiente para curar a covid-19.

A infectologista Jacqueline Oliveira Rueda explica que, assim como a cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina, remédios usados no “Kit Covid-19”, a flutamida não tem nenhuma base científica para ser usada no tratamento contra o vírus. 

“Um médico pode até estar estudando o tratamento para a Covid-19, mas para prescrevê-lo como cura da doença é necessário uma base de estudos publicados em um grupo significativo de pessoas, nos quais os resultados foram semelhantes entre eles, comprovando a eficácia, que não é o caso da flutamida”, explica.

A infectologista acrescenta ainda que a melhor forma de combater a doença é evitar o contágio. “Não existe milagre. Existem as pessoas que negam o básico, que é a vacina, a higienização das mãos e o distanciamento social com a ilusão de que um comprimido vai curá-los da doença. Não vai. Um médico não pode ser proibido de prescrever esse medicamento, mas deve deixar o paciente ciente da sua ineficácia e possíveis efeitos colaterais”, acrescenta.

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