O casal do Espírito Santo suspeito de envolvimento no esquema de desvio de remédios roubados de hospitais e centros de distribuição de órgãos públicos de Campinas, no Estado de São Paulo, é considerado foragido da Justiça, segundo o delegado Elton Costa, responsável pelas investigações em São Paulo.
Gleidson Lopes e Julianna Ritter Lopes são apontados como receptadores no grupo que chegou a desviar mais de R$ 1,1 milhão em medicamentos de alto custo para o tratamento de câncer.
No fim de abril, a Justiça paulista emitiu os mandados de prisão para o casal, que mantém residência na Serra. Nesta terça-feira (14), a reportagem de A Gazeta confirmou que Gleidson e Julianna ainda não se apresentaram nem foram encontrados pelas autoridades.
Elton Costa explica que o inquérito policial apontou o envolvimento criminoso do casal do Espírito Santo. “Desde o início, tínhamos a certeza da participação deles e isso se comprovou com a continuidade das investigações”, explica.
De acordo com o delegado, a investigação também busca esclarecer se, no Espírito Santo, há o envolvimento de mais pessoas no esquema.
“Até aqui, nossa investigação já apontou que eles repassavam esses remédios para clínicas do Rio de Janeiro, do Espírito Santo e, inclusive, para uma clínica que está registrada no nome do irmão de Julianna. Há de se entender que ainda é preciso cogitar a possibilidade de essas outras pessoas terem sido enganadas pela quadrilha, já que eles mentiam sobre a procedência dos remédios”, destaca Elton.
O delegado ainda informa que Gleidson e Julianna não se apresentaram para nenhum tipo de colaboração com as investigações desde o início da divulgação do caso.
À época, para a reportagem de A Gazeta, o delegado responsável pelo caso afirmou que o grupo poderia responder por crimes como peculato, lavagem de dinheiro, crime contra a saúde pública e receptação. Por sua vez, a defesa de Gleidson e de Julianna afirmava que o casal não tinha total conhecimento sobre os atos ilícitos.
Agora, com seus clientes foragidos da Justiça, o advogado Danilo Bueno informou que chegou a solicitar habeas corpus para Gleidson e Juliana. Entretanto, o pedido foi negado.
"Nós impetramos dois habeas corpus no Tribunal de Justiça de São Paulo, sendo um para Gleidson e outro para a Julianna, e a liminar foi negada nesta terça-feira (14)", disse o advogado.
Segundo a Polícia Civil do Espírito Santo (PCES), como os mandados de prisão para o casal já foram expedidos pela Justiça, qualquer agência de segurança pode cumprir a prisão.
"O Disque-Denúncia 181 é a melhor forma da população auxiliar a polícia com informações que levem à prisão de criminosos. O anonimato é garantido e todas as informações são investigadas. O DD 181 também possui um site onde é possível anexar imagens e vídeos de ações criminosas: disquedenuncia181.es.gov.br", divulgou a PC.
Em janeiro deste ano, o "Fantástico", da TV Globo, detalhou como o esquema funcionava. Os medicamentos, comprados com dinheiro público e voltados para o tratamento de câncer, eram furtados da farmácia judicial de Campinas (SP).
Após o desvio, os medicamentos, que chegavam a custar até R$ 22 mil por ampola, eram enviados para o Aeroporto de Vitória por meio de empresas de logística, saindo do Aeroporto de Viracopos, em Campinas. Em apenas um dos furtos, o esquema chegou a movimentar mais de R$ 1,1 milhão em remédios, quando 79 caixas foram extraviadas.
Em dezembro de 2023, o esquema começou a ser investigado após uma diretora do Departamento Regional de Saúde de Campinas procurar a Polícia Civil de São Paulo para relatar o desaparecimento de 79 caixas de medicamentos da unidade.
O remédio em questão era o Pembrolizumabe 25mg/ml, que, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), é utilizado no tratamento de diversos tipos de câncer. Na época, o furto totalizou um prejuízo de R$ 1.137.706,65 aos cofres públicos.
Com a investigação, a polícia descobriu que um servidor, identificado como José Carlos dos Santos, era o responsável por desviar os remédios do estoque. Já Gabriela Carvalho, enteada de José Carlos, despachava os medicamentos no aeroporto com o auxílio do marido Michael Carvalho, apontado como o chefe da organização e responsável por tratar a venda dos remédios.
Maria do Socorro, esposa de José Carlos, usava suas contas bancárias para movimentar o dinheiro oriundo da venda ilegal. No telefone de Maria, foram encontrados vários comprovantes de transferência para Julianna Ritter e para a empresa na qual ela é sócia.
José Carlos, Maria do Socorro e Gabriela foram presos e seguem sob custódia pela polícia de São Paulo desde o início do ano. Michael ainda não foi encontrado.
De acordo com as autoridades, um servidor público da farmácia judicial do Departamento Regional de Saúde (DRS) de Campinas, identificado como José Carlos dos Santos, era o responsável por retirar os remédios das instalações do órgão, fazendo o uso de uma mochila e de caixas de isopor, já que alguns medicamentos carecem de refrigeração constante.
Maria do Socorro, esposa de José Carlos, era a responsável por intermediar transações financeiras e repassar ao marido a lista de remédios que deveriam ser desviados, conforme as autoridades explicam. Segundo a investigação, o esquema era comandado por Michael Carvalho, genro de José Carlos e Maria do Socorro, que era o responsável por anunciar os medicamentos na internet.
Michael é casado com Gabriella Carvalho, filha de Maria do Socorro. A mulher é suspeita de despachar as encomendas por meio de empresas de logística. Para não chamar atenção de órgãos de fiscalização, o grupo declarava que as encomendas eram doações, já que não tinham nota fiscal.
De acordo com a Polícia Civil de São Paulo, o destino das encomendas era o Espírito Santo. Chegando ao Aeroporto de Vitória, os medicamentos furtados eram receptados por Gleidson Lopes Soares e Julianna Ritter, de acordo com a polícia. O casal de empresários era responsável por uma ONG da Serra, identificada como "Projeto Coração Amigo", que faz a manutenção de cadeiras de rodas para pessoas com dificuldade de locomoção. Julianna e Gleidson também são sócios da empresa Saúde e Vida Comércio e Representações, que vende produtos hospitalares.
Julianna e Gleidson são suspeitos de vender os remédios do SUS no Espírito Santo, como a defesa do casal afirmou à reportagem de A Gazeta. Agora, a Polícia Civil de São Paulo pretende investigar os compradores que mantinham contato com o casal em solo capixaba para entender o destino dos medicamentos.
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