Publicado em 20 de maio de 2020 às 11:03
Um pequeno aumento na interação social, seja com a reabertura do comércio, a volta às aulas, ou até com caminhadas no calçadão, praias e ruas, já é o suficiente para aumentar o número de mortes e de pessoas hospitalizadas pelo novo coronavírus. Pesquisa capixaba aponta que um crescimento de 10% na ampliação do convívio, por exemplo, pode provocar um aumento de 30,6% no número de mortes pela doença. >
O estudo é do Núcleo Interinstitucional de Estudos Epidemiológicos (NIEE), formado por pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) e considera, dentre outras variáveis para o cálculo, o número de casos e mortes que foram confirmados por intermédio de exames.>
Os cenários projetados foram feitos em 15 de abril, quando já era possível ter mais informações sobre casos da doença, indo até o dia 15 de maio. Para este dia foi projetado um total de 193 mortes em quatro municípios da Grande Vitória: Vitória, Serra, Vila Velha e Cariacica. Juntos eles respondem a 76% dos casos/mortes de Covid-19 no Estado.>
A projeção em 15 de abril era de que em 15 de maio, se houvesse 5% de interação social, o número de mortes subiria para 221, um acréscimo de 14,5%. Com 10% a mais de convívio, teríamos 252 óbitos, um aumento de 30,6%. >
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A realidade acompanhou a projeção. No dia 15 de maio, ocorreram 290 mortes por Covid-19 em todo o Estado, 220 delas em quatro municípios da Grande Vitória. Se a interação social tivesse aumentado em 10% neste dia teríamos, nos quatro municípios, 252 casos, quase o total registrado no Estado, que foi de 290, explica Pablo Lira, doutor em Geografia, mestre em Arquitetura e Urbanismo, pesquisador do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) e membro do NIEE.>
Os cálculos foram feitos já sob os reflexos das medidas adotadas por volta da segunda quinzena de março, com suspensão de aulas presenciais, a redução das atividades comerciais e proibição de aglomeração. Posteriormente teve-se a retomada das atividades comerciais, seguindo um protocolo de reabertura.>
Um outro cenário, com projeções de casos para até o próximo dia 30, inclui outra variável no cálculo: a taxa de letalidade de doença. Foi considerada a taxa de 2,81%, registrada no dia 21/04 no Estado, e a 4,2%, registrada no Brasil no dia 04/04.>
Pode-se observar que no final de maio, a variação do número de mortes é de 31,9% (de 248 para 327), considerando a taxa de 2,81%, ou um aumento de 32,16% (370 para 489), considerando a taxa de letalidade de 4,2%. >
A comparação entre o melhor e o pior cenário da tabela gera uma diferença de 97,2% no número de mortos (de 248 para 489), diz o texto do estudo. >
Vale destacar que este cenário foi projetado para os quatro municípios da Grande Vitória. No cenário da mortalidade de 2,81%, com 10% de interação, onde seriam registrados 327 mortes nos quatro municípios, em todo o Estado seria registrado um total de 430 óbitos.>
Outro impacto do aumento da interação social foi analisado em relação ao número de pessoas que vão precisar de hospitalização em decorrência da doença. A partir do dia 15 de abril foi projetado um cenário do dia mais crítico, com um maior número de casos.>
A avaliação foi feita para o dia 5 de maio, quando se teria 390 hospitalizados. Com uma interação social no período de 5%, o número passaria para 476, um crescimento de 22% em um dia crítico. O aumento de 10% na interação resultaria em mais pessoas internadas, um total de 576, com o dia crítico ocorrendo desta vez no dia 6 de maio, refletindo um crescimento de 48% nos hospitalizados.>
Segundo Lira, este é um cenário em que se projeta poucos dias a frente, no máximo 15 dias. O que se observou, disse, é que este pico de dias críticos se deslocou para a segunda semana de maio. Com isto, o gráfico já não mostra o declínio apresentado no dia 15 deste mês.>
Outro ponto, segundo Lira, é que mesmo com a retomada das atividades comerciais, seguindo um protocolo de reabertura, não houve um aumento significativo na interação social. Ela estava em 46% e ficou, após a retomada parcial das atividades, em 47%. "Mas se as aulas presenciais tivessem sido retomadas, com mais trânsito, congestionamento, provavelmente a interação teria sido maior, explicou.>
O pesquisador destaca que até que seja desenvolvida uma vacina contra a doença, o que se constata é que o mais eficiente é o isolamento social. Combinado com ações de uso de máscaras, distanciamento social, sem aulas presenciais, comércio seguindo o protocolo, sem lojas lotadas, respeitando a metragem de segurança e a etiqueta respiratória. >
Os estudos feitos pelo NIEE ajudam o governo estadual a entender o comportamento da doença e ainda permitem a adoção de medidas em relação ao isolamento social.>
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