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Clarinha é enterrada no ES após internação por 24 anos: "História segue aberta"

Clarinha é enterrada no ES após internação por 24 anos: "História segue aberta"

Coronel Jorge Potratz, que cuidou da paciente, estava emocionado na despedida. Cerimônia reuniu funcionários e ex-funcionários do hospital onde ficou, em Vitória. Enterro aconteceu às 13h45

Publicado em 14 de maio de 2024 às 15:33

Coronel Jorge Potratz, que cuidou da paciente, estava emocionado na despedida

Dois meses após a morte de Clarinha, a paciente não identificada que ficou 24 anos internada em coma em um hospital em Vitória foi sepultada e enterrada nesta terça-feira (14). "Dá um alívio muito grande poder terminar esse capítulo, permitir que o espírito dela possa descansar de maneira digna. O ciclo agora vai se fechar, mas a história dela segue aberta", disse Coronel Jorge Potratz, médico responsável pelos principais cuidados durante o período.

O corpo de Clarinha foi enterrado no Cemitério Municipal de Maruípe, em Vitória, às 13h45. Cerimônia aconteceu desde o início da manhã e reuniu funcionários e ex-funcionários do hospital onde ela ficou ao longo desses anos. No local, duas coroas de flores colocadas sobre o corpo marcaram o fim do sepultamento. "Procurei a vida inteira a família dela e chego à conclusão hoje de que nós constituímos a família dela", disse o coronel Potratz.

A lápide ainda vai ser feita. A ideia é que tenha apenas o nome Clarinha, uma foto pequena e um versículo da Bíblia, que ainda não foi escolhido.

O velório de Clarinha começou às 8h, em Santa Lúcia, na capital. Ao longo da manhã, funcionários e ex-funcionários do Hospital da Polícia Militar (HPM) se revezaram em seu momento de homenagem e despedida.

Despedida de Clarinha, paciente misteriosa que ficou em coma durante 24 anos no HPM
Pétalas foram lançadas sobre o caixão de Clarinha, que ficou nacionalmente conhecida como a paciente misteriosa do ES Crédito: Fernando Madeira

Por volta das 10h, aconteceu a leitura de um poema por uma ex-funcionária da Enfermagem do hospital que ainda hoje atua no serviço de capelania e seguiu visitando a Clarinha até os últimos momentos.

Às 12h40, teve início a cerimônia de encerramento do velório, momento de emoção para todos os presentes. O coronel Potratz fez uma fala agradecendo a presença de todos, o apoio para o sepultamento, lembrou momentos da Clarinha. Um carta de despedida foi lida, ao som de um violino.

Despedida de Clarinha, paciente misteriosa que ficou 24 anos em coma no HPM
O médico  Jorge Potratz se emocionou no velório de Clarinha; ele cuidou dela por mais de 20 anos no HPM, em Vitória Crédito: Fernando Madeira

Em seguida, os amigos puderam se despedir uma última vez. Neste momento, Potratz - o responsável legal por ela e que cuidou da paciente por vários anos - colocou gentilmente uma rosa branca sobre as mãos de Clarinha. A urna foi fechada às 13h e seguiu para o Cemitério de Maruípe, também em Vitória. Além de Potratz, estiveram no velório e enterro parentes do médico.

Enfermeiras se aproximaram da urna para despedida e orações. Uma ex-funcionária fez a leitura de um poema em homenagem à paciente. A papiloscopista da Polícia Federal, Carolini Checon, também foi à despedida de Clarinha.

"Durante anos, a gente tentou auxiliar no trabalho de identificação da Clarinha, comparando as digitais de pessoas desaparecidas com as parciais que a gente conseguia coletar . A pele de Clarinha era muito fininha, a gente recebia ajuda das enfermeiras, era tudo feito com muito cuidado. Depois de tantos anos, não poderia deixar de vir para essa despedida"

Carolini Checon

Papiloscopista da Polícia Federal

Velório marcado por emoção

Durante o velório, o Coronel reforçou ao g1 que sempre quis dar um enterro digno à Clarinha.

"Não imaginava que seria assim, está além das minhas expectativas, isso está me confortando. Ela vai seguir o caminho dela, espiritual. Pra mim, mesmo que ela seja identificada agora ou em algum momento futuro, sempre vai ser a eterna Clarinha", disse emocionado.

Clarinha: paciente misteriosa que ficou em coma por 24 anos é enterrada no ES por Fernando Madeira

O Coronel, que acompanhou a vida da paciente por mais de duas décadas, disse que conseguiu colaborar com a dignidade de velório e enterro.

"Hoje, pra mim, é um dia de muita tristeza, por a gente não ter conseguido devolver ela pra família dela, mas também uma alegria por estar dando a ela essa dignidade final"

Jorge Potratz

Coronel que cuidou de Clarinha

"O sentimento de não poder ter concluído a história como eu gostaria que fosse, me pega principalmente porque ela pode ter um filho. Ela chegou pra nós uma menina, devia ter uma criança de no máximo dois anos. É alguém que não se sabe que história tem, onde foi parar, como foi criada. O ciclo agora vai se fechar, mas a história dela segue aberta e eu ainda tenho esperança de que algum dia, ainda vai acontecer alguma coisa. Eu não desisti, Deus comanda tudo. No momento certo vai acontecer e se eu tiver que saber dessa história só do outro lado da vida, eu vou saber aguardar", refletiu o médico.

Preparação do corpo

O corpo da Clarinha foi retirado do DML nesta segunda-feira (13) e seguiu para o laboratório da empresa funerária para passar pelo processo de tanatopraxia antes do velório. Cerca de quatro profissionais se dedicaram a esse trabalho, que incluiu tratamento, higienização e embelezamento.

Coronel Potratz pediu que uma técnica de Enfermagem do HPM, que também cuidou da paciente, conhecia seu tamanho e principais características, comprasse um vestido branco para a ocasião. Ao saber para quem era o vestido, a loja nem cobrou pelo item.

Clarinha foi mãe

Clarinha foi atropelada no Dia dos Namorados, em 12 de junho de 2000, no Centro de Vitória. A mulher foi socorrida por uma ambulância, mas não possuía documentos, chegou ao hospital já desacordada e sem ser identificada.

Inicialmente, Clarinha foi levada para o Hospital São Lucas. Um ano depois, foi transferida para o Hospital da Polícia Militar, também na capital, onde permaneceu até o final da vida. O coma da paciente era considerado elevado, ela nunca esteve lúcida ou houve qualquer tipo de comunicação consciente com a equipe médica.

Despedida de Clarinha, paciente misteriosa que ficou em coma durante 24 anos no HPM
Muitas mensagens e coroas de flores foram destinadas à Clarinha no sepultamento Crédito: Fernando Madeira

Além do nome, nunca houve informações sobre idade, local onde morava e se tinha parentes no Espírito Santo ou em outro estado.

Desde o primeiro momento, a equipe médica teve esperança de encontrar algum parente ou até filho de Clarinha, já que ela tinha uma cicatriz de cesariana, mas isso não aconteceu. A estimativa é que, em 2024, Clarinha tivesse entre 40 e 50 anos.

Com informações do g1 Espírito Santo

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