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Após se curarem da Covid-19, pacientes no ES têm perda de memória

Após se curarem da Covid-19, pacientes no ES têm perda de memória

Essa é uma das sequelas mais comuns identificadas por médicos em pacientes que desenvolvem a forma grave da doença e chegam a ficar internados. Eles também costumam ter insuficiência renal e alterações de humor

Publicado em 22 de junho de 2020 às 11:15

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Exame cerebral é realizado em hospital
Exame cerebral é realizado em hospital. (Shutterstock)

Com os primeiros registros oficiais em dezembro de 2019, na China, a Covid-19 é considerada uma doença nova não só para a população, mas também para a classe médica e  para os cientistas. Os resultados de pesquisas sobre os efeitos do novo coronavírus no corpo surgem paralelamente aos números crescentes de pessoas curadas e de mortos pela enfermidade. 

Entre os que sobrevivem à doença, há os que precisam continuar tratando outros problemas de saúde provocados pelo novo vírus. Segundo médicos que acompanham pacientes no Espírito Santo, o quadro clínico varia muito de pessoa para pessoa, mas algumas sequelas costumas ser mais frequentes em pacientes que sobreviveram ao estágio mais grave da doença.

As principais são: doenças crônicas no coração e no pulmão, insuficiência renal, falta de olfato, alteração de humor e perda de memória e da força muscular, sendo que algumas sequelas da Covid-19 são passageiras, enquanto outras podem perdurar ao longo dos anos. 

Segundo os médicos, o  órgão mais afetado é o pulmão. "Entre 20% e 30% dos infectados que ficam entubados precisam de oxigênio domiciliar por  causa da fibrose pulmonar, uma doença que reduz a expansão do pulmão e que pode trazer impacto para as pessoas no dia a dia", explicou Enrico Stucchi, diretor-técnico do Hospital Evangélico de Vila Velha.

Stucchi afima que o coronavírus provoca o que a classe médica chama de "tempestade inflamatória",  que é a inflamação de vários órgãos do corpo ao mesmo tempo.  

"Por isso há sintomas neurológicos, como perda de memória, alteração de humor, perda de olfato. Já sabemos que outras síndromes respiratórias agudas graves podem deixar lesões cerebrais e também sequelas crônicas. Muitos estão relacionados ao comprometimento pulmonar, pois mesmo com a ventilação mecânica do paciente, nem sempre se consegue ofertar a quantidade suficiente de oxigênio, o que pode causar danos neurais e cerebrais", pontuou.

A infecção causada pela Covid-19 também pode atingir os rins, chegando a trazer  insuficiência renal. Inicialmente, três meses realizando diálise são suficientes para retomar o funcionamento dos órgãos, podendo  o corpo todo se recuperar.  

Outra consequência  tem sido a flacidez muscular. "Esses pacientes que ficaram internados na UTI perdem massa magra e musculatura, necessitando de um  trabalho de reabilitação", explicou.

Entenda a diferença entre isquemia e infarto
Entenda a diferença entre isquemia e infarto. (Pixabay)

CORAÇÃO

A cardiologista da Rede Meridional, Fernanda Bento,  lida com pacientes que tiveram a infecção da Covid-19 e explica que, mesmo curados, eles têm apresentado mais cansaço e dores no peito. "A Covid-19 pode descompensar as doenças cardíacas, pois gera uma grande inflamação no organismo", afirmou.

Uma dessas sequelas é a miocardite, que é inflamação do músculo do coração, responsável pela contração do órgão. A doença provocada pelo coronavírus pode prejudicar a ação de bombeamento do sangue, provocando arritmias e insuficiência cardíaca.

 "Não tem como prevenir esse quadro quando o estado de saúde do paciente é grave.  Após a cura da Covid, a doença que fica pode ser resolvida com tratamentos, mas também pode ser  irreversível, podendo perdurar pelo resto da vida", explicou Fernanda.

Kátia Fonseca, que integra a Sociedade Brasileira de Cardiologia, chama a atenção para pacientes que foram internados com infarto ou AVC devido  ao quadro grave de Covid-19.  "Quando investigamos, percebemos que não são gorduras nas artérias, mas sim o processo inflamatório da Covid-19 que acarreta coágulos no sangue. Outro acometimento é a inflamação do músculo do coração - miocardite - e  insuficiência cardíaca, sendo que esta última leva à diminuição do bombeamento do coração", contou.   

A cardiologista também tem encontrado casos de arritmia em quem já teve a Covid. "Essas patologias podem fazer com que os pacientes tenham que fazer uso de medicamentos por longa data ou talvez por toda vida", explica. 

Pulmão
Pulmão. (kalhh/Pixabay)

PULMÃO

Por se tratar de uma síndrome respiratória, o órgão  mais afetado por quem viveu o estágio grave da Covid-19 e se curou é, sem dúvidas, o pulmão. O médico Rafael Martins, presidente da Sociedade de Pneumologia do Espírito Santo, afirma que a fibrose pulmonar pode aparecer em quem testou positivo para o vírus. 

"O pulmão é como uma bola de encher, possui capacidade elástica muito grande. A fibrose reduz essa capacidade de extensão do órgão, o que dificulta a oxigenação. O ar não é totalmente aproveitado", detalha. 

O pneumologista explica que os efeitos de curta ou longa duração dependem da espaço afetado pela fibrose. "Uma área pequena do pulmão vai ter pouca repercussão. Uma área grande gerará uma  fibrose crônica, onde o indivíduo terá  falta de ar ao caminhar, fazer atividades leves  e até mesmo em repouso", completou Rafael Martins. 

Por ainda vivermos a pandemia, não é possível saber exatamente quem pode ter complicações da Covid-19, já que os casos graves não têm se apresentado somente em grupos de riscos. "Ainda não temos estudos, não sabemos os perfis dos que vão ou não ter um quadro mais grave, e quais serão as complicações decorrentes das tempestades inflamatórias",  afirma Enrico Stucchi. 

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