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Ave rara que existe apenas no ES está em risco extremo de extinção

Ave rara que existe apenas no ES está em risco extremo de extinção

Com apenas 11 exemplares identificados e somente em áreas elevadas de Santa Teresa e Vargem Alta, na Região Serrana, pesquisadores definem estratégias para conservar a espécie e reproduzi-la em cativeiro

Publicado em 19 de abril de 2021 às 16:41

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A Saíra-Apunhalada tem este nome devido à penagem avermelhada abaixo do pescoço e no peito. (Gustavo Magnano/Instituto Marcos Daniel)

A Região Serrana capixaba concentra muitas riquezas naturais. E é nesta área mais elevada do Estado que vive uma raridade: a Saíra-Apunhalada – ave endêmica do Estado que conta com apenas 11 exemplares identificados em todo o mundo. Nas palavras do veterinário Marcelo Renan de Deus Santos, trata-se de um "diamante único" que o Estado corre um risco iminente de ver extinta. Atualmente, esse pássaro raro existe apenas no Espírito Santo.

Ave rara que existe apenas no ES está em risco extremo de extinção

Marcelo é o coordenador-geral do Programa de Conservação da Saíra-Apunhalada, que visa manter viva a espécie, uma das mais ameaçadas em todo o planeta. Ela é uma das que encabeçam a lista de cerca de 1,7 mil espécies apenas do Brasil que podem desaparecer em um futuro próximo.

"Trata-se de uma ave pequena, do tamanho próximo de um pardal e que existe apenas nas áreas mais elevadas da região montanhosa do Estado, acima dos 800 metros de altitude. No início de 2020, grupo de pesquisadores se dividiram nas cidades desta região e por meio do cruzamento de estudos matemáticos com o que foi encontrado em campo, identificamos pouquíssimos exemplares na natureza. É uma situação de risco extremo de desaparecimento caso nenhuma atitude seja feita. Quando uma espécie é extinta, as consequências vão muito além do desaparecimento daquele animal especificamente", pontuou o veterinário.

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A Saíra-Apunhalada se reproduz apenas uma vez ao ano e a fêmea coloca de 2 a 3 ovos a cada ciclos de postura. (Gustavo Magnano/Instituto Marcos Daniel)

Segundo o especialista, que estuda a espécie desde 2015, a ave tem este nome devido à coloração avermelhada na parte abaixo do pescoço e no peito, e ocorre de ser confundida com o cardial. Este, porém, tem a coloração vermelha na cabeça, diferente do tom escuro da Saira.

PERDA DO HABITAT

Segundo o coordenador do projeto, as duas regiões onde ocorreram os registros da espécie foram nas cidades de Santa Teresa, na Reserva Biológica Augusto Ruschi, e em uma área pequena da Mata de Caetés, em Vargem Alta, em uma região limítrofe com outras cidades. Com a identificação dos raros exemplares, Marcelo, com outros pesquisadores, realizam uma oficina virtual iniciada no último dia 16 para traçar um plano de ação e avaliação de estratégias de manutenção da ave.

11 exemplares na natureza
A espécie está ameaçadíssima e só existe no ES

"Ocorre que com a perda do habitat, a Saíra-Apunhalada foi sobrevivendo em áreas cada vez menores e isoladas. A ocupação das partes mais baixas da Mata Atlântica forçou a espécie a se abrigar nas extremidades. Além e por conta disso, o cruzamento foi ficando muito próximo e naturalmente ocorre um enfraquecimento dos bichos. Some a isso o uso de agrotóxicos que diminuem a fonte de alimentos e se chega ao quadro crítico atual", ponderou o especialista.

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O veterinário Marcelo Renan de Deus Santos é coordenador do Programa de Conservação do Saíra-Apunhalada. (Arquivo pessoal)

Participam da oficina pesquisadores dos Estados Unidos, Bélgica, Costa Rica, Inglaterra, país de Gales e Alemanha. São cerca de 50 pessoas debruçadas em garantir a manutenção da espécie ameaçadíssima de extinção. De acordo com Marcelo, até o próximo fim de semana o grupo pretende já ter em mão as diretrizes a serem adotadas.

REPRODUÇÃO EM CATIVEIRO

Uma das esperanças é a possibilidade de fazer com que a espécie se reproduza longe da natureza, como já ocorre com outros animais. Este cenário, renova as esperanças para que a ave saia da lista crítica, mas precisa ser colocado logo em prática.

"A reprodução assistida é um caminho, porém é uma espécie pouco conhecida pelos pesquisadores. Pouco se estudou até aqui sobre ela, pois a incidência dela é muito baixa. São poucos ninhos na natureza, a postura da fêmea ocorre uma vez ao ano e com poucos ovos. Ainda ocorre a predação natural por outros bichos, como tucanos e macacos e assim a quantidade não cresce. Mas com a confecção deste relatório, teremos em mão as ações que devem ser colocadas em prática pelas autoridades como Ibama, ICMbio, sociedade civil e todos os setores envolvidos", pontuou.

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A espécie é pequena, similar ao tamanho de um pardal e viu sua população ser praticamente extinta devido à perda do habitat (Mata Atlântica). (Gustavo Magnano/Instituto Marcos Daniel)

CURIOSIDADE

A primeira identificação que se tem da espécie é datada de 1870, mas na cidade mineira de Muriaé. Este registro, entretanto, é contestado pelo veterinário referência sobre a Saíra-Apunhalada.

"É bem provável que esta ave tenha sido capturada no Espírito Santo e levada para Muriaé. Na verdade, deve ter sido mesmo aqui no Estado. De 1870 até hoje, a geografia dos municípios mudou muito então as chances dela ter sido capturada no nosso ES são grandes. O que podemos afirmar é que esta espécie só ocorre no Espírito Santo, é única daqui", concluiu.

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A Saíra-Apunhalada (Nemosia rourei) é uma espécie de extrema raridade e restrita a matas bem preservadas. Endêmica da Mata Atlântica brasileira (e provavelmente do Espírito Santo), essa espécie é listada como Criticamente Ameaçada de extinção e permaneceu desaparecida por mais de 50 anos.

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